Bloomberg — A líder da oposição venezuelana, Maria Corina Machado, foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz de 2025, por lutar pela democracia em um momento em que um número crescente de países descamba para o autoritarismo.
Ela recebeu o prêmio no valor de 11 milhões de coroas suecas (US$ 1,2 milhão) “por seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos para o povo da Venezuela e por sua luta para conseguir uma transição justa e pacífica da ditadura”, disse o Comitê Norueguês do Nobel, sediado em Oslo, em comunicado na sexta-feira.
Machado, 58 anos, “liderou a luta pela democracia em face do autoritarismo em constante expansão na Venezuela”, disse o comitê.
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Ela dirige o partido de oposição Vente Venezuela e tem trabalhado para unir as forças pró-democracia no país.
Em sua vida antes da política, ela estudou engenharia e finanças e teve uma curta carreira nos negócios antes de criar uma fundação que ajuda crianças de rua em Caracas. Ela foi impedida de concorrer às eleições presidenciais de 2024 e, no ano passado, foi forçada a viver escondida devido a ameaças contra sua vida.
Machado “atende a todos os três critérios estabelecidos no testamento de Alfred Nobel para a seleção de um laureado com o Prêmio da Paz”, disse o comitê.
“Ela uniu a oposição de seu país. Ela nunca vacilou em resistir à militarização da sociedade venezuelana. Ela tem sido firme em seu apoio a uma transição pacífica para a democracia.”
Agora, resta saber como esse prêmio se desenrola na geopolítica da região.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que fez muito lobby para receber o prêmio, adotou uma linha dura contra o regime do presidente da Venezuela, Nicolas Maduro.
Trump ordenou vários ataques a embarcações de tráfico de drogas no mar e, nesta semana, cancelou o engajamento diplomático dos EUA, o que levantou o espectro de uma intervenção militar maior e mais direta.
Machado expressou apoio à posição de Trump em relação às sanções econômicas, mas não à intervenção militar, disse Kristian Berg Harpviken, diretor do Instituto Nobel da Noruega, aos repórteres.
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“Quando os autoritários tomam o poder, é crucial reconhecer os corajosos defensores da liberdade que se levantam e resistem”, disse o comitê.
Nem sempre os líderes da oposição recebem o prêmio. Um caso em questão é o de Aung San Suu Kyi, de Mianmar, laureada em 1991, que liderou a oposição à junta militar que governava o país então conhecido como Birmânia.
O antigo ícone da democracia foi posteriormente criticado internacionalmente por fazer muito pouco para impedir o massacre da população Rohingya no país pelos militares.
Ela é a 20ª mulher a receber o prêmio entre 143 laureados, incluindo várias organizações.
Em 2023, o prêmio foi concedido à ativista iraniana de direitos humanos Narges Mohammadi e, em 2021, Maria Ressa, das Filipinas, dividiu o prêmio com Dmitry Muratov, da Rússia. Malala Yousafzai, a mais jovem laureada de todos os tempos, dividiu o prêmio em 2014.
Os prêmios anuais para realizações em física, química, medicina, paz e literatura foram estabelecidos no testamento de Alfred Nobel, o inventor sueco da dinamite, que morreu em 1896.
O prêmio em ciências econômicas foi adicionado pelo banco central da Suécia em 1968.
Embora os prêmios também tenham gerado controvérsia no passado, a decisão deste ano foi marcada por uma campanha agressiva sem precedentes de Trump e seu governo para garantir o prêmio.
“A campanha de Trump para obter o prêmio tem sido extraordinária”, disse Harpviken.
--Com a ajuda de Stephen Treloar, Thomas Hall, Federica Romaniello e Alan Crawford.
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