China investiga os EUA por dumping e práticas discriminatórias em chips e IA

Ofensiva chinesa ocorre dias após os EUA terem ampliado as restrições a companhias de tecnologia do país e promete tensionar ainda mais as conversas bilaterais

Os semicondutores se tornaram um importante campo de contestação, já que os EUA cortaram o acesso da China aos aceleradores de inteligência artificial mais avançados (Foto: Dario Pignatelli/Bloomberg)
Por Bloomberg News
13 de Setembro, 2025 | 01:16 PM

Bloomberg — A China iniciou duas investigações sobre o setor de semicondutores dos EUA antes das negociações planejadas entre as duas nações sobre comércio e outras questões.

O Ministério do Comércio disse em um comunicado divulgado neste sábado (13) que abriu uma investigação antidumping relacionada a certos chips de CI analógicos fabricados nos Estados Unidos, o tipo de produtos vendidos pela Texas Instruments e Analog Devices.

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Ao mesmo tempo, o ministério também deu início a uma investigação sobre as práticas discriminatórias dos EUA contra o setor de chips chinês, de acordo com um comunicado separado.

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As investigações ocorrem pouco depois que os EUA acrescentaram mais 23 empresas sediadas na China à sua lista de entidades, que impõe restrições às empresas consideradas “contrárias à segurança nacional ou aos interesses da política externa dos EUA”.

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A repreensão pública da China às medidas comerciais dos Estados Unidos estabelece uma abertura tensa para uma reunião de vários dias entre as principais autoridades de ambos os lados.

O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, deverá se reunir com o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, em Madri, para discutir questões comerciais, econômicas e de segurança nacional.

As conversas acontecem após meses de idas e vindas nas negociações comerciais e uma pausa nas tarifas elevadas do governo Trump sobre a China, enquanto os dois lados buscam chegar a um acordo mutuamente aceitável.

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Os semicondutores se tornaram um importante campo de contestação, já que os EUA cortaram o acesso da China aos aceleradores de inteligência artificial mais avançados e usaram o licenciamento de alguns hardwares menos potentes da Nvidia como moeda de troca - embora as autoridades chinesas tenham recuado e expressado reservas sobre os riscos de segurança.

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O estado instável das negociações também se expressou no fato de a China ter feito recentemente seu primeiro uso da chamada investigação anticircunvenção que levou a taxas antidumping sobre as importações de fibra óptica dos EUA. Espera-se que essa ferramenta desempenhe um papel mais importante no futuro, de acordo com a TV estatal.

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“Os EUA adotaram uma série de proibições e restrições contra a China no campo dos circuitos integrados nos últimos anos, incluindo investigações 301 e medidas de controle de exportação”, disse um porta-voz do Ministério do Comércio em outro comunicado.

“Essas práticas protecionistas são suspeitas de discriminação contra a China e são uma contenção e supressão do desenvolvimento chinês de chips de computação avançada e indústrias de alta tecnologia, como a inteligência artificial.”

Os funcionários do Representante de Comércio dos EUA e os porta-vozes da Texas Instruments e da Analog Devices não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.

As discussões de Bessent e He abrangerão, entre outros assuntos, a situação do TikTok da ByteDance, um serviço que o presidente Donald Trump estimou que poderia valer até US$ 500 bilhões para os EUA.

O TikTok tem até a próxima semana para chegar a um acordo que garanta a continuidade de suas operações nos EUA, embora esses prazos já tenham sido prorrogados várias vezes este ano.

Os esforços para combater a lavagem de dinheiro também estarão em pauta, de acordo com o Departamento do Tesouro dos EUA.

Em janeiro, a China afirmou que investigará as alegações de que os Estados Unidos se desfazem de chips de baixa qualidade e subsidiam injustamente seus próprios fabricantes de chips, o que marca uma das mais fortes medidas de retaliação de Pequim contra as sanções tecnológicas americanas.

A investigação antidumping durará cerca de um ano e poderá ser prorrogada por mais seis meses, se necessário, enquanto a investigação antipreconceito geralmente leva cerca de três meses, de acordo com o órgão regulador do comércio.

--Com a ajuda de Debby Wu, María Paula Mijares Torres e Jacob Gu.

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