Do real ao sol peruano: as projeções desta gestora com foco em LatAm para o câmbio

Queda do dólar favoreceu moedas como o real e o peso mexicano, mas há fatores de alerta como as incertezas fiscais em países da região, segundo analistas da Credicorp Capital em relatório

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A fraqueza do dólar americano em 2025 surpreendeu até mesmo os analistas mais pessimistas. O índice DXY acumulou uma queda de quase 10% até o final de junho, no pior desempenho do dólar globalmente desde 1973 em um período de seis meses.

Em meio a esse cenário, em seu mais recente relatório regional, a Credicorp Capital analisou suas estimativas de taxas de câmbio para o Brasil, México, Colômbia, Peru, Chile e Argentina.

Apesar da tendência de baixa do dólar, a empresa alerta que o ambiente atual combina fatores de suporte estrutural para algumas moedas com riscos crescentes decorrentes de tensões fiscais, eleições iminentes e a estratégia comercial do governo Trump.

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“Fizemos alguns ajustes em meio ao pior desempenho do dólar global desde 1973 por um semestre, bem como às tensões comerciais que permaneceram elevadas, embora com alguma moderação recente“, disse Daniel Velandia, economista-chefe da empresa.

Brasil e México: taxas altas e fragilidade fiscal

O real brasileiro tem sido uma das moedas mais fortes em 2025, com uma valorização de 11% até o momento neste ano.

Esse comportamento foi apoiado principalmente pelo alto diferencial de taxas em relação aos Estados Unidos: o banco central do Brasil aumentou a taxa Selic para 15% em junho, prevendo uma pausa no ciclo de aperto.

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Entretanto, os fundamentos fiscais permanecem frágeis. A Credicorp adverte que “a falta de progresso estrutural compromete a sustentabilidade fiscal”, portanto, não descarta “movimentos temporários em direção a R$ 5,90 e R$ 6,00 no caso de sinais mais evidentes de deterioração fiscal”.

Nesse contexto, manteve sua projeção de taxa de câmbio em R$ 5,70 até dezembro de 2025, com uma média de R$ 5,80, nível que mantém como previsão para 2026.

No México, o peso acumulou uma valorização de cerca de 12% no ano, apoiada por fatores estruturais, como taxas reais positivas, maior conformidade com as regras de origem do T-MEC e fluxos constantes de remessas.

Além disso, a Credicorp enfatiza que o país “saiu relativamente bem posicionado” em relação às novas tarifas de 30% que entrarão em vigor em 1º de agosto.

Apesar desses riscos, a empresa cortou sua previsão de MXN$ 20,4 para MXN$ 19,50 até dezembro de 2025, com uma média anual esperada de MXN$ 19,80 (anterior: MXN$ 20,3), e uma previsão de MXN$ 20,60 até 2026, abaixo dos MXN$ 21.

Moedas andinas: riscos políticos e fiscais em alta

Na Colômbia, o desempenho do peso surpreendeu positivamente, com uma valorização de 8,1% em 2025. Entretanto, a Credicorp adverte que esse movimento está ocorrendo “apesar de uma clara deterioração das finanças públicas e de um aumento sustentado do prêmio de risco-país”.

A recente perda do status de grau de investimento pela S&P e a suspensão da Regra Fiscal aumentaram a incerteza das políticas.

Além disso, persiste a expectativa de uma eventual monetização da dívida externa pelo governo, o que poderia exercer uma pressão adicional de baixa sobre a taxa de câmbio no curto prazo.

“Estamos reduzindo nossas projeções de longa data para 2025″, afirma o relatório.

Portanto, a empresa ajustou sua estimativa com uma média na faixa de COP$ 4.050-COP$ 4.150 para este ano, em comparação com a faixa de COP$ 4.200-COP$ 4.300 prevista anteriormente. Além disso, eles reduziram a projeção para o final do ano de COP$ 4.400 para COP$ 4.250. No ano que vem, seriam COP$ 4.300.

No Chile, o peso continua sendo a moeda mais volátil da região andina.

A moeda foi atingida pela imposição de tarifas sobre o cobre pelos EUA, juntamente com uma inflação mais fraca do que o esperado e expectativas de um corte nas taxas pelo Banco Central do Chile.

Além disso, a incerteza política aumentou após a vitória da candidata Jeannette Jara nas primárias de esquerda.

“O USDCLP ainda não incorporou cenários mais adversos”, alerta a Credicorp. A empresa vê um dólar a CLP$ 950 em 2025 e CLP$ 900 em 2026. Entretanto, a diferença entre os cenários pode aumentar se houver uma reviravolta política.

No Peru, o sol peruano permanece em uma trajetória forte, apoiado por superávits em conta corrente, um saldo comercial recorde e uma combinação favorável de preços de exportação.

A Credicorp observa que “o saldo em conta corrente anualizado apresentou um superávit de 2% do PIB no 1T25”, o maior entre seus pares regionais.

A cesta de exportação do Peru, diversificada entre cobre e ouro, tem sido menos vulnerável às tarifas dos EUA do que a do Chile. Mesmo assim, a proximidade do ciclo eleitoral de 2026 e a ameaça de novas restrições comerciais geram incertezas. A Credicorp mantém sua estimativa de S/3,65 para dezembro de 2025 e para 2026.

Argentina: taxa de câmbio contida

Na Argentina, o governo de Javier Milei fez uma transformação monetária, incluindo a eliminação das taxas de referência, um novo esquema de taxa de câmbio flutuante e um pacote de financiamento externo de mais de US$ 42 bilhões.

Esse número inclui recursos do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, conforme anunciado pelo governo em abril passado, quando anunciou a entrada em vigor da terceira fase do programa econômico.

A esses valores foram acrescentados os US$ 2 bilhões adicionais fornecidos por sete bancos internacionais por meio de um empréstimo compromissado, bem como os US$ 300 milhões desembolsados pela CAF na semana passada.

“O processo teve seus percalços”, diz a Credicorp, citando o excesso de liquidez deixado no sistema após a retirada da LeFi e a relutância dos bancos em adotar os novos instrumentos do Tesouro.

Além disso, há um calendário eleitoral movimentado, com as eleições presidenciais marcadas para 26 de outubro.

“O carry trade em favor do ARS continua atraente, mas sua sustentabilidade dependerá do resultado das eleições, da estabilidade macroeconômica, da disciplina fiscal e da capacidade do governo de sustentar taxas reais elevadas sem deteriorar a atividade ou comprometer a dinâmica da dívida“, disse o relatório.

Nesse ambiente, a Credicorp ajustou sua estimativa de taxa de câmbio de ARS$ 1.150 para ARS$ 1.200 até dezembro de 2025 e aumentou a previsão de ARS$ 1.250 para ARS$ 1.300 até 2026.