Novo presidente da Bolívia quer fazer do país uma potência de lítio, com foco nos EUA

Rodrigo Paz, que toma posse no sábado, promete colocar a Bolívia entre os principais exportadores de lítio para ajudar a aliviar a grave crise econômica do país. E vai começar por reavaliação de contratos existentes com empresas chinesas e russas

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Bloomberg — A Bolívia está repleta de lítio, um metal essencial para baterias, mas quase todo o recurso permanece preso no subsolo.

O presidente eleito Rodrigo Paz, que toma posse no sábado (8), promete finalmente colocar a Bolívia entre os principais exportadores de lítio para ajudar a aliviar a grave crise econômica do país.

Sua equipe planeja, inicialmente, revisar contratos obscuros com empresas chinesas e russas, certificar as reservas e elaborar nova legislação.

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Mas, diante da saturação do mercado e das limitações logísticas, o país não tem tempo a perder, afirmam especialistas e autoridades que deixam o cargo.

“Começar do zero teria um custo enorme”, disse o atual presidente Luis Arce em entrevista. “Podemos perder o barco.”

Paz, um centrista que derrotou o rival conservador Jorge Quiroga na votação do segundo turno do mês passado, está sob pressão para resolver rapidamente a grave escassez de dólares e combustíveis e conter a inflação desenfreada que pôs fim a duas décadas de governo socialista.

A promessa do novo governo de revisar os contratos de lítio com a China e a Rússia coincide com o plano de Paz de reparar as relações com os Estados Unidos.

Governos anteriores de esquerda na Bolívia tentaram repetidamente extrair lítio em larga escala das terras altas do país, principalmente por meio de uma mineradora estatal.

Em jogo, está uma vasta extensão praticamente inexplorada do metal, trancada sob salares, que poderia ajudar a abastecer a crescente frota mundial de veículos elétricos.

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A Bolívia possui o dobro dos recursos do vizinho Chile, mas eles ainda não são considerados comercialmente viáveis pelo Serviço Geológico dos EUA.

Os depósitos suspensos em salmoura apresentam altos níveis de magnésio, o que encarece a produção de lítio, e o porto mais próximo no Chile fica a mais de 480 quilômetros de distância.

O governo Arce apostou em novas técnicas de extração direta para contornar problemas de pureza e encurtar o caminho para a produção.

No ano passado, a estatal de lítio YLB firmou contratos com uma unidade da empresa chinesa Contemporary Amperex Technology e com a russa Uranium One para desenvolver projetos utilizando este método. Nenhuma delas está perto da produção comercial e ambas enfrentam o escrutínio no Congresso.

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Um importante assessor econômico de Paz promete uma revisão. “Se houver algo positivo para retomar, será retomado, mas acreditamos que esses contratos de lítio foram firmados às escondidas das regiões e do país”, disse José Luis Lupo à Bloomberg News.

“Não existe certificação para o lítio, nem legislação sobre o lítio. Há muito a ser feito antes disso, mas obviamente não agiremos de forma fundamentalista”, disse Lupo por telefone. “Vamos analisar o que essas empresas têm e ver o que pode ser aproveitado.”

O embaixador russo na Bolívia, Dmitry Verchenko, em fevereiro, disse à mídia local, que Moscou esperava que o congresso da Bolívia aprovasse logo o contrato da Uranium One. A embaixada da China não se pronunciou sobre o assunto.

Analistas concordam que a Bolívia não pode se dar ao luxo de começar do zero, enquanto mais oferta de lítio entra no mercado global, em meio a um mercado já com excesso de oferta e em rápida transformação.

Os preços do principal componente das baterias estão mais de 80% abaixo do recorde do final de 2022. Olhando para o futuro, as inovações em baterias que utilizam alternativas ao lítio podem reduzir a demanda futura.

Mas, em vez de começar do zero, o novo governo deveria aproveitar o progresso alcançado até o momento, de acordo com Andres Brockmann, ex-executivo da indústria de lítio e fundador da empresa de consultoria AquaLitos.

“A janela de oportunidade que estamos vendo está prestes a se fechar”, disse Brockmann. “Se não agirmos rapidamente, é provável que acabemos com uma lei muito boa em um momento muito ruim — daqui a cinco anos — e ela não será mais aplicável.”

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