Como o ouro se tornou o principal investimento de refúgio do mundo em 2025

Demanda recorde de bancos centrais e incerteza fiscal impulsionam metal frente a franco suíço, iene e títulos do Tesouro dos EUA, também vistos como porto seguro

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10 de Julho, 2025 | 04:23 PM

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Bloomberg Línea — O ouro foi o grande ganhador como refúgio seguro no primeiro semestre do ano, superando outros instrumentos da categoria como o franco suíço, o iene japonês e os títulos do Tesouro dos EUA. Grande parte desse diferencial em favor do metal precioso pode ser justificado pela crescente demanda dos bancos centrais.

E a tendência parece estar se consolidando no futuro: de acordo com uma pesquisa do World Gold Council, 43% dos banqueiros centrais entrevistados disseram que sua própria instituição aumentará suas reservas de ouro, e 95% consideraram que as reservas oficiais de ouro continuarão a crescer nos próximos 12 meses. Entre os principais motivos, eles apontaram as propriedades do ouro como um ativo diversificador e uma proteção em períodos de crise e inflação.

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Essa percepção também foi refletida no relatório Global Public Investor 2025 do Official Monetary and Financial Institutions Forum (OMFIF), no qual 32% dos bancos centrais indicaram que esperam aumentar suas reservas de ouro nos próximos 12 a 24 meses.

O fato é que, entre janeiro e junho, a onça de ouro passou de US$ 2.624,50 para US$ 3.303,14, um aumento de 25,86%.

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O que aconteceu com os outros ativos de segurança tradicionais no mesmo período?

O franco suíço ganhou 14,41% e o iene japonês, 9,14%. Enquanto isso, a taxa do Tesouro de 10 anos mal comprimiu um pouco mais de 4% de spread no período de seis meses e continuou oscilando entre 4,3% e 4,4%, um valor que está bem acima do custo de financiamento desejado pelo governo Trump.

De ‘pedra de estimação’ a vencedor

Jorge Angel Harker, analista de mercados internacionais da Adcap, ressalta que a confiança nas moedas fiduciárias vem se deteriorando desde a crise de 2008, quando teve início um período de grande emissão de dívidas nos países desenvolvidos.

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“Esse excesso de dívida no estilo dos mercados emergentes levou a uma erosão da confiança, não apenas entre os investidores qualificados, mas também entre a população em geral”, explica ele. Segundo ele, isso explica o aumento do interesse em ativos alternativos, como bitcoin ou ethereum: “As pessoas não acreditam mais no dólar, no iene, no franco ou no euro da mesma forma.

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Diante desse cenário, muitos investidores estão procurando outras maneiras de proteger o valor de seu patrimônio. “O dólar não é mais o ativo preferido de muitos, portanto, esses tipos de ativos estão ganhando destaque. Mas o ouro não é o mesmo que o iene ou o franco suíço”, diz ele.

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Sobre o ouro, Harker lembra que, durante anos, seu desempenho foi tão ruim que alguns o apelidaram de “pedra de estimação” devido à sua falta de utilidade financeira.

Mas isso mudou: “Nos últimos dois anos, aproximadamente, ele voltou a ser importante nos portfólios. Após a guerra na Ucrânia, os países moderadamente antagônicos ao Ocidente começaram a se desfazer dos títulos americanos e europeus e voltaram a buscar o ouro como reserva de valor. Esse é o caso da China”, diz ele.

Quanto ao franco suíço, ele enfatiza que ele ainda é visto como um porto seguro: “Na Suíça, as taxas estão em 0%, portanto, a atração é puramente de confiança. É um dos poucos emissores que mantém uma classificação AAA, e ninguém duvida de sua capacidade de pagamento. É por isso que muitas pessoas escolhem o franco suíço ou os títulos suíços para se protegerem contra a desvalorização ou a perda de valor de outras moedas”.

Com relação ao iene, Harker ressalta que, embora tenha sido considerado um porto seguro em alguns períodos, hoje ele enfrenta sérios problemas. “O Japão está sendo gravemente atingido pelo excesso de dívidas e enfrenta problemas estruturais. As pessoas estão se perguntando até que ponto o banco central japonês pode continuar a comprar a dívida que o governo emite”, conclui.

Alta incerteza

Ignacio Mieres, chefe de análise da XTB Latam, atribui a recuperação do ouro como ativo porto seguro a um contexto global de crescente instabilidade econômica. “Nos últimos meses, o ouro ganhou destaque em resposta ao aumento da incerteza fiscal nas principais economias, particularmente devido ao aumento dos déficits e dos gastos ligados à dívida nos Estados Unidos“, diz ele.

Além disso, diz Mieres, há as tensões comerciais, que ameaçam a estabilidade das moedas e os rendimentos do Tesouro. “Diante desses riscos, tanto os bancos centrais quanto os investidores redirecionaram sua demanda para ativos reais. Nesse contexto, o ouro reafirmou seu papel histórico como reserva de valor, servindo como proteção contra a volatilidade nos mercados de renda fixa e de câmbio”, conclui.

A visão do Goldman Sachs

Daan Struyven, codiretor de pesquisa global de commodities do Goldman Sachs, alerta que os riscos geopolíticos geraram forte volatilidade nos mercados de commodities nas últimas semanas.

Com relação ao ouro, Struyven vê espaço para mais ganhos. Ele ressalta que os bancos centrais estão diversificando suas reservas, afastando-as do dólar, e que um movimento semelhante por parte dos investidores privados poderia acelerar a tendência. “Muitos acham que estão superexpostos ao dólar. Se eles decidirem realocar alguns desses fundos em ouro, isso poderá ser um salto gigantesco para o metal“, diz ele.

E ele acrescenta um fato importante: o mercado de ouro é 200 vezes menor do que o S&P 500 e 100 vezes menor do que o mercado de títulos do Tesouro dos EUA. “Portanto, mesmo uma pequena mudança nos fluxos pode ter um impacto muito significativo sobre o preço do ouro”, conclui.

Juan Pablo Álvarez

Biopic: Licenciado en Periodismo en la Universidad Nacional de Lomas de Zamora, con posgrado en Periodismo de Investigación en la Universidad Del Salvador. Especializado en finanzas. Trabajó en Diario Perfil, Ámbito Financiero y El Cronista