Bloomberg — O bilionário Elon Musk disse na noite de quarta-feira (28) que seu tempo como conselheiro formal do presidente Donald Trump está chegando ao fim, o que levanta questões sobre o futuro do esforço do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês) que ele ajudou a criar e liderou.
“Como meu tempo programado como funcionário especial do governo está chegando ao fim, gostaria de agradecer ao presidente @realDonaldTrump pela oportunidade de reduzir os gastos desnecessários”, publicou Musk no X, sua plataforma de mídia social.
“A missão do @DOGE só se fortalecerá com o tempo, à medida que se tornar um modo de vida em todo o governo.”
Por lei, o status de Musk como funcionário temporário do governo estava previsto para terminar em 30 de maio, embora a data exata estivesse sujeita à contabilização de seus dias reais de trabalho.
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Efetivamente, dado que Trump assumiu em 20 de janeiro, Musk trabalhou pouco mais de quatro meses no governo, embora tenha estado próximo do presidente desde o dia da eleição em novembro passado.
Um funcionário da Casa Branca familiarizado com a mudança, que falou sob condição de anonimato com a Bloomberg News para discutir um assunto pessoal, disse que Musk começou o processo de desligamento na noite de quarta-feira e apresentou a saída como uma decisão que o empresário de tecnologia tomou por conta própria com o apoio do presidente.
Críticas ao corte de impostos
A mudança ocorre pouco depois de Musk ter dado uma entrevista criticando a maior prioridade legislativa de Trump - a proposta de corte de impostos conhecida como “One Big Beautiful Bill” -, por não fazer o suficiente para reduzir os déficits federais.
Na noite de quarta-feira, a Tesla (TSLA) também protestou contra o “fim abrupto” dos créditos fiscais de energia dos EUA, dos quais a fabricante de carros elétricos se beneficiou nos últimos anos.
Muitos republicanos do Congresso pressionaram pela reversão de certos créditos fiscais de energia limpa e solar como forma de minimizar os impactos da lei de impostos e gastos.
Impacto 93% menor
A campanha de Musk para reduzir o tamanho do governo dos Estados Unidos causou um choque em Washington, com a eliminação total de algumas agências e de dezenas de milhares de funcionários federais, mas a iniciativa ficou aquém de suas próprias expectativas de economia de custos.
Trump originalmente deu ao esforço uma data de encerramento em 4 de julho de 2026, o que permitiria que o DOGE tivesse quase 18 meses para encontrar o que Musk originalmente prometeu que seriam US$ 2 trilhões em economia.
Posteriormente, Musk reduziu essa ambição para US$ 1 trilhão - e depois ainda mais, para US$ 150 bilhões. Uma queda de impacto de 92,5%.
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Musk, 53 anos, brincou que seu título na Casa Branca era “diretor de nada” e afirmou que não era essencial para a missão.
Mas ele rapidamente se tornou um “para-raios” para os críticos do programa, que se concentraram na narrativa do homem mais rico do mundo que trabalhava para ajudar a desmantelar a força de trabalho e as funções do governo.
Trump e Musk já haviam se recusado a definir um plano de sucessão para o DOGE. O projeto foi uma criação de Musk - até mesmo o acrônimo que homenageia um meme de cachorro famoso na Internet que há muito tempo é objeto de sua obsessão.
“O DOGE é um estilo de vida, como o budismo”, brincou ele durante uma reunião, sugerindo que o esforço continuaria mesmo após sua saída. “Buda não está mais vivo. Você não faria a pergunta: ‘Quem lideraria o budismo?’”
Os três principais tenentes que ele levou para a entrevista - Steve Davis, Antonio Gracias e Anthony Armstrong - assumiram postos-chave do DOGE na General Services Administration, na Social Security Administration e no Office of Personnel Management.
Essas agências estão entre as mais ativas na implementação da missão antifraude e de redução de custos do DOGE.
O trabalho do DOGE gerou processos judiciais sobre sua autoridade e acesso a dados governamentais, e algumas alegações sobre economia de custos foram imprecisas, gerando dúvidas sobre a responsabilidade do empreendimento.
Musk também enfrentou questões relacionadas a conflitos de interesse para um empresário do setor de tecnologia cujos interesses comerciais variados já o tornaram um importante participante em contratos federais.
A reação contra Musk por causa de seu trabalho político de alto nível gerou preocupações entre investidores sobre as consequências para suas empresas, principalmente a Tesla.
As vendas de veículos caíram para o menor patamar em quase três anos no primeiro trimestre do ano e o preço das ações chegou a despencar mais de 50% entre o pico em dezembro passado e abril deste ano após o anúncio das tarifas, levando muitos analistas de Wall Street a reduzir as expectativas de crescimento.
Carros, showrooms e estações de carregamento da Tesla sofreram protestos e atos de vandalismo, sendo o Cybertruck um alvo especial para os críticos de Musk.
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Trump e seus aliados se uniram em torno do CEO, incluindo um evento no terreno da Casa Branca em que o presidente viu diferentes modelos da Tesla antes de decidir comprar um Model S vermelho, um espetáculo sem precedentes.
Musk reconheceu abertamente os desafios de gerenciar seus negócios - Tesla, SpaceX, XAI Holdings, Neuralink e The Boring Co. - juntamente com seu trabalho em Washington.
O CEO da Tesla disse aos investidores em abril que em breve dedicaria “muito mais” de seu tempo à montadora, o que fez com que as ações da empresa subissem.
No início deste mês, o bilionário disse à Bloomberg News em uma entrevista que planejava reduzir os gastos políticos: “acho que já fiz o suficiente”.
-- Com a colaboração de Mark Chediak.
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