Como o fim da alta do juro nos EUA afeta o Brasil, segundo estrategista do Goldman

Caesar Maasry, chefe da área de emergentes do banco, diz em entrevista à Bloomberg Línea que os ativos do país ainda têm janela para avançar, mas que foco do investidor está em outros mercados

Goldman Sachs alerta para o fato que ativos do Brasil já estão se valorizando há algumas semanas, o que pode sugerir menos espaço para subir
15 de Dezembro, 2023 | 04:45 AM

Bloomberg Línea — Uma euforia tomou conta dos mercados financeiros depois que o Federal Reserve sinalizou o fim do ciclo de alta de juros nos Estados Unidos e até um possível corte de 0,75 ponto percentual em 2024, levando o Ibovespa (IBOV) a atingir a pontuação máxima histórica durante o pregão de quinta-feira (14).

O momento favorável, no entanto, exige cautela para o investidor alocado no Brasil, de acordo com Caesar Maasry, chefe da área de mercados emergentes e investimentos globais do Goldman Sachs (GS).

Em entrevista à Bloomberg Línea nesta quinta, Maasry afirmou que os ativos brasileiros tendem a ser beneficiados com o cenário global mais favorável – como ocorreu nos últimos dias –, mas ele chamou a atenção para o fato de que o Ibovespa já vinha superando outros mercados emergentes e se valorizando desde novembro, o que pode, portanto, reduzir o potencial de ganhos.

“Sim, isso [sinalizações do Fed] ajuda o Brasil por meio do prêmio de risco, com os rendimentos de longo prazo podendo se comprimir mais. E, com menos pressão sobre o real brasileiro, o Banco Central poderia cortar um pouco mais [o juro]. O ponto em que eu teria cautela, no entanto, é que o Ibovespa superou consideravelmente os mercados emergentes nos últimos dois anos”, disse o estrategista em conversa por videoconferência do escritório do banco de investimentos em Nova York.

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Maasry disse notar que o investidor estrangeiro não tem se concentrado muito nos mercados emergentes, em sua avaliação. Em primeiro lugar, porque o desempenho da China tem ficado abaixo das expectativas – o que tende a ter reflexos negativos para países como o Brasil – e, em segundo lugar, porque os ativos dos Estados Unidos têm apresentado uma performance melhor.

Segundo ele, existem outros mercados emergentes que são mais expostos a um soft landing da economia americana – isto é, a um cenário em que a inflação cai e a atividade desacelera sem entrar em recessão. Nesse aspecto, segundo ele, o México é um mercado que parece mais atraente.

Caesar Maasry, chefe da área de mercados emergentes e investimentos globais do Goldman Sachs.

Um ponto que conta a favor do Brasil, segundo ele, é que as questões domésticas não estão no foco das atenções do investidor global. Para o estrategista, isso indica que há uma janela para os ativos do Brasil avançarem antes que as preocupações com a política fiscal ganhem mais importância.

“Os investidores tendem a entrar rapidamente. E, depois do primeiro mês ou período de rali, começam a se concentrar mais na história doméstica. É claro. A dinâmica fiscal é sempre importante para o Brasil. Não está particularmente no foco agora por causa do crescimento, porque as taxas estão se recuperando e porque as pessoas estão focadas na narrativa de dólar mais fraco a curto prazo”, afirmou.

Um aspecto que serve de proteção, por outro lado, é a confiança do investidor na atuação do Banco Central, segundo ele. A perspectiva é a de que, se os déficits fiscais forem muito maiores do que esperado, o BC pode não ser tão agressivo no ciclo de cortes mesmo que não comunique essa decisão explicitamente. “Há uma clara ligação entre os déficits fiscais e o movimento nas taxas de juros”, disse.

A previsão do Goldman Sachs é a de um Ibovespa na casa dos 122.000 pontos para os próximos 12 meses, portanto, abaixo do nível atual de 130.000 pontos. Maasry, no entanto, disse reconhecer que há riscos para cima nessa estimativa, dado à postura mais “afrouxada do Federal Reserve.

No entanto, ele apontou que o crescimento do lucro por ação dos papéis do Ibovespa tem sido mais fraco em dólares nos últimos dez anos do que o de outros mercados emergentes, como Índia ou Coreia do Sul.

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É uma situação que reflete as condições econômicas estruturais do Brasil e que pesam contra o desempenho dos ativos no país.

“Não estou convencido de que essa história mude muito nos próximos anos. Para que isso aconteça, precisaria ver mais progresso na reforma fiscal e um aumento na demanda doméstica”, afirmou.

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Filipe Serrano

É editor da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.