Sob pressão de França e Itália, UE adia assinatura de acordo comercial com Mercosul

Líderes do bloco europeu não cumpriram o prazo que haviam imposto a si mesmos para conclusão nesta semana, o que pode colocar em risco diante de mudanças em sua liderança; no Brasil, presidente Lula pressionou por assinatura como previsto

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Bloomberg — Os líderes da União Europeia não cumpriram o prazo que haviam imposto a si mesmos para concluir um acordo de livre comércio com um bloco de países sul-americanos nesta semana.

Em vez disso, eles tentarão concluir o acordo com os países do Mercosul - Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai - em janeiro, de acordo com Paula Pinho, porta-voz da Comissão Europeia, que lida com questões comerciais para a UE.

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As autoridades estão definindo a data de 12 de janeiro para uma nova assinatura, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto que falaram com a Bloomberg News.

Alguns líderes da UE alertaram que a não finalização do acordo nesta semana poderia colocá-lo em risco. O chanceler alemão Friedrich Merz disse no início da quinta-feira em Bruxelas: “Se a UE quiser permanecer confiável na política comercial global, as decisões devem ser tomadas agora”.

A decisão de quinta-feira (18) foi tomada depois que a Itália e a França lideraram uma campanha de última hora para adiar o acordo, argumentando que ainda não havia proteções adequadas para os agricultores europeus.

Mas o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva disse na quinta-feira que havia conversado com a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, que indicou que poderia apoiar o acordo em janeiro.

“Ela me explicou que não é contra o acordo. Ela simplesmente está enfrentando um certo constrangimento político por causa dos agricultores italianos”, disse Lula aos repórteres em Brasília na quinta-feira. “Mas ela está confiante de que pode convencê-los a aceitar o acordo”.

Ele acrescentou: “Ela então me disse que, se pudermos ser pacientes por uma semana, 10 dias ou, no máximo, um mês, a Itália apoiará o acordo.”

O acordo proposto é o maior já negociado pelas economias europeias e vem sendo trabalhado há 25 anos.

Durante esse período, as negociações foram perpetuamente interrompidas e reiniciadas à medida que as autoridades tentavam apaziguar as preocupações com as proteções ambientais e os padrões agroalimentares do bloco do Mercosul.

O pacto comercial entre a UE e o Mercosul criaria um mercado integrado de 780 milhões de consumidores, eliminando gradualmente as tarifas sobre mercadorias, inclusive automóveis, e facilitando o acesso da Europa ao vasto setor agrícola do Mercosul. O acordo daria a ambas as regiões alternativas aos EUA depois que o presidente Donald Trump impôs tarifas mundiais.

Em uma tentativa de aprovar o acordo nesta semana, o Parlamento Europeu e as capitais da UE concordaram em adicionar novas proteções para os agricultores europeus que os protegeriam de oscilações repentinas de preços ou importações.

O governo brasileiro também pressionou até o último minuto para que o acordo fosse concluído, com Lula alertando os líderes europeus de que o acordo não aconteceria sob sua supervisão se não fosse assinado neste fim de semana.

A Bloomberg Economics estimou que o acordo impulsionaria a economia do bloco do Mercosul em até 0,7% e a da Europa em 0,1%. Geopoliticamente, ele também fortaleceria a presença da UE em uma região onde a China emergiu como um importante fornecedor industrial e comprador de commodities.

“Seria muito frustrante se a Europa não conseguisse chegar a um acordo com o Mercosul, uma vez que já conseguimos aprovar no Parlamento Europeu essas cláusulas de salvaguarda para o setor primário europeu e temos tudo preparado”, disse o primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez em Bruxelas antes do início da cúpula.

-- Com a colaboração de Andrea Palasciano, Ewa Krukowska, Jorge Valero e Michael Nienaber.

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