Dólar deve ganhar força em LatAm até o fim do ano, diz estrategista do Wells Fargo

Em entrevista à Bloomberg News, Aroop Chatterjee avalia que a valorização das moedas latino-americanas, como o real, colocou as divisas em posição vulnerável aos riscos políticos e fiscais

Agência do Wells Fargo em Nova York: banco é uma das maiores instituições financeiras americanas, ao lado de JP Morgan Chase e Citi. (Foto: Michael Nagle/Bloomberg)
Por Maria Elena Vizcaino - Zijia Song
13 de Agosto, 2025 | 03:59 PM

Bloomberg — A valorização das moedas latino-americanas as tornou relativamente mais caras e, ao mesmo tempo, aumentou sua vulnerabilidade ao risco político e a uma recuperação do dólar, segundo o Wells Fargo.

As moedas da região dispararam este ano, como parte de uma ampla alta dos mercados emergentes impulsionada pelo declínio constante do dólar.

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No entanto, é improvável que a fraqueza adicional do dólar perdure no curto prazo, já que a inflação persistente dos Estados Unidos limita a capacidade do Federal Reserve de cortar as taxas de juros, segundo Aroop Chatterjee, estrategista macro do banco.

Suas projeções para as moedas da América Latina estão entre as mais pessimistas das estimativas medianas acompanhadas pela Bloomberg.

“O cenário macro e o posicionamento são negativos para a região”, disse Chatterjee em entrevista à Bloomberg News, acrescentando que o potencial de valorização do dólar nos próximos três meses é “bastante alto”.

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O dólar já caiu cerca de 8% este ano em relação a uma cesta de moedas, o que impulsionou fortes altas em toda a região. O real brasileiro e o peso mexicano registraram ganhos percentuais de dois dígitos.

Os dados amplamente favoráveis sobre a inflação dos EUA na terça-feira e os números fracos do setor de empregos no início do mês reforçaram o argumento de que o Fed deve cortar as taxas, o que pesou sobre o dólar nos últimos dias.

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Ainda assim, o estrategista do Wells Fargo espera que a inflação dos EUA permaneça rígida, o que tornará mais difícil para o Fed flexibilizar demais a política monetária sem elevar os preços ao consumidor.

Fora da América Latina, Chatterjee faz parte de um coro de investidores e estrategistas que afirmam que as moedas asiáticas são as que mais perderão no final do ano, já que a região sofre com o impacto das tarifas do presidente Donald Trump.

Ao mesmo tempo, a América Latina está preparada para “um desempenho inferior persistente de longo prazo”, já que Brasil e Colômbia realizarão eleições presidenciais no próximo ano, disse ele.

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O México, por sua vez, continuará na mira de Trump, já que uma revisão do acordo comercial USMCA deve ocorrer em 2026.

Ele também disse que o otimismo em relação a um candidato favorável ao mercado que vencer a eleição presidencial do Chile em novembro provavelmente será compensado pela decisão do banco central do país de aumentar as reservas.

Na quarta-feira, o Wells Fargo recomendou a venda do peso chileno contra o dólar, com meta de queda de 4% na moeda andina.

Chatterjee espera que o real termine o ano em R$ 5,9 por dólar, com queda de cerca de 9% em relação aos níveis atuais, devido aos riscos potenciais decorrentes das eleições, do aumento do déficit fiscal e da disputa comercial em curso entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Trump.

O peso mexicano terminará o ano na marca de MEX$ 21 por dólar, já que a economia caminha para uma recessão, disse ele, uma queda de 11%.

“Foi um ano muito, muito forte” para as moedas latino-americanas, disse Chatterjee. “No momento, praticamente zeramos nossas posições.”

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