Bloomberg — Os Estados Unidos discutem uma linha de swap de US$ 20 bilhões com a Argentina e estão prontos para comprar títulos de dívida em dólar do país, disse o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent.
Isso garante ao presidente Javier Milei “uma ponte” até as importantes eleições legislativas de meio de mandato no próximo mês.
O movimento mostra a disposição do presidente Donald Trump em ajudar seu aliado libertário a afastar uma corrida contra a desvalorização do peso.
Os dois líderes e suas equipes se encontraram na terça-feira (23) à margem da Assembleia Geral da ONU em Nova York, e Milei imediatamente agradeceu ao seu colega dos EUA pelo “firme apoio” nesta quarta-feira (24).
“O Tesouro está atualmente em negociações com autoridades argentinas para uma linha de swap de US$ 20 bilhões com o banco central”, disse Bessent em uma publicação no X. “Estamos trabalhando em estreita coordenação com o governo argentino para evitar volatilidade excessiva.”
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Os mercados argentinos, que foram afetados nas últimas semanas após o fraco desempenho de Milei em uma eleição provincial, subiram nesta semana em antecipação ao apoio dos EUA, sinalizado pela primeira vez na segunda-feira.
O peso subiu 2,4%, enquanto os títulos em dólar saltaram em toda a curva. Notas com vencimento em 2035, algumas das mais líquidas, subiram cerca de 4 centavos de dólar, apagando perdas observadas desde a eleição de Buenos Aires.
“Isso elimina a incerteza sobre as dificuldades de liquidez geradas pelo programa econômico até agora”, disse Federico Filippini, economista-chefe da Adcap Grupo Financiero.
“O anúncio de que o Tesouro estaria disposto a comprar diretamente dívida soberana aumenta significativamente a probabilidade de uma queda do risco-país a ponto de o governo poder emitir dívida no início de 2026.”
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Em declarações à Fox News na manhã desta quarta-feira, Bessent chamou a ajuda de “ponte para a eleição”, referindo-se às eleições de meio de mandato na Argentina, em 26 de outubro, nas quais Milei busca ampliar a presença de seu partido no Congresso, depois que os parlamentares, nas últimas semanas, tentaram derrubar seus vetos a projetos de lei de despesas.
“Não acho que o mercado tenha perdido a confiança nele, acho que o mercado está olhando para o espelho retrovisor e se deparando com décadas — cerca de um século — de terrível má gestão argentina”, afirmou Bessent.
Uma autoridade argentina vê o apoio como um momento para Milei mudar sua política cambial para que o banco central possa reconstruir suas reservas cambiais esgotadas.
Na semana passada, autoridades monetárias gastaram mais de US$ 1 bilhão para manter o peso dentro de uma faixa de negociação estabelecida em abril como parte do mais recente acordo da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Isso ajuda a corrigir as expectativas”, disse Daniel Marx, ex-secretário da Fazenda argentino que agora é diretor da consultoria Quantum Finanzas. “O ideal agora é avançar o mais rápido possível em direção a um mecanismo mais aberto e baseado no mercado” de câmbio, acrescentou.
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Este é o segundo grande alívio financeiro para a Argentina sob o governo Trump, à medida que seu governo assume um papel mais proeminente na política latino-americana.
Durante seu primeiro mandato, em 2018, Trump pressionou o FMI a aprovar um programa inicial de US$ 50 bilhões para o país sob o então presidente Mauricio Macri, um acordo que rapidamente se desfez.
Desde então, o FMI fechou mais dois acordos com a Argentina, incluindo o pacote de US$ 20 bilhões que Milei obteve neste ano.
Agora em seu segundo mandato, Trump alimentou as tensões com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ameaçou novas tarifas à presidente mexicana Claudia Sheinbaum, e ordenou ataques a barcos pertencentes a supostos narcotraficantes no Caribe como um aviso a Nicolás Maduro, da Venezuela. Enquanto isso, Milei fez repetidas viagens aos EUA para elogiar Trump publicamente.
Mesmo antes de Bessent detalhar o apoio financeiro nesta quarta-feira, economistas dos EUA criticaram Washington por apoiar as políticas econômicas de Milei depois que a Argentina falhou repetidamente em cumprir integralmente seus programas com o FMI, enquanto sua dívida soberana aumentou três vezes desde 2001.
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