Bloomberg Línea — Em um mercado de tecnologia dominado por investimentos em inteligência artificial, um relatório do Citi argumenta que, embora nem tudo que não seja IA seja necessariamente barato, há oportunidades sólidas fora do barulho da tecnologia.
No documento, a equipe de analistas do banco identifica setores e ações do S&P 500 que, embora não sejam diretamente impulsionados pela inteligência artificial, têm fundamentos suficientemente sólidos para justificar sua inclusão em portfólios diversificados.
A análise, no entanto, parte de uma premissa crítica. “Quando você sai da inteligência artificial, o conjunto de oportunidades, embora com viés de valor, não é exatamente barato”, escreveram os analistas. Em outras palavras, dentro do próprio S&P 500, muitas ações que não estão expostas ao tema da IA também não são avaliadas de forma atraente.
Esse alerta é apoiado por um fato relevante: o índice S&P 500 Value, que agrupa as empresas consideradas de valor, está sendo negociado a cerca de 20 vezes os lucros históricos, o que representa, de acordo com o Citi, “seu maior múltiplo nos últimos 20 anos”.
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Isso implica que, mesmo em setores tradicionalmente vistos como defensivos ou subvalorizados, as avaliações atuais são exigentes, limitando o escopo para encontrar oportunidades de desconto dentro do índice.
Entretanto, dentro dessa aparente escassez de valor relativo, a equipe de estratégia temática do Citi identificou duas áreas com condições atraentes do ponto de vista da avaliação, da qualidade operacional e da projeção de crescimento.
“Fintechs (com um forte peso financeiro) e a tecnologia de vestir(wearable, com uma tendência para o setor de saúde) parecem ser as mais atraentes“, dizem os analistas.
Candidatos à margem da IA
Por meio de um modelo, o Citi avaliou o universo do S&P 500 em busca de emissões com “expectativas de crescimento implícitas alinhadas ou abaixo do consenso” e com “métricas de qualidade que refletem sua avaliação”.
Este ano, as ações de fintechs e de tecnologia de vestir não apenas apresentam fundamentos sólidos, mas também são apoiadas por revisões para cima das projeções de lucros para 2026.
Como resultado, ela atualizou seu portfólio temático e incluiu seis ações que representam, nas palavras do relatório, “o melhor equilíbrio entre avaliação justificável, crescimento projetado e qualidade operacional”. São elas:
- BlackRock (BLK)
- Capital One Financial (COF)
- Equifax (EFX)
- Charles Schwab (SCHW)
- Boston Scientific (BSX)
- Medtronic (MDT)
Os analistas justificam essas adições afirmando que “as cestas temáticas de fintechs e tecnologia de vestir parecem ter o melhor equilíbrio entre avaliações justificáveis versus crescimento e configurações de qualidade atraentes“.
No caso das fintechs, o relatório destaca que esse é o único tema não relacionado à IA que apresenta métricas consistentes em termos de retorno sobre o capital, alavancagem e margens operacionais.
A tecnologia wearable, por sua vez, destaca-se por sua rentabilidade e força de margem projetada, especialmente em um ambiente em que o setor de saúde está procurando se reinventar com soluções digitais.
A seleção também leva em conta um fator essencial para o Citi: credibilidade nas estimativas de crescimento futuro. “Apenas alguns temas não relacionados à IA têm revisões de lucros projetadas para cima que superam o desempenho do índice geral“, observa o relatório, citando fintechs e a tecnologia wearable como parte desse pequeno grupo.
Em última análise, como os mercados continuam a digerir as implicações estruturais da inteligência artificial, a tese do Citi propõe uma abordagem complementar: criar portfólios temáticos que não ignorem a IA, mas que sejam equilibrados com setores de crescimento tangível, menor saturação e fundamentos sólidos.