Bloomberg — Um acúmulo de um bilhão de barris de petróleo em embarcações nos oceanos inclui uma quantidade desproporcional oriunda de países sob algum tipo de sanção — um sinal de que essas medidas estão trazendo certo nível de disrupção ao comércio global.
Aproximadamente 40% do aumento no petróleo transportado por navios petroleiros vem da Rússia, do Irã, da Venezuela ou de origens não identificadas, segundo dados de rastreamento de navios das consultorias Vortexa, Kpler e OilX.
Mesmo a estimativa mais baixa, de cerca de 20%, representa uma fatia maior da produção global de petróleo do que a participação combinada desses três países.
O acúmulo não significa que os barris jamais serão vendidos, mas representa uma ameaça às receitas dos países petroleiros sob sanções — e pode ter implicações adicionais em um mercado global que já caminha para um cenário de excesso de oferta.
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Embora parte do aumento reflita maior produção, ele também sugere dificuldades para descarregar os carregamentos. Ao mesmo tempo, houve um avanço paralelo nas remessas de países que não sofreram sanções.
O destino de todo esse petróleo nos mares — sancionado ou não — será determinante para o movimento dos preços nos próximos meses, afirmaram operadores.
A cautela diante das novas medidas ocidentais tem levado a uma reorganização dos fluxos de petróleo, com reflexos para grandes importadores como Índia e China, enquanto a escassez momentânea de petroleiros chegou a elevar os custos de frete acima de US$ 100.000 por dia.

“Parte desse aumento se deve ao endurecimento das sanções ocidentais, que deixaram petróleo russo preso em navios, sem conseguir descarregar”, escreveram analistas da Clarksons Securities liderados por Frode Morkedal. “Os antigos compradores recorreram a fornecedores do Oriente Médio e do Atlântico.”
Segundo uma análise da Bloomberg baseada nos dados de rastreamento, o principal responsável pelo aumento de petróleo sob restrição é a Rússia.
Os embarques marítimos russos cresceram nas últimas semanas. O país elevou a produção à medida que desfaz cortes de produção anteriores combinados com parceiros do grupo Opep+.
Parte do petróleo também pode estar sendo redirecionada a terminais de exportação após ataques ucranianos à infraestrutura petrolífera russa, especialmente refinarias.
Enquanto isso, uma ofensiva ocidental contra compradores de petróleo russo tem impedido alguns navios de serem descarregados. Refinarias indianas têm evitado novas compras, e há sinais de que a China pode não estar disposta a absorver esse excedente. As sanções dos Estados Unidos contra as gigantes russas Rosneft e Lukoil tornaram ainda mais difícil negociar seus barris.

As receitas fiscais da Rússia relacionadas ao petróleo caíram mais de 24% em outubro em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo cálculos da Bloomberg com base em dados do Ministério das Finanças. O governo russo já prevê que as receitas de petróleo e gás em 2025 sejam as mais baixas desde a pandemia de 2020.
As exportações do Irã também dispararam, atingindo em outubro o maior nível em sete anos — no mesmo mês em que os Estados Unidos impuseram sanções a um importante terminal chinês por seu papel na compra de barris que ajudam a financiar o regime islâmico.
A OilX, braço da consultoria Energy Aspects, afirma que seus dados de “petróleo sobre a água” incluem remessas confirmadas, com volumes de países como Irã e Venezuela, que frequentemente enfrentam atrasos devido à atuação da chamada “frota fantasma”. Por isso, o volume pode ser revisado para cima com o tempo.
Já a Vortexa diz que, em geral, seus números tendem a superestimar o total e são ajustados para baixo conforme os navios descarregam — mas o cenário atual foge ao padrão.
Onda de oferta
Há também grandes volumes de petróleo não sancionado em circulação, impulsionados pelo aumento da produção global. Os dados da OilX indicam que o principal responsável pela alta desde o fim de agosto é a Arábia Saudita, seguida de perto pelos Estados Unidos e pela própria Rússia.
O reino do Oriente Médio exportou petróleo em outubro no ritmo mais alto em dois anos e meio, à medida que tenta recuperar a fatia de mercado perdida após anos de cortes de produção acordados com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados.
Ao mesmo tempo, o volume de petróleo americano no mar também cresceu, após as exportações atingirem em outubro a maior média mensal desde julho de 2024. O aumento ocorreu quando refinarias asiáticas aproveitaram uma janela de arbitragem no verão, comprando petróleo dos Estados Unidos em meio à alta dos preços no Oriente Médio.
Mas, segundo a OilX, os barris no mar oriundos de países sob sanções representam uma fatia maior do aumento recente do que sua participação conjunta na produção global, de cerca de 17%.
“Está claro que há muito petróleo no mar neste momento”, disse Brian Mandell, vice-presidente executivo de marketing e comercial da Phillips 66, em teleconferência de resultados no fim de outubro. “Estamos meio que esperando para ver exatamente que petróleos são esses.”
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