Musk deixa governo Trump para socorrer seu império de negócios e faz críticas

Homem mais rico do mundo disse na noite de quarta (28) que seu tempo como conselheiro formal do presidente dos EUA está chegando ao fim, ao mesmo tempo em que critica plano de corte de impostos e reversão de incentivos a carros elétricos

Donald Trump e Elon Musk após encontro na Casa Branca em março deste ano (Foto: Yuri Gripas/Abaca/Bloomberg)
Por Gregory Korte - Jennifer A. Dlouhy - Dana Hull
29 de Maio, 2025 | 06:29 AM

Bloomberg — O bilionário Elon Musk disse na noite de quarta-feira (28) que seu tempo como conselheiro formal do presidente Donald Trump está chegando ao fim, o que levanta questões sobre o futuro do esforço do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês) que ele ajudou a criar e liderou.

“Como meu tempo programado como funcionário especial do governo está chegando ao fim, gostaria de agradecer ao presidente @realDonaldTrump pela oportunidade de reduzir os gastos desnecessários”, publicou Musk no X, sua plataforma de mídia social.

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“A missão do @DOGE só se fortalecerá com o tempo, à medida que se tornar um modo de vida em todo o governo.”

Por lei, o status de Musk como funcionário temporário do governo estava previsto para terminar em 30 de maio, embora a data exata estivesse sujeita à contabilização de seus dias reais de trabalho.

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Efetivamente, dado que Trump assumiu em 20 de janeiro, Musk trabalhou pouco mais de quatro meses no governo, embora tenha estado próximo do presidente desde o dia da eleição em novembro passado.

Um funcionário da Casa Branca familiarizado com a mudança, que falou sob condição de anonimato com a Bloomberg News para discutir um assunto pessoal, disse que Musk começou o processo de desligamento na noite de quarta-feira e apresentou a saída como uma decisão que o empresário de tecnologia tomou por conta própria com o apoio do presidente.

Críticas ao corte de impostos

A mudança ocorre pouco depois de Musk ter dado uma entrevista criticando a maior prioridade legislativa de Trump - a proposta de corte de impostos conhecida como “One Big Beautiful Bill” -, por não fazer o suficiente para reduzir os déficits federais.

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Na noite de quarta-feira, a Tesla (TSLA) também protestou contra o “fim abrupto” dos créditos fiscais de energia dos EUA, dos quais a fabricante de carros elétricos se beneficiou nos últimos anos.

Muitos republicanos do Congresso pressionaram pela reversão de certos créditos fiscais de energia limpa e solar como forma de minimizar os impactos da lei de impostos e gastos.

Impacto 93% menor

A campanha de Musk para reduzir o tamanho do governo dos Estados Unidos causou um choque em Washington, com a eliminação total de algumas agências e de dezenas de milhares de funcionários federais, mas a iniciativa ficou aquém de suas próprias expectativas de economia de custos.

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Trump originalmente deu ao esforço uma data de encerramento em 4 de julho de 2026, o que permitiria que o DOGE tivesse quase 18 meses para encontrar o que Musk originalmente prometeu que seriam US$ 2 trilhões em economia.

Posteriormente, Musk reduziu essa ambição para US$ 1 trilhão - e depois ainda mais, para US$ 150 bilhões. Uma queda de impacto de 92,5%.

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Musk, 53 anos, brincou que seu título na Casa Branca era “diretor de nada” e afirmou que não era essencial para a missão.

Mas ele rapidamente se tornou um “para-raios” para os críticos do programa, que se concentraram na narrativa do homem mais rico do mundo que trabalhava para ajudar a desmantelar a força de trabalho e as funções do governo.

Trump e Musk já haviam se recusado a definir um plano de sucessão para o DOGE. O projeto foi uma criação de Musk - até mesmo o acrônimo que homenageia um meme de cachorro famoso na Internet que há muito tempo é objeto de sua obsessão.

“O DOGE é um estilo de vida, como o budismo”, brincou ele durante uma reunião, sugerindo que o esforço continuaria mesmo após sua saída. “Buda não está mais vivo. Você não faria a pergunta: ‘Quem lideraria o budismo?’”

Os três principais tenentes que ele levou para a entrevista - Steve Davis, Antonio Gracias e Anthony Armstrong - assumiram postos-chave do DOGE na General Services Administration, na Social Security Administration e no Office of Personnel Management.

Essas agências estão entre as mais ativas na implementação da missão antifraude e de redução de custos do DOGE.

O trabalho do DOGE gerou processos judiciais sobre sua autoridade e acesso a dados governamentais, e algumas alegações sobre economia de custos foram imprecisas, gerando dúvidas sobre a responsabilidade do empreendimento.

Musk também enfrentou questões relacionadas a conflitos de interesse para um empresário do setor de tecnologia cujos interesses comerciais variados já o tornaram um importante participante em contratos federais.

A reação contra Musk por causa de seu trabalho político de alto nível gerou preocupações entre investidores sobre as consequências para suas empresas, principalmente a Tesla.

As vendas de veículos caíram para o menor patamar em quase três anos no primeiro trimestre do ano e o preço das ações chegou a despencar mais de 50% entre o pico em dezembro passado e abril deste ano após o anúncio das tarifas, levando muitos analistas de Wall Street a reduzir as expectativas de crescimento.

Carros, showrooms e estações de carregamento da Tesla sofreram protestos e atos de vandalismo, sendo o Cybertruck um alvo especial para os críticos de Musk.

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Trump e seus aliados se uniram em torno do CEO, incluindo um evento no terreno da Casa Branca em que o presidente viu diferentes modelos da Tesla antes de decidir comprar um Model S vermelho, um espetáculo sem precedentes.

Musk reconheceu abertamente os desafios de gerenciar seus negócios - Tesla, SpaceX, XAI Holdings, Neuralink e The Boring Co. - juntamente com seu trabalho em Washington.

O CEO da Tesla disse aos investidores em abril que em breve dedicaria “muito mais” de seu tempo à montadora, o que fez com que as ações da empresa subissem.

No início deste mês, o bilionário disse à Bloomberg News em uma entrevista que planejava reduzir os gastos políticos: “acho que já fiz o suficiente”.

-- Com a colaboração de Mark Chediak.

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