Ações globais recuam com cautela de investidores sobre juros nos EUA e tarifas

Cautela volta aos mercados globais com sinais mistos do Fed e temor de tarifas, em uma semana marcada por indicadores e balanços de empresas

NO RADAR DOS MERCADOS
25 de Agosto, 2025 | 06:53 AM

Bloomberg — As ações globais operam em queda nesta segunda-feira (25), com o menor otimismo dos investidores em torno das expectativas de cortes de juros pelo Federal Reserve.

O índice Stoxx Europe 600 caiu cerca de 0,3% após fechar na sexta-feira próximo de uma máxima histórica.

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As ações da dinamarquesa Orsted, de energia renovável, caíram depois que a administração do presidente Donald Trump suspendeu a construção de um parque eólico offshore quase concluído. Já a holandesa JDE Peet’s, de cafés, disparou após receber uma oferta de aquisição.

Os futuros do S&P 500 recuaram levemente depois de o índice ter saltado na sexta-feira, na maior alta desde maio, impulsionado pelo tom dovish do presidente do Fed, Jerome Powell, em Jackson Hole.

Os traders veem 84% de chance de um corte de juros pelo Fed no próximo mês, após Powell sinalizar que o banco central pode flexibilizar antes que a inflação retorne totalmente à meta, em meio ao desaquecimento do mercado de trabalho.

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Esse otimismo, porém, enfrenta testes importantes nesta semana, incluindo a leitura da inflação nos EUA e os resultados da Nvidia Corp.

“O caminho à frente não é tão simples”, disse Daniel Murray, CEO da EFG Asset Management. “Embora uma política monetária mais branda seja geralmente bem recebida pelos mercados, o contexto também importa, e ainda há grande incerteza em relação ao ambiente macroeconômico e corporativo.”

O sentimento era de cautela antes da sexta-feira, quando o S&P 500 caiu por cinco pregões consecutivos — a maior sequência negativa desde janeiro — à medida que Wall Street reduzia apostas em cortes de juros.

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O discurso de Powell mudou esse quadro, levando o índice a disparar mais de 1,5% e registrar a terceira alta semanal seguida, novamente com a máxima histórica no radar. A forte queda nos juros de curto prazo levou a curva de rendimentos dos Treasuries ao nível mais inclinado desde 2021.

“O movimento limitado nos yields longos levou a um aumento da inclinação da curva, talvez pelo temor de que o Fed esteja priorizando o mercado de trabalho, deixando a inflação correr acima da meta de 2%”, disse Matthew Ryan, chefe de estratégia de mercado da Ebury Partners.

“O aumento dos receios sobre a independência do Fed e a influência do presidente Trump na política monetária não ajuda em nada.”

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Um índice do dólar permaneceu estável após a terceira semana seguida de queda. Não haverá negociações à vista de Treasuries em Londres devido ao feriado bancário.

“Operadores de câmbio estão reduzindo o entusiasmo que tomou conta dos vendedores de dólar depois do discurso de Powell em Jackson Hole, que abriu a porta para cortes de juros. Isso reforça o potencial de que os dados de inflação desta semana e outras leituras econômicas antes da reunião do Fed em meados de setembro deixem em aberto a decisão de retomada do afrouxamento monetário”, escreveu Garfield Reynolds, líder da equipe MLIV.

Em seu provável último discurso em Jackson Hole como presidente do Fed, Powell detalhou sinais contraditórios da economia. Ele destacou que, embora os efeitos das tarifas já apareçam nos preços, ainda há dúvidas se isso reacenderá a inflação de forma persistente.

Powell classificou como “curiosa” a situação atual do mercado de trabalho, marcada por queda tanto na demanda quanto na oferta de trabalhadores.

“Está claro que o Fed está priorizando a preocupação com a fraqueza do mercado de trabalho em detrimento da inflação, e essa é sua posição agora”, disse Jin Yuejue, especialista em soluções de investimentos multiativos do JPMorgan Asset Management em Hong Kong. Ainda assim, o discurso foi “bastante claro” em sinalizar que o Fed está pronto para mudar de direção, afirmou.

O papel da Nvidia

Outro foco do mercado é a Nvidia, que divulgará os resultados trimestrais na quarta-feira, após o fechamento. Investidores esperam que a empresa alivie receios sobre os gastos com IA e confirme que o último rali das ações não se trata apenas de uma bolha de tecnologia.

O peso da Nvidia é significativo: ela representa quase 8% do S&P 500 e está no centro do desenvolvimento da inteligência artificial. Seus chips estão espalhados por toda a indústria, com cerca de 40% da receita proveniente de gigantes como Meta Platforms, Microsoft, Alphabet e Amazon.

Veja a seguir outros destaques desta manhã de segunda-feira (25 de agosto):

- Novo gigante de café nos EUA. A Keurig Dr Pepper fechou acordo para comprar a holandesa JDE Peet’s por US$ 18,4 bi, para criar um novo gigante global do café, com mais de 50 marcas, em meio à consolidação do setor e à pressão da inflação e das tarifas. O negócio deve ser concluído no primeiro semestre de 2026.

- BYD ajusta estratégia.A montadora chinesa aposta no mercado de luxo com modelos de carros acima de US$ 200 mil e pistas abertas ao público para testes radicais na China. O investimento de 5 bilhões de yuans inclui circuitos com dunas e piscinas, em uma estratégia que busca mudar a percepção da marca.

- Blackrock levanta dúvidas.A gestora suspendeu a captação de seu terceiro fundo de crédito privado na Ásia após anunciar a compra da HPS Investment Partners, concluída em julho, o que ampliou as incertezas sobre sua estratégia na região. A decisão reflete os desafios do mercado global de crédito privado.

Ações globais 25/08/25
🔘 As bolsas na sexta-feira (25/08): Dow Jones Industrials (+1,89%), S&P 500 (+1,52%), Nasdaq Composite (+1,88%), Stoxx 600 (+0,40%), Ibovespa (+2,57%)

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-- Com informações da Bloomberg News.

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Naiara Albuquerque

Formada em jornalismo pela Fáculdade Cásper Líbero, tem mestrado em Ciências da Comunicação pela Unisinos, e acumula passagens por veículos como Valor Econômico, Capricho, Nexo Jornal e Exame. Na Bloomberg Línea Brasil, é editora-assistente especializada na cobertura de agronegócios.