Recessão? PIB dos EUA cresce 3,3% no quarto trimestre e supera de novo projeções

Números divulgados voltam a reforçar a hipótese de ‘soft landing’ para a maior economia do mundo, ou seja, de controle da inflação sem entrar em recessão

Consumidores em loja em Nova York: gastos continuam elevados apesar dos juros mais altos
Por Augusta Saraiva
25 de Janeiro, 2024 | 02:48 PM

Bloomberg — O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no quarto trimestre superou as previsões, impulsionado pelo arrefecimento da inflação, o que estimulou os gastos do consumidor e encerrou um ano surpreendentemente forte que desafiou as previsões de recessão.

O PIB aumentou a uma taxa anualizada de 3,3%, segundo a estimativa preliminar do governo divulgada na quinta-feira (25). No ano completo de 2023, a economia expandiu-se 2,5%.

O principal motor de crescimento da economia, os gastos pessoais, subiu a uma taxa de 2,8%. O investimento empresarial e a habitação também ajudaram a impulsionar o avanço maior do que o esperado no último trimestre.

Um indicador amplamente observado de inflação subjacente subiu 2% pelo segundo trimestre consecutivo, em linha com a meta do Federal Reserve (Fed), mostrou o relatório do Bureau of Economic Analysis.

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Depois da divulgação dos dados, o S&P 500 abriu em alta, enquanto os rendimentos dos títulos do Tesouro estavam mais baixos, já que os traders se concentraram nos números da inflação e aumentaram as apostas de um corte nas taxas de juros em março.

Os números encerram um ano em que a economia mostrou uma resistência considerada surpreendente, desafiando as expectativas de muitos economistas de Wall Street de que o país estava prestes a entrar em recessão.

Apesar do ônus para os lares e as empresas decorrente do aumento das taxas de juros pelo Fed, os gastos do consumidor foram continuamente impulsionados pelo crescimento robusto do emprego e pela inflação em queda.

Antes das eleições de novembro deste ano, o presidente Joe Biden pode apontar para os números do PIB ao tentar convencer os americanos de que está fazendo um bom trabalho na economia. A confiança do consumidor também melhorou nos últimos meses.

Impulsionados pelos gastos de fim de ano melhores do que o esperado, os números do quarto trimestre sugerem que a economia manteve algum impulso no novo ano, alimentando expectativas de que a expansão está em uma base mais sólida. No entanto prevê-se que o crescimento diminua este ano.

O caminho da inflação e como o Fed responde a ela serão fundamentais para definir a direção da economia neste ano. Quanto mais tempo as taxas de juros permanecerem restritivas, mais os economistas antecipam que os custos de empréstimos impactarão a demanda, assim como os planos de contratação e expansão.

“O Fed já explicou por que o alívio faz sentido mesmo se o crescimento econômico for forte, mas não cortes nas taxas de forma irresponsável”, disse Chris Low, economista-chefe da FHN Financial, em uma nota. “O lançamento do PIB de hoje, embora seja de dados de 2023, reforça a lógica que leva o Fed a uma abordagem cautelosa.”

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Os banqueiros centrais na próxima semana devem manter as taxas no nível mais alto em duas décadas, entre 5,25% e 5,50%, embora já tenham começado a discutir a flexibilização da política monetária.

Os dados sugerem que a inflação continua a se dissipar. A inflação no setor de serviços, excluindo habitação e energia, uma medida mais restrita acompanhada pelas autoridades do Fed, subiu a uma taxa de 2,6%, o ritmo mais lento desde o final de 2020.

Os dados de dezembro sobre inflação, gastos do consumidor e renda serão divulgados na sexta-feira (26). O relatório do PIB mostrou amplo crescimento nos gastos do consumidor, que representam cerca de dois terços da economia, à medida que os gastos com bens e serviços continuaram a subir.

Os gastos combinados com transporte, serviços alimentícios e recreação registraram o maior aumento desde o segundo trimestre de 2022. Além dos gastos saudáveis, que contribuíram com 1,91 ponto percentual para o PIB, o investimento empresarial adicionou 0,26 ponto.

Os estoques empresariais inesperadamente contribuíram para o PIB do quarto trimestre. O investimento residencial aumentou pelo segundo trimestre consecutivo, pela primeira vez desde o início de 2021.

Excluindo estoques, gastos do governo e comércio, as vendas finais ajustadas pela inflação para compradores privados domésticos - uma medida-chave da demanda subjacente - aumentaram a uma taxa de 2,6%.

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