Trump assume risco e convida Putin para reunião sobre guerra no Alasca sem Ucrânia

Encontro agendado para a sexta-feira (15) para tentar selar o fim da guerra na Ucrânia pode envolver troca de territórios, algo que o país liderado por Volodymyr Zelenski disse que não aceitará

Presidente dos EUA procura intermediar um acordo com o líder da Rússia que ponha fim à guerra na Ucrânia após diversas tentativas frustradas
Por Hadriana Lowenkron - Alberto Nardelli
09 de Agosto, 2025 | 02:51 PM

Bloomberg News — O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, planeja se encontrar com o presidente russo, Vladimir Putin, no Alasca para intermediar um acordo que ponha fim à guerra na Ucrânia depois de três anos e meio de batalhas.

“A tão esperada reunião entre eu, como presidente dos Estados Unidos da América, e o presidente Vladimir Putin, da Rússia, ocorrerá na próxima sexta-feira, 15 de agosto de 2025, no Grande Estado do Alasca”, escreveu Trump na sexta-feira (8) em uma postagem na mídia social.

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A cúpula “cara a cara” com Putin representa uma aposta para o presidente dos EUA, que prometeu pôr um fim rápido à guerra durante sua campanha eleitoral em 2024, mas viu seus esforços serem repetidamente frustrados.

Convidar Putin para o solo americano pela primeira vez em quase uma década só aumentará os riscos para Trump, que tenta chegar a um acordo que, segundo ele, levaria os países a se envolverem em “algumas trocas de territórios”.

A aparente exclusão do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy das negociações provavelmente alimentou o temor de que a Casa Branca e o Kremlin negociassem termos baseados em concessões que a Ucrânia não estava disposta a fazer.

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Trump disse na sexta-feira (8) que acreditava que “estamos chegando muito perto” de um acordo de paz.

Zelenskiy afirmou neste sábado (9) que a Ucrânia não cederá território a Putin para pôr fim à invasão russa de três anos e meio, e disse que qualquer acordo alcançado sem o envolvimento de Kiev seria uma “solução morta”.

Leia mais: Plano de Trump para a paz na Ucrânia repete padrão dos EUA no Vietnã e no Afeganistão

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O ministro das Relações Exteriores, Andrii Sybiha, fez eco a esses comentários, dizendo no X que a Rússia “não deve ser recompensada por iniciar essa guerra” e que “precisamos de uma paz duradoura que não será destruída pela próxima ação de Moscou”.

Trump não revelou sanções adicionais à Rússia ou tarifas sobre seus compradores de energia ao anunciar a cúpula, apesar de ter declarado um prazo até sexta-feira passada para que o Kremlin concordasse com um cessar-fogo.

O que esperar do encontro

O anúncio da cúpula veio após uma semana de diplomacia frenética entre os EUA, seus parceiros europeus e a Rússia.

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Pessoas familiarizadas com as discussões entre Washington e Moscou afirmaram que os negociadores giraram em torno de um acordo que manteria a ocupação russa do território tomado durante sua invasão militar.

Isso inclui uma exigência de Putin de que a Ucrânia ceda toda a área oriental de Donbas para a Rússia, bem como a Crimeia, que suas forças anexaram ilegalmente em 2014.

Isso exigiria que Zelenskiy ordenasse a retirada das tropas de partes das regiões de Luhansk e Donetsk ainda mantidas por Kiev, o que significaria conceder à Rússia uma vitória que seu exército não conseguiu alcançar militarmente desde o início da invasão em grande escala em fevereiro de 2022.

Leia também: EUA e Rússia discutem cessar-fogo na Ucrânia antes de encontro de Trump e Putin

Trump reconheceu na sexta-feira que enxergava uma troca de territórios como uma parte provável de qualquer acordo.

“É muito complicado”, disse Trump. “Mas vamos receber algumas de volta. Vamos receber algumas trocas. Haverá alguma troca de territórios para o bem de ambos, mas falaremos sobre isso mais tarde ou amanhã ou o que for.”

Esse resultado representaria uma grande vitória para Putin, que há muito tempo busca negociações diretas com os EUA sobre os termos para encerrar a guerra que ele iniciou, deixando de lado a Ucrânia e seus aliados europeus.

Zelenskiy corre o risco de ser apresentado a um acordo do tipo “pegar ou largar” para aceitar a perda do território ucraniano, enquanto a Europa teme que seja deixada para monitorar um cessar-fogo enquanto Putin reconstrói suas forças.

Os aliados de Kiev também têm uma série de dúvidas sobre como qualquer acordo poderá ser aplicado e quais garantias de segurança a Ucrânia receberá.

O líder ucraniano já havia exigido que a Rússia retirasse suas tropas e pagasse reparações pela devastação infligida ao país desde a invasão de fevereiro de 2022. Mas, durante sua fala na sexta-feira, Trump apresentou Zelenskiy como disposto a trabalhar para concluir um acordo.

“O presidente Zelenskiy tem que conseguir tudo o que precisa, porque ele terá que se preparar para assinar algo e acho que ele está trabalhando duro para fazer isso”, disse Trump.

Os EUA já haviam oferecido reconhecer a Crimeia como russa como parte de qualquer acordo e ceder efetivamente o controle de partes de outras regiões ucranianas ocupadas pela Rússia. Como parte dessas propostas anteriores, o controle de áreas de Zaporizhzhia e Kherson seria devolvido à Ucrânia.

Sob os termos do acordo que as autoridades estão discutindo, a Rússia interromperia sua ofensiva nessas regiões ao longo das linhas de batalha atuais, disseram as pessoas.

Convite da Rússia para Trump

Após o anúncio da cúpula do Alasca, o Kremlin convidou Trump a visitar a Rússia.

“É natural que a próxima reunião dos presidentes seja realizada em território russo”, disse o assessor de política externa de Putin, Yuri Ushakov, de acordo com uma declaração publicada pelo Kremlin no Telegram.

“Um convite já foi estendido ao presidente dos Estados Unidos.”

Trump há muito tempo enfrenta acusações de críticos de que seu relacionamento acolhedor com Putin o cegou para as verdadeiras intenções do líder russo.

Ele criticou repetidamente a ajuda dos EUA à Ucrânia durante o governo do ex-presidente Joe Biden.

Uma reunião em Helsinque em 2018, na qual Trump disse que acreditava em Putin mais do que nas autoridades de inteligência dos EUA que concluíram que a Rússia interferiu na eleição presidencial de 2016, atraiu condenação bipartidária em Washington.

Trump endureceu seu tom em relação a Putin nas últimas semanas, expressando frustração pelo fato de o líder russo parecer não estar disposto a cessar as hostilidades.

A intermediação de um acordo de paz duradouro representaria uma grande vitória política para Trump, que tem procurado cada vez mais alavancar a pressão econômica para resolver crises de política externa.

Nos últimos dias, o presidente dos EUA anunciou uma tarifa adicional de 25% sobre a Índia por causa da compra de petróleo bruto da Rússia.

O ímpeto em direção a uma reunião entre Trump e Putin se acelerou nesta semana depois que o presidente russo se reuniu com o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, para uma conversa de quase três horas no Kremlin no início da semana.

Autoridades norte-americanas, europeias e ucranianas passaram os últimos dias discutindo sua resposta a essas conversas, e espera-se que as discussões continuem neste fim de semana no Reino Unido, noticiou o site Axios.

-- Com a colaboração de Skylar Woodhouse, Derek Wallbank e Ilya Arkhipov.

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