Bloomberg — A Nvidia enfrenta um aumento nas preocupações de que seu domínio absoluto no mercado de semicondutores para computação em inteligência artificial (IA) esteja começando a perder força. E esse ceticismo agora aparece também no mercado acionário.
As ações da fabricante de chips (NVDA) caíram 2,6% na terça-feira (25) após uma reportagem sugerir que os processadores de IA da Alphabet vêm ganhando espaço.
Embora o papel tenha subido 2,2% na quarta-feira (25), as ações acumulam queda de 10% no mês, apagando mais de US$ 500 bilhões em valor de mercado, num momento em que investidores demonstram temor crescente de uma bolha nos gastos com IA e também das participações cruzadas da Nvidia em startups como a OpenAI — que, ao mesmo tempo, são suas clientes.
A derrocada levou a ação a ser negociada a menos de 26 vezes o lucro projetado para os próximos 12 meses, abaixo das cerca de 34 vezes no início do mês.
“O valuation da Nvidia se baseava fortemente na ideia de que ela manteria sua fatia de mercado”, disse Adam Sarhan, presidente-executivo da 50 Park Investments. “Se começar a perder participação, os investidores vão reavaliar quais podem ser as perspectivas de crescimento e que múltiplo a empresa deveria ter.”
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O papel está mais barato que o índice Bloomberg Magnificent Seven, cujo múltiplo gira em torno de 30, e é o pior desempenho do grupo neste mês.
Ainda assim, o crescimento de receita e lucro da Nvidia supera com folga o do restante do índice: Alphabet, Amazon, Apple, Meta Platforms, Microsoft e Tesla. Neste ano, a expectativa é de que a receita da Nvidia avance 63%; entre as “Sete Magníficas”, a próxima é a Meta, com 21%.

Esse ritmo de crescimento faz as ações parecerem “relativamente subavaliadas diante do potencial daqui para frente”, afirmou Sarhan.
Em Wall Street, porém, não há grande preocupação com a trajetória da Nvidia. As projeções de lucro para o próximo ano fiscal subiram 12% em relação a uma semana atrás, e, entre os 80 analistas que acompanham a empresa, 74 recomendam compra e apenas um recomenda venda, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Mesmo o único analista pessimista, Jay Goldberg, da Seaport Global Securities, elevou suas projeções após o último balanço da Nvidia. Mas ele continua cético.
“Os números da Nvidia foram bons, e eu revisei minhas estimativas para cima”, disse Goldberg. “Mas as restrições de oferta começam a diminuir e, quando se passa de excesso de demanda para excesso de oferta, isso marca uma virada no ciclo. Não acho que isso aconteça nos próximos três meses, mas acredito que pode ocorrer em 2026.”
O surgimento de concorrência não deveria surpreender investidores que acompanharam a ascensão da Nvidia nos últimos três anos, desde que a OpenAI lançou o ChatGPT.
Seus maiores clientes têm buscado alternativas viáveis aos aceleradores de IA mais avançados da Nvidia, que podem custar mais de US$ 30 mil cada.
Esses chips respondem por uma grande parte dos investimentos em capital relacionados à IA feitos por Alphabet, Meta, Microsoft e Amazon — que devem ultrapassar US$ 400 bilhões somados nos próximos quatro trimestres.
Há anos, os gigantes de tecnologia que dependem da Nvidia vêm trabalhando no desenvolvimento de seus próprios chips, com apoio de parceiros como a Broadcom.
A rival mais próxima da Nvidia em chips de IA, a Advanced Micro Devices (AMD), projeta que sua divisão de IA poderá gerar “dezenas de bilhões” de dólares em receita anual até 2027.
Ainda assim, há poucos sinais de que essa concorrência esteja afetando as vendas da Nvidia.
Na semana passada, a empresa previu receita de cerca de US$ 65 bilhões no trimestre atual, aproximadamente US$ 3 bilhões acima das estimativas de Wall Street, com a maior parte proveniente de chips de IA.
Isso veio após o CEO Jensen Huang afirmar, no mês passado, que mais de US$ 500 bilhões em vendas estão a caminho nos próximos trimestres.
“Estamos satisfeitos com o sucesso do Google — eles avançaram muito em IA, e continuamos a fornecer para eles”, disse um porta-voz da Nvidia, ecoando uma publicação feita pela empresa no X.
“A Nvidia está uma geração à frente da indústria — é a única plataforma que roda todos os modelos de IA e faz isso onde quer que haja computação. A Nvidia oferece mais desempenho, versatilidade e fungibilidade do que ASICs, que são projetados para frameworks ou funções específicas.”
Para os otimistas com a Nvidia, a percepção de que a empresa está tão à frente da concorrência num momento em que cresce o volume de recursos destinados à infraestrutura de computação é justamente o argumento para acreditar que seu futuro segue promissor, mesmo com rivais tentando avançar sobre seu território.
“É claro que a preocupação com uma desaceleração do crescimento faz alguns investidores hesitarem”, disse Peter Tuz, presidente e gestor da Chase Investment Counsel, cuja segunda maior posição é Nvidia, atrás apenas da Alphabet.
“Ainda assim, o crescimento da Nvidia continua forte o suficiente para que não tenhamos dificuldade em tratá-la como uma ação de crescimento.”
-- Com a colaboração de Subrat Patnaik e David Watkins.
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