China nega proibição de iPhones, mas faz alerta sobre a Apple

Governo chinês teria planos de restringir uso de iPhones por funcionários do governo e empresas apoiadas pelo estado, de acordo com a Bloomberg News

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Por Bloomberg News
13 de Setembro, 2023 | 04:09 PM

Bloomberg — A posição do governo chinês em relação à Apple (AAPL) ficou ainda mais confusa nesta quarta-feira (13), quando Pequim negou as informações divulgadas de restrições ao iPhone, mas também apontou preocupações sobre os problemas de segurança do dispositivo.

A China não promulgou uma legislação para proibir a compra de telefones da Apple ou de marcas estrangeiras”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, em uma coletiva de imprensa regular em Pequim na quarta-feira.

Estes são os primeiros comentários do governo sobre os relatos de que as autoridades estariam controlando o uso de produtos da Apple pelos funcionários.

Mao também disse que o governo atribui “grande importância” à segurança e que todas as empresas que operam na China precisam obedecer à legislação. “Percebemos que houve muitas reportagens na mídia sobre incidentes de segurança relacionados aos telefones da Apple”, disse Mao.

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As observações deixaram os investidores norte-americanos inseguros quanto ao status da Apple na China – que é a base de produção da empresa e seu maior mercado internacional – justamente no momento de lançamento de um novo iPhone. As ações caíam até 1,3% em Nova York na quarta-feira, antes de recuperarem parte das perdas.

Os comentários de Mao sobre os incidentes de segurança foram ligeiramente diferentes na tradução oficial em inglês da coletiva de imprensa. Essa tradução, entregue simultaneamente no local pelo ministério, foi omitida a referência a “relatos da mídia”. As coletivas de imprensa do Ministério das Relações Exteriores costumam ser rigorosamente controladas e as respostas dos porta-vozes costumam ser programadas com antecedência, com traduções consistentes.

A coletiva de imprensa ocorreu poucas horas depois que a Apple apresentou o modelo mais recente de seu dispositivo principal, o iPhone 15. A empresa apresentou quatro novos modelos, mantendo o ritmo das últimas gerações: o iPhone 15, o 15 Plus, o 15 Pro e o 15 Pro Max. As pré-vendas do aparelho começam na sexta-feira (15).

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Um porta-voz da Apple não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

A Bloomberg News informou este mês que a China planeja expandir a proibição do uso de iPhones para uma infinidade de empresas e agências apoiadas pelo estado, um sinal de desafios crescentes para a Apple no país. Várias agências começaram a instruir os funcionários a não levarem seus iPhones para o trabalho.

A Apple também enfrentou uma série de problemas de segurança nos últimos meses. Um iPhone de um funcionário de uma organização da sociedade civil com sede em Washington foi hackeado remotamente com spyware criado pelo grupo NSO de Israel. A Apple confirmou o ataque e lançou um patch na semana passada para resolver o problema.

A agência de segurança da Rússia, conhecida como FSB, acusou uma agência de inteligência dos Estados Unidos não identificada, em junho, de invadir vários milhares de iPhones. Os ataques foram vinculados a cartões SIM registrados por diplomatas sediados na Rússia, incluindo alguns da China, segundo a agência.

A Apple não comentou na época se algum telefone russo foi violado, mas um porta-voz disse que a empresa não ajudou nenhum governo no suposto ataque, como o FSB deu a entender.

Se Pequim levar adiante a proibição do iPhone, o bloqueio sem precedentes será o ponto culminante de um esforço de anos para eliminar o uso de tecnologia estrangeira em ambientes sensíveis, coincidindo com o esforço de Pequim para reduzir sua dependência de software e circuitos americanos.

Há pouco mais de uma semana, a Huawei Technologies apresentou discretamente um smartphone com um chip alguns anos defasado em relação à tecnologia de ponta, que a mídia estatal chinesa saudou como um triunfo sobre as sanções dos EUA destinadas a conter a ascensão do país.

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Pequim estabeleceu leis para restringir severamente o fluxo de informações para além das fronteiras da China e para reforçar seu controle sobre as enormes quantidades de dados que serão fundamentais para o controle da segunda maior economia do mundo. Embora a Apple tenha mantido durante anos os dados dos usuários chineses completamente no país por meio de uma parceria com uma operadora de data center apoiada pelo Estado, outras empresas estrangeiras têm enfrentado dificuldades com as novas regulamentações que temem que possam prejudicar sua capacidade de operar.

Essas regras dão ao governo do presidente Xi Jinping o poder de fechar ou multar as empresas que vazarem ou manipularem incorretamente informações confidenciais. Este ano, Pequim também aplicou uma lei antiespionagem que as multinacionais estrangeiras temem que possa conceder às autoridades poderes sem precedentes para reprimir suas operações.

No caso da Apple, uma proibição ameaça corroer a posição da Apple em um mercado que gera cerca de um quinto de sua receita e de onde ela produz a maioria dos iPhones do mundo por meio de fábricas em expansão que empregam milhões de chineses. Vários analistas argumentaram que o novo telefone da Huawei tirará a participação de mercado da Apple, juntamente com os concorrentes nacionais.

O que diz a Bloomberg Intelligence

A proibição estendida da China sobre o uso de iPhones em agências governamentais é um curinga que pode prejudicar nosso cenário de recuperação das vendas do iPhone no próximo ano. A decisão proíbe o uso de equipamentos de fabricação estrangeira em departamentos sensíveis, embora não acreditemos que a Apple obtenha uma receita notável com as vendas para esse mercado final. Entretanto, o impacto dessa diretriz sobre o comportamento dos consumidores chineses não é claro. Embora as vendas na China tenham se acelerado no terceiro trimestre fiscal, um aumento no sentimento nacionalista pode prejudicar as perspectivas da Apple.

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-- Anurag Rana e Andrew Girard, analistas

Por enquanto, não está claro quantas empresas ou órgãos poderiam eventualmente adotar restrições a dispositivos pessoais, e ainda não houve nenhuma liminar formal ou por escrito, informou a Bloomberg News. É provável que as empresas ou organizações estatais variem em relação ao rigor com que aplicam tais proibições, sendo que algumas proíbem o uso de dispositivos Apple no local de trabalho, enquanto outras podem impedir totalmente o uso desses dispositivos pelos funcionários.

--Com a colaboração de Lulu Shen e Sarah Zheng.

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