Balanços de bancos de Wall St atraem ainda mais atenção com ‘apagão de dados’ nos EUA

Investidores buscarão sinais sobre a saúde da economia americana nos resultados trimestrais nesta semana; JPMorgan, Goldman Sachs, Citigroup e Wells Fargo divulgam dados nesta terça

Traders On The Floor Of The New York Stock Exchange As S&P 500 Holds At Record
Por Georgie McKay
13 de Outubro, 2025 | 06:19 PM
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Bloomberg — Os balanços dos maiores bancos de Wall Street devem receber uma dose extra de atenção nesta semana, já que a paralisação (shutdown) do governo dos Estados Unidos deixa investidores ansiosos por novos sinais sobre o rumo da economia.

Com o impasse em Washington ameaçando adiar, pela terceira semana consecutiva, a divulgação de dados essenciais sobre emprego e outros indicadores, analistas de mercado veem os bancos como atores com uma posição única para preencher parte dessa lacuna de informações.

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“É lógico imaginar que, em um vácuo de dados, haverá uma audiência mais interessada nas perspectivas deles”, afirmou Steve Sosnick, estrategista-chefe da corretora Interactive Brokers. “Os grandes bancos têm um alcance imenso e atuam em tantos setores diferentes que sempre oferecem uma visão útil do quadro geral.”

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E isso não é tudo. Mesmo com as ações e outros ativos de risco em níveis considerados elevados, duas recentes quebras corporativas — Tricolor Holdings e First Brands — despertaram preocupações sobre possíveis fissuras no crédito.

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Executivos como Jamie Dimon, do JPMorgan Chase (JPM), David Solomon, do Goldman Sachs Group (GS), e Brian Moynihan, do Bank of America (BAC), devem ser questionados sobre o tema nas teleconferências de resultados, e suas respostas terão peso.

Também devem surgir perguntas sobre novas fusões no setor bancário, após o anúncio, na semana passada, da aquisição de US$ 11 bilhões do Comerica pelo Fifth Third Bancorp. As tarifas comerciais estarão igualmente no centro das atenções, depois de o presidente Donald Trump ter declarado, na sexta-feira (10) à noite, que imporá uma tarifa adicional de 100% sobre produtos chineses.

A maratona de balanços começa na terça-feira (14), com a divulgação dos resultados do terceiro trimestre de JPMorgan, Goldman Sachs, Citigroup (C) e Wells Fargo (WFC), em um dos dias mais movimentados da temporada de balanços.

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Na quarta-feira (15), será a vez de Bank of America e Morgan Stanley (MS), seguidos, nos próximos dias e semanas, por empresas de cartão de crédito e outros credores, incluindo bancos regionais — um panorama importante sobre a situação do consumidor americano.

Segundo analistas, os maiores bancos de Wall Street devem registrar mais um trimestre robusto, impulsionados pelo bom desempenho das mesas de operações e por uma retomada na atividade de fusões e aquisições, que ajudou a levar suas ações a novas máximas.

Os papéis do setor bancário dispararam nas últimas semanas, ampliando os ganhos do ano em meio ao otimismo de que um ambiente regulatório mais brando sob o governo Trump estimule a realização de negócios corporativos e aumente a receita com assessoria financeira — inclusive em transações entre os próprios bancos, especialmente os regionais.

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As ações dos maiores bancos dos Estados Unidos superaram o desempenho do índice S&P 500 nos últimos 12 meses. O KBW Bank Index saltou 24% no período, quase o dobro da alta de 13% do mercado mais amplo.

Diante dessa valorização, parte das expectativas sobre os resultados já está refletida nos preços das ações. Isso torna ainda mais relevante o que os bancos dirão sobre suas perspectivas — e, por exemplo, sobre o impacto das tarifas e da paralisação do governo nos negócios.

“A questão não é tanto o dia do resultado, mas o que esperar para o próximo ano”, afirmou Mike Mayo, analista do Wells Fargo. A reação do mercado, segundo ele, “vai depender das projeções e do impacto da paralisação, das tarifas e de outros fatores macroeconômicos”.

O Jefferies Financial Group deu uma prévia do setor no fim do mês passado. A instituição financeira registrou a maior receita de um terceiro trimestre fiscal de sua história, impulsionada por um ambiente global mais favorável para operações e negociações.

Desde então, porém, as perspectivas da empresa se deterioraram, e suas ações despencaram em meio a dúvidas sobre sua relação com a First Brands, fornecedora de autopeças que entrou em processo equivalente à recuperação judicial no mês passado.

Enquanto as ações dos maiores bancos acumulam forte valorização no ano, os bancos menores enfrentam pressão. O KBW Regional Banking Index recua 3% no acumulado de 2025, bem abaixo do ganho de 12% do índice de grandes instituições.

O desempenho relativo dos bancos regionais em comparação aos grandes representa uma oportunidade, segundo a Baird. “As expectativas são altas para os gigantes, mas acreditamos que a relação risco-retorno parece mais favorável para os bancos regionais neste momento”, escreveu o analista David George em um relatório.

Consolidação

A especulação sobre novas fusões também pode ajudar a sustentar os preços das ações. O anúncio do acordo entre Fifth Third e Comerica “mudou completamente a conversa antes da temporada de resultados”, observou o analista Scott Siefers, da Piper Sandler, em nota. “Agora a dúvida é se a transação do Fifth Third servirá como o catalisador esperado para uma nova onda de consolidação entre os grandes bancos.”

Paralelamente, uma sequência de choques no mercado de crédito ao consumidor vem abalando empresas que atendem os americanos financeiramente mais vulneráveis.

A quebra da Tricolor, que construiu seu negócio vendendo carros usados e concedendo crédito a imigrantes de baixa renda e sem documentos, aponta para tensões no crédito subprime.

Em seguida, os fracos resultados do segundo trimestre da CarMax e o pedido equivalente à recuperação judicial da First Brands evidenciaram o agravamento da pressão no mercado de veículos usados.

No outro extremo, a American Express, que atua no segmento de cartões premium, divulgará seus resultados em 17 de outubro, oferecendo um termômetro do comportamento dos consumidores de renda mais alta.

No mesmo dia, a Ally Financial, especializada em financiamento de automóveis, apresentará seus números, enquanto a Capital One Financial, uma das maiores emissoras de cartões de crédito do país, divulgará seus resultados ainda neste mês.

“Sempre é importante fazer perguntas sobre crédito”, disse Mayo. “O maior risco é uma recessão. Mesmo que a probabilidade hoje pareça menor do que há seis meses, sempre existe o perigo de que a narrativa avance mais rápido do que a realidade.”

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