ETFs alcançam recordes de captação, lançamentos e volume de negociação nos EUA

Segundo dados da Bloomberg Intelligence, setor de fundos negociados em bolsa caminha para atingir um nível histórico neste ano; produtos listados nos EUA atraíram US$ 1,4 trilhão até agora em 2025

ETFs listados nos EUA receberam novos recursos a um ritmo de cerca de US$ 5 bilhões por dia neste ano. (Foto: Jason Alden)
Por Katie Greifeld
23 de Dezembro, 2025 | 05:53 PM

Bloomberg — Faltando menos de duas semanas para o fim do ano, 2025 caminha para se tornar um período histórico para a indústria de fundos negociados em bolsa (ETFs) dos Estados Unidos, avaliada em US$ 13 trilhões, com recordes em captação, lançamentos e volume de negociação.

Os ETFs listados nos EUA atraíram US$ 1,4 trilhão até agora em 2025, quebrando o recorde anual estabelecido apenas no ano passado. Ao mesmo tempo, mais de 1.000 novos produtos chegaram ao mercado — outro patamar inédito.

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O volume de negociações no mercado de ETFs também atingiu um novo recorde anual. A última vez em que os três indicadores bateram recorde no mesmo ano foi em 2021, segundo dados da Bloomberg Intelligence.

Esse desempenho positivo leva alguns a questionar por quanto tempo “a música continuará tocando”.

Após o excelente resultado de 2021, os ativos de risco sofreram no ano seguinte: o S&P 500 caiu 19% depois de disparar no ano anterior, impulsionado por ações de tecnologia, enquanto os títulos públicos, tradicional porto seguro, não conseguiram proteger as carteiras, já que os rendimentos dos Treasuries subiram e o Federal Reserve elevou os juros de forma agressiva.

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Embora o volume de negociações tenha aumentado em meio à turbulência, a captação de recursos e o ritmo de lançamentos de ETFs desaceleraram em 2022, à medida que investidores e emissores lidaram com a volatilidade.

“Achamos que haverá algum choque de realidade no próximo ano, seja na forma de um mercado mais difícil, do colapso de ETFs alavancados de ações individuais ou até de algum tipo de contágio tributário vindo dos fundos mútuos”, afirmou Eric Balchunas, analista sênior de ETFs da Bloomberg Intelligence. “Como o ano pareceu tão perfeito para os ETFs, dá vontade de se preparar para o impacto.”

Leia também: Risco de bolha tech, juros e Fed: os 10 principais temores dos investidores para 2026

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Por trás do boom dos ETFs

Os ETFs listados nos EUA receberam novos recursos a um ritmo de cerca de US$ 5 bilhões por dia neste ano, com os fundos de baixo custo que replicam índices ficando com a maior fatia, segundo a Bloomberg Intelligence.

Ainda assim, os produtos de gestão ativa — categoria que inclui ETFs baseados em derivativos e os alavancados de ações individuais, de perfil mais agressivo — continuaram a ampliar sua participação, respondendo por mais de 30% da captação total do setor e por cerca de 84% dos novos lançamentos.

O terceiro ano consecutivo de ganhos de dois dígitos do S&P 500 ajudou a impulsionar esse crescimento. Isso ocorreu apesar de o índice de referência ter operado praticamente de lado desde outubro, afetado pelo ceticismo crescente de Wall Street em relação aos elevados investimentos em inteligência artificial por parte das gigantes de tecnologia e por dúvidas sobre o futuro dos planos do Fed de cortar juros.

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Caso esse ambiente instável persista em 2026, o ritmo de desenvolvimento de novos produtos pode diminuir, segundo Todd Sohn, da Strategas.

“Talvez não vejamos a ‘Tríplice Coroa’ novamente por alguns anos, mas eu ficaria surpreso se a captação não continuasse a bater recordes, e até o volume, especialmente à medida que a adoção de ETFs atinge um novo estágio”, disse Sohn, estrategista sênior de ETFs da Strategas.

“Os lançamentos são a parte mais delicada e talvez mais dependente do ciclo. Um cenário mais desafiador para as ações tende a significar menos atividade de novos produtos, especialmente no segmento alavancado.”

Os ETFs alavancados de ações individuais explodiram em popularidade nos últimos dois anos, com os fundos baseados em opções respondendo por 40% dos lançamentos em 2025, segundo dados da Bloomberg Intelligence.

Investidores de varejo aderiram em massa a esses produtos de alto risco, apesar de a volatilidade embutida nesses fundos normalmente corroer o desempenho no longo prazo.

Ainda assim, algumas fissuras surgiram no segmento de ETFs de ações individuais em 2025. Uma forte alta nas ações da Advanced Micro Devices (AMD) em outubro levou ao encerramento do produto negociado em bolsa GraniteShares 3x Short AMD, listado na Europa, que buscava oferecer três vezes o desempenho inverso da ação.

Embora nos EUA seja permitido atualmente apenas o uso de alavancagem de duas vezes em fundos de um único ativo, um mercado particularmente turbulento também poderia colocar esses produtos à prova, segundo Balchunas, da Bloomberg Intelligence.

Mesmo assim, eventuais tropeços não devem interromper a tendência geral, apenas desacelerá-la, de acordo com Roxanna Islam, da TMX VettaFi.

“Em algum momento nos próximos anos, o setor pode amadurecer o suficiente para que a taxa de crescimento desacelere e se estabilize”, afirmou Islam, chefe de pesquisa setorial e industrial da empresa. “Mas acredito que a inovação continuará, independentemente da captação líquida.”

Fator imprevisível

Um possível fator imprevisível para a indústria de ETFs no próximo ano é a introdução de classes de cotas duplas. A SEC deu sinal verde a dezenas de gestoras, incluindo Dimensional Fund Advisors, BlackRock e Fidelity, para que possam oferecer ETFs como uma classe de cotas de seus fundos mútuos existentes — um modelo que, em tese, transferiria as vantagens tributárias dos ETFs para trilhões de dólares em ativos de fundos tradicionais.

Embora isso possa gerar uma onda de novos lançamentos e captação, há muitas preocupações em relação à implementação dessas estruturas com múltiplas classes.

Um relatório do JPMorgan Chase, divulgado em maio, argumentou que lançar uma estratégia de ETF bem-sucedida “não é tão simples quanto adicionar uma classe de cotas a um fundo mútuo existente e esperar que ela atraia recursos”.

O RBC Capital Markets alertou que uma enxurrada de novos fundos poderia sobrecarregar os formadores de mercado, que dispõem de recursos “limitados”.

Enquanto isso, investidores na classe de cotas de ETFs poderiam sentir o impacto de um “contágio tributário” vindo do fundo mútuo, segundo Balchunas.

Em condições normais, um gestor de fundo mútuo precisa vender parte dos ativos para atender a um pedido de resgate. Em caso de uma saída expressiva de recursos, o gestor provavelmente teria de se desfazer das posições no mesmo dia para levantar caixa. Nesse cenário, todas as classes de cotas do fundo seriam afetadas por distribuições de ganhos de capital, afirmou.

“A metáfora que eu usaria é a de uma tenda em que as pessoas empurram todos os lados”, disse Balchunas sobre a indústria de ETFs. “Quanto mais as bordas da tenda são pressionadas, maiores são as chances de algo se rasgar.”

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