Trump corta ajuda dos EUA à Colômbia e chama Petro de ‘líder do tráfico de drogas’

Presidente americano declarou neste domingo (19) em sua rede social que o narcotráfico ‘se tornou o maior negócio’ do país latino-americano

O anúncio ocorre após a decisão de Trump, em setembro, de anular a certificação da Colômbia como um parceiro no combate ao narcotráfico. (Foto: Francis Chung/Politico/Bloomberg)
Por Patricia Laya - Skylar Woodhouse
19 de Outubro, 2025 | 05:49 PM

Bloomberg — Donald Trump acusou o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, de ser um “líder do tráfico de drogas” e afirmou que os Estados Unidos vão suspender toda a ajuda ao país, acirrando ainda mais as tensões entre as duas nações.

Trump declarou que o tráfico de drogas “se tornou o maior negócio da Colômbia” e acusou Petro de “não fazer nada para detê-lo” apesar de anos de financiamentos vindos dos Estados Unidos.

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“A PARTIR DE HOJE, ESSES PAGAMENTOS... NÃO SERÃO MAIS FEITOS”, escreveu o presidente americano no domingo (19) em uma postagem nas redes sociais.

O anúncio ocorre após a decisão de Trump, em setembro, de anular a certificação da Colômbia como um parceiro no combate ao narcotráfico, colocando o antigo aliado dos Estados Unidos na mesma categoria de países como Venezuela, Bolívia, Afeganistão e Mianmar.

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A medida ocorre em meio ao maior boom de produção de cocaína da história, com a maior parte do fornecimento vindo da Colômbia. Hoje, o país produz seis vezes mais cocaína do que em 1993, quando Pablo Escobar foi morto – mais do que Peru e Bolívia juntos.

“Cortar a ajuda apenas fortalecerá os grupos criminosos, desta vez sem nada para conter seu poder, e parece que a decisão de Trump é irreversível”, disse Sergio Guzmán, diretor da consultoria Colombia Risk Analysis.

A decisão de Donald Trump ameaça um dos laços de segurança mais próximos de Washington na América Latina.

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O presidente Gustavo Petro rebateu as alegações, afirmando na rede X que “Trump está sendo enganado” por seus assessores. Ele ainda acrescentou que fez mais do que qualquer outro líder para expor as ligações entre traficantes de drogas e a elite política da Colômbia.

O senador republicano Lindsey Graham afirmou que conversou com Trump e revelou que o presidente planeja impor tarifas à Colômbia já no domingo ou na segunda-feira (20).

“Ele me informou que vai atingir a Colômbia, não apenas seus traficantes e comerciantes, mas também onde dói: no bolso”, escreveu Graham em seu perfil no X.

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A Colômbia recebeu cerca de US$ 14 bilhões em ajuda dos Estados Unidos neste século, incluindo aproximadamente US$ 500 milhões desde 2017, destinados à modernização militar, operações de desminagem e combate ao narcotráfico.

Desde que assumiu a presidência em 2022, Petro tem buscado alcançar “paz total” por meio de negociações com guerrilhas e grupos criminosos, em vez de ações militares – uma estratégia que ainda não conseguiu conter a violência nem a produção de cocaína.

Sem a possibilidade de tentar reeleição, já que seu mandato se encerra em agosto do próximo ano, Petro tem se empenhado em mobilizar a esquerda para preservar sua agenda, se posicionando como um contraponto a Trump e se projetando como líder global de causas progressistas.

Questão dos vistos

As relações se deterioraram ainda mais em setembro, quando, durante um protesto pró-Palestina nas Nações Unidas, Petro pediu que soldados americanos desobedecessem a Trump.

Em resposta, os Estados Unidos cancelaram o visto do presidente colombiano. Petro minimizou a retaliação, mas depois ameaçou renegociar o acordo comercial entre a Colômbia e os Estados Unidos, enquanto ministros de seu governo chegaram a declarar que abririam mão de seus próprios vistos.

No último fim de semana, Trump anunciou que dois sobreviventes de um ataque americano a um submarino, que ele alegou estar transportando drogas ilegais no Caribe, serão deportados para seus países de origem, Colômbia e Equador. Petro respondeu na rede X, acusando autoridades americanas de terem cometido “um assassinato” durante esses ataques ao submarino.

Em outra mensagem publicada no domingo, Trump afirmou que Petro “tem uma boca cheia de afrontas contra os Estados Unidos”.

O chefe do Pentágono, Pete Hegseth, anunciou no domingo uma nova operação americana realizada na sexta-feira contra um barco que ele disse estar associado a uma facção guerrilheira colombiana envolvida no tráfico de drogas. Um vídeo do ataque foi publicado em sua conta no X.

O impasse entre Trump e Petro representa um contraste acentuado em relação às abordagens mais cautelosas dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Claudia Sheinbaum, do México.

Uma escalada no conflito pode desestabilizar o recente otimismo nos mercados colombianos, que têm ganhado força nos últimos meses. Investidores apostam na vitória de um candidato mais alinhado ao setor financeiro nas eleições do ano que vem. Títulos da dívida colombiana em dólar renderam quase 10% nos últimos três meses, um dos melhores desempenhos na América Latina, de acordo com o índice da Bloomberg.

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