Dólar? Na Argentina, bitcoin se torna novo hedge para inflação anual de 276%

Trocar pesos pela moeda americana, o principal refúgio durante décadas, perdeu parte de seu apelo nos últimos dois meses com a alta da taxa do câmbio paralelo

Argentinos recorrem a exchanges de criptomoedas para se proteger da perda de poder de compra do peso
Por Ignacio Olivera Doll
19 de Março, 2024 | 03:28 PM

Bloomberg — Os argentinos estão comprando bitcoin (BTC) para se proteger da inflação anual de 276% em vez de correrem para trocar os pesos por dólares, acabando com uma estratégia atemporal que tornou o país um dos principais lugares para a moeda americana no mundo.

As compras de bitcoin na Argentina - um dos países com maior adoção de criptomoedas globalmente - atingiram seu maior valor semanal em 20 meses na exchange de criptomoedas local Lemon, a mais popular entre os clientes de varejo do país sul-americano.

Os argentinos estão buscando formas de sobreviver a uma recessão e a uma das maiores taxas de inflação do mundo, enquanto o novo presidente Javier Milei implementa suas políticas de terapia de choque destinadas a redefinir a economia.

Trocar pesos por dólares, o principal porto-seguro durante décadas, perdeu parte de seu apelo nos últimos dois meses, já que a taxa de câmbio paralelo frequentemente usada teve alta de 10% em relação ao dólar, enquanto o BTC se valorizou quase 60% em relação ao dólar no mesmo período.

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A Lemon registrou quase 35.000 transações de clientes para comprar bitcoin na semana que terminou em 10 de março, o dobro da média semanal do ano passado.

  Em laranja, o número de compras de bitcoin por semanadfd

O comportamento foi semelhante a de clientes de outras grandes exchanges na Argentina, como Ripio e Belo.

Um dos principais motivos por trás da valorização do peso nas últimas semanas é o controle rigoroso de Milei sobre a quantidade de dinheiro em circulação, coibindo o seu crescimento enquanto o banco central reconstrói sua reserva de dólares em espécie.

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O volume em bitcoin e ethereum aumentou dez vezes até agora em 2024 em comparação com o mesmo período do ano passado na carteira digital Belo, disse o CEO Manuel Beaudroit em uma entrevista à Bloomberg News por telefone.

Ele observou que as compras de stablecoins – ativos de criptomoeda frequentemente vinculados a moedas como o dólar americano - caíram para 60%, versus 70% nesse período em 2023, à medida que a alta do bitcoin atraiu mais compradores.

“O usuário decide comprar bitcoin quando vê as notícias de que a moeda está subindo, enquanto a stablecoin é mais pragmática e muitas vezes usada para fins transacionais, como um veículo para fazer pagamentos no exterior”, disse Beaudroit.

A Argentina é um dos dois principais países do mundo, junto com a Rússia, em termos de envio de notas bancárias em dólares, de acordo com um estudo de 2012 do Federal Reserve.

O escritório de imprensa do Federal Reserve de Nova York se recusou a fornecer dados mais recentes.

Os poupadores da nação sul-americana detêm cerca de US$ 200 bilhões em moeda americana, um valor apenas superado pelos Estados Unidos e pela Rússia, segundo uma análise do economista argentino Nicolas Gadano com base em dados do banco central.

Diante da alta do bitcoin, os argentinos agora estão se desfazendo de parte de suas economias em dólares e buscando opções de investimento que lhes permitem, pela primeira vez em anos, se proteger da inflação.

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Consequentemente, houve um aumento de cinco vezes nos relatos de golpes envolvendo criptomoedas em fevereiro, de acordo com a Bitcoin Argentina, a principal organização não governamental do país no setor.

“O desespero dos argentinos para chegar ao final do mês sem perder suas economias os leva a tomar decisões precipitadas, sem medir os riscos, tornando-os alvos fáceis para os golpistas”, disse Gabriela Battiato, chefe jurídica da Bitcoin Argentina.

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