Ford concorda em pagar aumento salarial recorde de 25% para encerrar greve

Reajuste deve chegar a até 33% com outros benefícios, segundo pré-acordo da montadora com o UAW, que vai submetê-lo para avaliação dos trabalhadores

Cartel "UAW en huelga".
Por Keith Naughton, David Welch, Gabrielle Coppola e Josh Eidelson
26 de Outubro, 2023 | 06:21 AM

Bloomberg — O principal sindicato da indústria automotiva dos Estados Unidos, o United Auto Workers (UAW), chegou a um acordo trabalhista com a Ford Motor (F), o que coloca pressão sobre as duas principais rivais da montadora, a GM e a Stellantis, a encerrar uma greve prolongada que custou bilhões de dólares ao setor.

Estima-se que a greve custou a GM, Ford e Stellantis cerca de US$ 2,1 bilhões em lucros perdidos antes de juros e impostos até 23 de outubro, de acordo com Emmanuel Rosner, analista do Deutsche Bank. Nesta semana, a GM retirou o guidance de lucros em razão dos efeitos da greve.

A Ford concordou com um aumento recorde de 25% no salário por hora durante a vigência do contrato, que é de mais de quatro anos. Com os subsídios de custo de vida, espera-se que a taxa salarial máxima aumente em 33%. O salário máximo será de mais de US$ 40 por hora, informou o sindicato.

A liderança do UAW votará o acordo no domingo (29). Em seguida, ele deverá ser ratificado pelos 57.000 trabalhadores horistas da Ford nos EUA, um processo que pode levar semanas.

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“Conquistamos coisas que ninguém imaginava serem possíveis”, disse o presidente do UAW, Shawn Fain, na noite de quarta-feira (25), em um vídeo postado no X (ex-Twitter). “Desde o início da greve, a Ford colocou 50% a mais na mesa.”

Em uma declaração na quarta-feira, o presidente Joe Biden destacou o “poder dos trabalhadores” ao parabenizar a Ford e o sindicato por chegarem a um acordo.

O salário foi uma das últimas questões a serem resolvidas durante as negociações.

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O sindicato havia originalmente buscado um aumento de 40% e uma semana de trabalho de 32 horas antes de reduzir suas exigências.

Anteriormente, a Ford concordou com o subsídio de custo de vida, com a conversão de contratações temporárias em tempo integral e com a redução do tempo necessário para que os trabalhadores alcancem o nível salarial mais alto.

O anúncio não apresentou detalhes sobre questões importantes, incluindo salários e benefícios nas fábricas de baterias e a demanda inicial de Fain por uma semana de trabalho de 32 horas.

Fain não disse se o acordo provisório abrange as quatro fábricas de baterias da Ford que estão em construção ou se ajuda o UAW a organizar a nova fábrica de montagem de caminhões elétricos que a montadora está construindo no Tennessee.

Acordos rivais

A General Motors (GM) e a Stellantis devem se reunir com o UAW nesta quinta-feira (26) e o sindicato espera que as duas empresas concordem com os mesmos termos, de acordo com pessoas familiarizadas com as negociações que não estavam autorizadas a falar publicamente.

O UAW disse aos trabalhadores da Ford que voltassem ao trabalho durante o processo de ratificação para “manter a pressão sobre o Stellantis e a GM”, disse Chuck Browning, o principal negociador do sindicato na Ford.

“A última coisa que eles querem é que a Ford volte à sua capacidade total enquanto eles fazem bagunça e ficam para trás”, disse Browning no vídeo.

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A GM e Stellantis disseram, em declarações separadas enviadas por e-mail, que estão trabalhando com o UAW para chegar a acordos “o mais rápido possível”.

A Ford disse que estava “satisfeita” em chegar a um acordo com o UAW e reiniciar suas fábricas, “chamando 20.000 funcionários da Ford de volta ao trabalho e enviando nossa linha completa para nossos clientes novamente”, disse a empresa em um comunicado.

Lucros perdidos

A greve que começou em 15 de setembro afetou inicialmente uma fábrica de montagem de veículos de cada uma das montadoras antigas de Detroit. Foi a primeira vez que as três empresas foram atingidas ao mesmo tempo - uma aposta de Fain para mantê-las na dúvida sobre sua próxima ação.

Em seis semanas, a greve cresceu e passou a incluir mais de 45.000 trabalhadores em oito fábricas de montagem e 38 instalações de distribuição de peças.

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Depois que o UAW lançou uma greve surpresa na altamente lucrativa fábrica de caminhões da Ford em Kentucky, em 11 de outubro, anunciou que estava mudando sua estratégia de convocar greves com pouco aviso prévio, o que, segundo ele, era uma resposta ao fato de as empresas retardarem as negociações antes de fazer ofertas substanciais.

Seguiram-se mais duas greves-surpresa: na fábrica da Stellantis em Sterling Heights, Michigan, que fabrica sua caminhonete Ram 1500 mais vendida, em 23 de outubro; e na fábrica da GM em Arlington, Texas, que monta o Chevy Tahoe, o GMC Yukon e o Cadillac Escalade, em 24 de outubro.

Fain sugeriu que uma greve maior estava reservada para a Ford se ela não tivesse chegado a um acordo. “A Ford sabia o que estava por vir na quarta-feira se não chegássemos a um acordo. Era o xeque-mate”, disse Fain no vídeo no X.

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