Bloomberg Línea — O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa básica de juros inalterada em 15,00% ao ano na reunião encerrada no fim da tarde desta quarta-feira (17).
A decisão foi tomada de maneira unânime pelo colegiado composto pelo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e outros oito diretores.
No comunicado que acompanhou a decisão, o Copom afirmou que "entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego“.
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Segundo o Copom, “o cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária".
O consenso de mercado projetava uma manutenção da Selic.
A equipe de pesquisa econômica do Goldman Sachs, por exemplo, em relatório do último dia 12, apontou um conjunto de fatores para a expectativa.
“Um pano de fundo de inflação acima da meta, expectativas de inflação de curto e médio prazo ainda desancoradas, inflação projetada acima da meta em todo o horizonte relevante e um hiato do produto positivo é consistente com manter a Selic em um nível restritivo de 15,00%, com orientação hawkish“, apontou o time liderado por Alberto Ramos no relatório enviado a clientes.
No intervalo de seis semanas desde a reunião anterior no fim de julho, novos dados divulgados revelaram um arrefecimento das pressões sobre os preços, que se refletiram na deflação de 0,11% no mês de agosto pelo IPCA.
Ainda assim, por outro lado, a inflação acumulada em 12 meses segue acima do centro da meta perseguida pelo BC, de 3% - a taxa estava em 5,13% em agosto.
E as expectativas de inflação seguem acima da meta, como ressaltado pelo Copom em seu comunicado: "As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus permanecem em valores acima da meta, situando-se em 4,8% e 4,3%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2027, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,4% no cenário de referência".
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Leia abaixo a íntegra do comunicado do Copom sobre a decisão na reunião desta quarta-feira, 17 de setembro de 2025:
“O ambiente externo se mantém incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos. Consequentemente, o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos têm sido afetados, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário exige particular cautela por parte de países emergentes em ambiente marcado por tensão geopolítica.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue apresentando, conforme esperado, certa moderação no crescimento, mas o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação.
As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus permanecem em valores acima da meta, situando-se em 4,8% e 4,3%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2027, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,4% no cenário de referência.
Os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada, tendo impactos sobre o cenário de inflação; (ii) uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza; e (iii) uma redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários.
O Comitê segue acompanhando os anúncios referentes à imposição de tarifas comerciais pelos EUA ao Brasil, e como os desenvolvimentos da política fiscal doméstica impactam a política monetária e os ativos financeiros, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza. O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado.
O Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 15,00% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. O Comitê seguirá vigilante, avaliando se a manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado."
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