Quem é Lisa Cook, a primeira diretora negra do Fed e que Trump busca demitir

Economista com doutorado, Cook pesquisou bancos centrais internacionais e disparidades econômicas raciais. Ela votou pela manutenção dos juros nos EUA e teve sua saída anunciada pelo presidente após acusação de fraude hipotecária

Lisa Cook
Por Catarina Saraiva
26 de Agosto, 2025 | 07:41 AM

Bloomberg — O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na segunda-feira (25) a demissão da diretora do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Lisa Cook, por suposta fraude hipotecária.

O anúncio, em uma carta para Cook que Trump publicou no Truth Social, foi feito após uma campanha de ameaças contra ela por parte do governo e de seus aliados, e ocorre no momento em que o presidente procura aumentar sua pressão sobre o banco central dos EUA para que reduza as taxas de juros.

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Cook faz parte do Conselho de Diretores do Fed - Federal Reserve Board of Govenors -, composto por sete membros, que, juntamente com cinco dos 12 presidentes de reserve banks, compõe o comitê que define as taxas de juros dos EUA.

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Ela se tornou a primeira mulher negra nomeada para o conselho nos mais de 100 anos de história do Fed quando o então presidente Joe Biden a indicou em 2022. Esse mandato terminou em 2024. Biden então a nomeou novamente para um novo mandato de 14 anos, que ela está cumprindo agora e que terminará em 2038.

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Cook tem doutorado em economia, comum entre os funcionários do Fed, e foi professora de economia e relações internacionais na Michigan State University antes de entrar para o banco central. Sua pesquisa concentrou-se em bancos centrais internacionais, crises financeiras, disparidades econômicas raciais e os impactos da inovação na economia.

Cook também atuou no Conselho de Consultores Econômicos do governo de Barack Obama e, no início dos anos 2000, no Departamento do Tesouro.

Histórico de votação

Cook entrou para o Fed em um momento em que o banco estava embarcando na campanha mais agressiva de aumento de taxas em 40 anos, em um esforço para impedir o aumento da inflação.

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Ela votou com a maioria do conselho e com o presidente do Fed, Jerome Powell, em todas as reuniões desde que ingressou na instituição. Isso inclui as cinco reuniões realizadas até o momento neste ano em que os formuladores de políticas mantiveram as taxas.

Atenta à inflação, que ainda considera alta, Cook também classificou o último relatório de empregos - que mostrou uma desaceleração drástica nas contratações neste verão - como “preocupante”, e acrescentou que esse arrefecimento poderia sinalizar um ponto de inflexão para a economia dos EUA.

Ela não disse recentemente se apoiaria um corte na taxa de juros na próxima reunião do Fed em setembro, na qual os investidores e observadores do banco central estão apostando cada vez mais.

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Um caminho difícil

Cook enfrentou uma campanha agressiva, liderada pelos republicanos, contra ela durante seu processo de confirmação no Senado.

Os críticos, incluindo o ex-senador Pat Toomey e o senador Bill Hagerty, questionaram seu histórico de pesquisa, argumentando que seu trabalho havia se concentrado demais em políticas raciais e não o suficiente em teoria monetária.

Hagerty também a acusou de mentir em seu currículo, um argumento divulgado por sites da mídia de direita e em um fórum anônimo de economia, e que ela refutou veementemente.

Em 2022, Cook foi confirmada em uma votação no Senado, com a vice-presidente Kamala Harris intervindo para desempatar o placar de 50-50.

Histórico de Cook

Natural do estado da Geórgia, Cook vem de família ativa no movimento dos direitos civis - seu tio Samuel DuBois Cook foi colega de classe de Martin Luther King Jr. e um proeminente cientista político. Ela escreveu com frequência sobre como sua formação moldou sua vida e seu trabalho.

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Em um artigo de opinião do New York Times intitulado It was a mistake for me to choose this field (foi um erro para mim escolher esta área), Cook e a coautora Anna Gifty Opoku-Agyeman escreveram sobre os desafios enfrentados pelas mulheres negras que ingressam na economia.

Poucas optam por entrar na profissão - apenas quatro dos 492 títulos de doutorado em economia conferidos a mulheres em 2023 foram para mulheres negras - e menos ainda permanecem devido à discriminação nas citações de publicações, escreveram Cook e Opoku-Agyeman.

Cook escreveu um artigo sobre o impacto dos linchamentos nos pedidos de patentes, descobrindo que o assassinato de negros americanos suprimiu o número total de patentes que provavelmente teriam existido se essas pessoas tivessem sobrevivido.

A experiência de Cook nessa área da economia a distinguiu entre os formuladores de políticas.

Desde que entrou para o Fed, Cook tem feito palestras sobre inteligência artificial, inovação e produtividade - temas com os quais a profissão de economista está lidando à medida que as novas tecnologias afetam a força de trabalho e outros aspectos da economia.

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