Bloomberg — O mercado imobiliário da China se prepara para o agravamento da crise da Vanke, construtora que tem uma estatal como maior acionista, à medida que a empresa se esforça para convencer os investidores de que pode evitar a inadimplência nos próximos meses sem sinais mais claros de apoio do governo.
A Vanke, que já foi a maior incorporadora da China e agora é um termômetro da luta do país para aliviar os problemas imobiliários mais amplos, despencou nos mercados de crédito e de ações nesta semana.
As notas locais da construtora ampliaram suas quedas nesta quarta-feira (26), com seu título com vencimento em maio de 2028 caindo até 29 yuans, para 65 yuans, com breves interrupções nas negociações.
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Seu título em dólar com vencimento em 2027 também caiu ainda mais, depois de ter atingido um recorde negativo de 12 centavos na terça-feira (25).
O título era negociado em um nível de cerca de 40 centavos nesta quarta, o mais baixo desde janeiro.
O preço das ações da Vanke também caiu 5,8% no pregão da tarde em Hong Kong, para HK$ 3,90, o menor valor em mais de um ano.

As dificuldades da Vanke evidenciam os desafios mais amplos enfrentados pelos formuladores de políticas públicas da China, à medida que equilibram os esforços para estimular a retomada de um mercado imobiliário assolado por inadimplências recordes de construtoras e, ao mesmo tempo, tentam evitar ficar sobrecarregados de resgates de empresas individuais.
O governo estuda novas medidas para recuperar o mercado imobiliário, como subsidiar os custos de juros sobre novas hipotecas, disseram à Bloomberg News pessoas familiarizadas com o assunto na semana passada.
No entanto os efeitos das medidas de flexibilização em setembro do ano passado desapareceram após uma breve recuperação.
“Se os títulos da Vanke entrarem em default neste momento, isso prejudicará a eficácia das políticas de resgate do governo”, disse Li Gen, fundador do Beijing G Capital Private Fund Management Center, que se concentra no mercado de títulos high yield da China.
“Isso pode acelerar a queda dos preços dos imóveis residenciais, e a credibilidade de outras incorporadoras estatais ficaria sob escrutínio.”
Bancos globais, em sua maioria, têm perspectivas sombrias para o setor imobiliário da China, que vem sofrendo uma nova queda nas vendas desde o segundo trimestre.
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O UBS espera que os preços dos imóveis caiam por pelo menos mais dois anos.
A Fitch Ratings disse no mês passado que as vendas de casas novas por área poderiam cair de 15% a 20% em relação ao nível atual antes que o setor se estabilize.
Enquanto tentam amortecer o impacto dos problemas da dívida, as autoridades estão de olho nos tomadores de empréstimos.
Os órgãos reguladores financeiros estão intensificando o escrutínio das violações do mercado de títulos, concentrando-se nas falhas de divulgação relacionadas à inadimplência de dívidas, principalmente no setor imobiliário, de acordo com uma reportagem do jornal oficial Shanghai Securities News.
Com sede na cidade de Shenzhen, no sul do país, a Vanke é vista há muito tempo como uma referência para avaliar a postura do governo em relação ao setor imobiliário.
Seu maior acionista, a empresa estatal Shenzhen Metro Group, já concedeu cerca de 30 bilhões de yuans (US$ 4,2 bilhões) em empréstimos para a construtora que está sem caixa dinheiro. Trata-se de uma fonte de financiamento crucial que ajudou a Vanke a pagar os títulos e evitar a inadimplência até agora neste ano.
Essa salvação, no entanto, está em xeque desde o mês passado, quando o ex-presidente Xin Jie renunciou e o acionista apoiado pelo Estado sinalizou termos de empréstimo mais rígidos para a Vanke.
Vencimentos de curto prazo
As notas com vencimento em 2027 perderam mais de 40% do valor no último mês, em um sinal da crescente preocupação dos investidores sobre como a empresa navegará em uma onda de vencimentos de dívidas nos próximos meses.
Cerca de 13,4 bilhões de yuans de títulos onshore devem vencer ou enfrentar opções de resgate até o final de junho do próximo ano, de acordo com cálculos da Bloomberg.
Isso é muito mais do que o montante de empréstimos inexplorados que a Vanke tem disponível no Shenzhen Metro, com base em seu mais recente acordo de financiamento.
De acordo com esse acordo, a Vanke pode receber um máximo de 22 bilhões de yuans em empréstimos entre o início deste ano e a data de sua assembleia geral anual, que deve ocorrer até 30 de junho de 2026. Devido aos empréstimos já obtidos, a empresa tem pouca sobra até meados do próximo ano.
A Vanke perdeu sua capacidade de gerar fluxo de caixa e está “dependendo de transfusões externas para continuar operando”, disse Zhang Dawei, analista-chefe da Centaline Property.
Os investidores estão atentos para ver se o metrô de Shenzhen entra em ação, mas seu apoio só pode manter a empresa à tona, e não estimular uma recuperação total, acrescentou.
A Vanke registrou um prejuízo maior no terceiro trimestre, em meio à pressão persistente no setor imobiliário. Suas vendas anuais contratadas podem cair mais de 40%, para cerca de 138 bilhões de yuans, de acordo com uma previsão da Bloomberg Intelligence.
A Vanke enfrentará outros testes no próximo mês, quando dois títulos onshore vencerão. Uma nota de 2 bilhões de yuans e um título de 3,7 bilhões de yuans têm vencimento em 15 e 28 de dezembro, respectivamente.
Se a empresa propuser uma extensão para as notas, garantir o apoio dos credores poderá ser um desafio. Qualquer proposta exigiria o apoio de pelo menos 90% dos detentores de cada nota, de acordo com os prospectos dos títulos.
-- Com a colaboração de Shulun Huang, Janice Huang e Jing Jin.
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