Apostas esportivas e mercados de previsões criam novos riscos de crédito, alerta BofA

Em relatório, analistas do Bank of America ressaltaram que o crescimento explosivo dos mercados de previsões e das apostas esportivas pode levar consumidores a assumir dívidas excessivas e dar calote em empréstimos

Efeitos negativos das apostas podem ser mais fortes entre consumidores de baixa renda e, em especial, entre homens jovens, dizem analistas do BofA. (Foto: Michael Nagle/Bloomberg)
Por Denitsa Tsekova
25 de Novembro, 2025 | 06:41 PM

Bloomberg — O Bank of America (BofA) acendeu um sinal de alerta sobre o crescimento explosivo dos mercados de previsões e das apostas esportivas - as chamadas “bets” -, advertindo que isso pode levar consumidores a assumir dívidas excessivas e dar calote em empréstimos.

A rápida expansão desse tipo de aposta está criando um novo risco de crédito para instituições financeiras, já que perdas com jogos elevam o estresse financeiro dos consumidores, escreveram estrategistas do BofA, incluindo Mihir Bhatia, em relatório.

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Eles apontam para a crescente popularidade das apostas online desde que a Suprema Corte derrubou a proibição federal das apostas esportivas.

Mais recentemente, plataformas de mercados de previsão como Kalshi e Polymarket vêm “criando uma nova forma de engajamento especulativo”, com contratos financeiros atrelados a jogos e outros eventos, segundo os estrategistas.

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Eles alertam que os efeitos negativos dessas apostas podem ser mais fortes entre consumidores de baixa renda e, em especial, entre homens jovens.

“A facilidade de acesso e as interfaces gamificadas incentivam apostas frequentes e impulsivas”, escreveram. “Para investidores, essa convergência entre entretenimento e finanças especulativas indica maior risco comportamental, capaz de pressionar a qualidade de crédito, aumentar a inadimplência e afetar resultados de emissores e credores do segmento subprime.”

Pesquisadores da UCLA Anderson School of Management e da University of Southern California já haviam constatado que, em estados que permitem apostas online, a pontuação média de crédito cai quase 1% após cerca de quatro anos, enquanto a probabilidade de falência aumenta 28%. Além disso, o volume de dívidas enviadas a agências de cobrança cresce 8%, segundo o estudo.

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Os estrategistas do Bank of America afirmam que a publicidade de produtos de apostas “amplifica a participação e resulta no aumento dos saldos de crédito e na maior severidade das perdas para credores”.

Eles ressaltam que empresas sob sua cobertura — entre elas Bread Financial Holdings, Upstart Holdings e OneMain Holdings — estão mais expostas a consumidores de baixa renda ou já pressionados financeiramente.

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“Os mercados de apostas online introduzem um novo risco para os credores, algo com que eles historicamente não precisaram lidar, e os modelos de avaliação podem ter de ser adaptados”, escreveram no relatório divulgado na sexta-feira.

O banco afirma que indicadores de estresse financeiro já mostram sinais preocupantes, citando uma pesquisa da US News segundo a qual um em cada quatro apostadores relata atraso no pagamento de contas, enquanto 45% dizem não ter recursos para cobrir de três a seis meses de despesas básicas.

Os mercados de previsão ganharam enorme tração nos últimos meses ao oferecer contratos financeiros binários — de resposta “sim ou não” — atrelados ao resultado de eleições, jogos esportivos e outros eventos.

Kalshi e Polymarket registraram, em outubro, volume nocional mensal acima de US$ 8,5 bilhões pela primeira vez, segundo dados da dunedata, no Dune Analytics.

Grande parte desse avanço recente decorre da popularidade de contratos ligados ao resultado de eventos esportivos na Kalshi, plataforma de negociação sediada em Nova York que tem usado sua licença financeira para oferecer os chamados “contratos de eventos” em todo o país, contrariando reguladores estaduais do setor de jogos.

“Embora sejam promovidos como ferramentas de previsão, seu design mobile-first e interfaces gamificadas espelham plataformas de apostas esportivas, borrando a fronteira entre investir e apostar”, escreveram os estrategistas do BofA.

Essa convergência desperta preocupações semelhantes às das apostas, sobretudo em relação ao comportamento compulsivo e ao estresse de liquidez — especialmente entre consumidores mais jovens e de menor renda.

Os mercados de previsão afirmam que seu modelo é mais justo para os clientes do que as apostas esportivas porque oferecem um ambiente neutro de negociação e não atuam diretamente contra os usuários.

“Como uma bolsa financeira regulada em nível federal, o modelo da Kalshi oferece preços mais justos e transparentes e não explora os consumidores como os cassinos”, disse Jack Such, porta-voz da Kalshi. “Como não somos a ‘casa’, nossa receita não depende das perdas dos clientes.”

A Polymarket afirmou nesta terça-feira que superou um dos últimos obstáculos regulatórios para voltar a operar nos EUA alguns anos depois de um acordo com a Commodity Futures Trading Commission tê-la empurrado para fora do país.

A empresa não respondeu imediatamente ao pedido de comentário.

-- Com a colaboração de Emily Nicolle.

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