Fim da crise? Corte de tarifas impulsiona aposta de retomada entre relojoeiros suíços

Redução da tarifa de 39% para 15% dá novo fôlego ao setor após meses de queda nas exportações e custos elevados

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Por Allegra Catelli - Jinshan Hong
16 de Novembro, 2025 | 08:31 AM

Bloomberg — Três meses. Este foi o tempo que levou para a fabricante suíça de relógios Grovana retomar as exportações para os Estados Unidos depois que Donald Trump impôs ao país uma tarifa de 39%.

Após o anúncio em agosto, os proprietários da Grovana precisaram calcular quanto do imposto conseguiriam absorver, avaliar o impacto nos lucros e renegociar os preços com seu principal distribuidor. Finalmente, no início de novembro, os embarques para os Estados Unidos foram retomados.

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Depois de toda essa negociação e estresse, os relojoeiros, assim como outros exportadores suíços, finalmente tiveram um alívio nesta sexta-feira (14), quando os Estados Unidos anunciaram que reduzirão a tarifa para 15%, menos da metade do original.

A redução não poderia vir em melhor hora. As exportações de relógios para os Estados Unidos caíram 56% em setembro; empresas estão cortando custos, colocando trabalhadores em licença remunerada, e grandes marcas estão investindo em pequenas firmas especializadas para proteger fornecedores essenciais.

Na cidade de La Chaux-de-Fonds, um dos centros da relojoaria suíça, moradores comentam que o habitual som constante de atividade às vezes desaparece, à medida que os ateliês reduzem seu horário de funcionamento.

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“Atualmente, toda a indústria relojoeira na Suíça está seriamente afetada”, disse Christopher Bitterli, diretor executivo da Grovana. “Não dá para sobreviver sem o mercado dos Estados Unidos.”

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A tarifa de 39% agravou uma situação que já era desafiadora devido à fraca demanda da China e aos preços altíssimos de matérias-primas como o ouro, que atingiu um recorde no mês passado e, segundo o J.P. Morgan Private Bank, pode continuar subindo até alcançar US$ 5.000 por onça.

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Além disso, o franco suíço segue fortalecido, e subiu cerca de 14% em relação ao dólar este ano, tornando os produtos suíços mais caros para os compradores norte-americanos.

Horas antes de o novo acordo comercial ser confirmado, na sexta-feira, a empresa de produtos de luxo Richemont divulgou números fortes de vendas, mas também alertou para um impacto tarifário mais significativo no segundo semestre deste ano caso melhores condições não fossem negociadas.

Os últimos anos não foram completamente negativos para os relojoeiros. O cenário atual de fraqueza vem na esteira de um boom de demanda durante a pandemia, período em que muitas marcas aumentaram significativamente os preços diante da subida da inflação.

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Parte da atual queda também reflete um aumento nas exportações antecipadas, quando marcas correram para enviar produtos aos Estados Unidos antes de as tarifas entrarem em vigor. Isso resultou em uma diminuição drástica na demanda por modelos e componentes específicos — como os turbilhões — em alguns casos.

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Para ajudar, o governo suíço ampliou o período durante o qual pagará subsídios para trabalhadores em licença remunerada. A medida está disponível para todas as indústrias, mas é especialmente importante para os fabricantes especializados em mecanismos de relógio, que não podem se dar ao luxo de perder a expertise adquirida ao longo de décadas.

“É um fôlego de oxigênio”, afirmou Pierre-Alain Berret, chefe da Câmara de Comércio e Indústria do cantão do Jura, parte da chamada “Watch Valley”. “Isso permite que as empresas mantenham sua força de trabalho qualificada.”

Por toda a região, em cidades com uma longa tradição na relojoaria, como La Chaux-de-Fonds e Le Locle, os efeitos da desaceleração são evidentes.

Executivos do setor relatam que alguns ateliês, antes movimentados, agora operam com apenas algumas pessoas. Fábricas mantêm as portas fechadas em alguns dias da semana, e o tráfego e o número de deslocamentos caíram.

Em todo o país, mais empresas — tanto do setor relojoeiro quanto de outros — buscam auxílio do governo, com os pedidos de assistência financeira para licenças crescendo neste ano.

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Até mesmo a La Joux-Perret, uma das fabricantes de mecanismos mais respeitadas e bem-sucedidas da Suíça, está sentindo a pressão.

A desaceleração afeta diferentes áreas de formas distintas, por isso a empresa tem relocado funcionários para outras funções por enquanto, mas considera adotar licenças remuneradas caso a situação difícil persista.

“Em termos globais, comparando com anos anteriores, percebo claramente uma mudança”, disse Jean-Charles Maillard, chefe de vendas da empresa. “Os clientes que costumavam fazer grandes pedidos — grandes marcas de relógios — estão enfrentando diretamente a crise.”

Algumas empresas de alto perfil investiram recentemente em fabricantes de mecanismos, injetando recursos essenciais nos fornecedores dos quais dependem fortemente.

A Audemars Piguet adquiriu uma participação majoritária na Inhotec, e a LVMH comprou uma fatia minoritária na La Joux-Perret, que já colaborou estreitamente com marcas da LVMH, como a TAG Heuer.

O novo acordo comercial da Suíça chega pouco mais de uma semana após uma intervenção direta de algumas das pessoas mais influentes do setor empresarial suíço, incluindo Jean-Frederic Dufour, presidente da Rolex. Ele estava em um pequeno grupo de executivos que se reuniu com Donald Trump no Salão Oval, uma reunião que aparentemente deu novo impulso às negociações.

“A tarifa reduzida é um alívio importante e muito necessário para a indústria relojoeira, mas eu ainda não vejo uma luz no fim do túnel”, disse Patrik Hoffmann, presidente da Favre Leuba, marca fundada em 1737 e uma das mais antigas do mundo. “Há outros problemas, como China e Hong Kong, onde os números de exportação ainda estão mais de 30% abaixo do que eram há dois anos.”

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