Ibovespa cai e dólar sobe a R$ 5,27 com aversão ao risco e piora do cenário fiscal

Perspectivas de que o Fed deve levar mais tempo para cortar os juros e instabilidade geopolítica impulsionaram a busca por ativos seguros, pressionando o real; no Brasil, meta fiscal indica piora na trajetória da dívida

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16 de Abril, 2024 | 05:44 PM

Bloomberg Línea — A aversão ao risco no mercado internacional e preocupações com o equilíbrio fiscal no Brasil prejudicaram o desempenho dos ativos brasileiros nesta terça-feira (16), levando o Ibovespa (IBOV) ao sexto dia consecutivo de perdas.

O principal índice da bolsa brasileira recuou 0,75%, aos 124.389 pontos, atingindo o menor patamar de fechamento em 2024. O dólar (USDBRL) subia 1,71% e era negociado a R$ 5,27 no fechamento, depois de ter atingido R$ 5,29 na máxima do dia.

Investidores repercutiram a visão de que o Federal Reserve (Fed) deve levar mais tempo para reduzir as taxas de juros diante da inflação persistente e da atividade econômica mais forte nos Estados Unidos. Em discurso nesta terça, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que os dados recentes de inflação indicam que provavelmente levará mais tempo para o banco central americano obter a confiança necessária para reduzir as taxas de juros.

“Dada a força do mercado de trabalho e o progresso na inflação até agora, é apropriado permitir que a política restritiva tenha mais tempo para funcionar e deixar os dados e a perspectiva evolutiva nos orientar”, disse Powell.

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Os rendimentos dos títulos do Tesouro americano subiram para as máximas de 2024, levando a um fortalecimento do dólar frente a outras moedas, o que afetou principalmente as divisas de países emergentes, com o Brasil. Os rendimentos dos títulos de dois anos do Tesouro americano chegaram a ultrapassar a marca de 5% e oscilavam pouco abaixo desse patamar no fechamento.

Somado a isso, a instabilidade geopolítica contribuiu para a busca por ativos considerados mais seguros, como os títulos americanos e o ouro, depois do ataque do Irã a Israel no fim de semana, o que também fortalece a moeda americana. Israel promete retaliar o ataque, o primeiro ao estado judeu a partir do solo iraniano, enquanto os Estados Unidos e a Europa pedem contenção.

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No Brasil, os papéis da Vale (VALE3), do Itau Unibanco (ITUB4), do Banco do Brasil (BBAS3) e da B3 (B3SA3) recuaram e ficaram entre as maiores contribuições negativas para o Ibovespa. Por outro lado, as ações da Petrobras (PETR3; PETR4) subiram, refletindo as perspectivas de preços maiores do petróleo.

Os investidores também repercutiram a piora no cenário fiscal do Brasil depois de o governo apresentar metas de resultado primário menores do que as previstas anteriormente com o arcabouço fiscal. O Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2025, proposto na véspera pelo governo ao Congresso Nacional, prevê um déficit fiscal zero em 2025 e de 0,25% do PIB em 2026. A indicação anterior era de superávit de 0,5% do PIB em 2025 e de 1% em 2026.

Para Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, a proposta apresentada no PLDO é preocupante “por não ser suficiente para garantir um quadro de sustentabilidade fiscal em prazo razoável”.

Ele ressalta que os pagamentos excedentes de precatórios, que foram retirados da meta fiscal por decisão do STF, representam um déficit primário de 0,32% do PIB. Além disso, a regra do arcabouço fiscal permite que o governo tenha uma margem de 0,25 ponto porcentual para cima ou para baixo na meta. Isso significa que o resultado primário, no limite, poderia ficar com um déficit de 0,57% do PIB e, ainda assim, o governo estaria cumprindo a meta de déficit zero.

“Podemos considerar o aumento da probabilidade de um cenário mais pessimista na política fiscal. Não pelo mecanismo do precatório, que deriva de decisão do STF, mas pelo seu uso para fixar uma meta zero, quando o alvo efetivo é um resultado negativo de quase 0,6% do PIB”, disse Salto, em comentário a clientes.

Nesta terça, o relatório Focus mostrou uma revisão nas projeções para todos os indicadores econômicos em 2024. Agora, os economistas consultados pelo Banco Central veem uma Selic mais alta no fim do ano: as projeções subiram de 9,00% para uma taxa de 9,13% em dezembro.

O mercado também vê uma alta de 3,71% para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) este ano, abaixo dos 3,76% estimados no levantamento anterior.

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Para o PIB, a estimativa subiu de 1,90% para crescimento de 1,95% da atividade brasileira. Já para o câmbio, as estimativas são de R$ 4,97, ante R$ 4,95 anteriormente.

- Com informações da Bloomberg News.