China dribla tarifas dos EUA na América Latina e impulsiona exportações da região

Estudo publicado pela Cepal indica que as exportações regionais de mercadorias para a China aumentariam em 7% em valor neste ano, especialmente pelo aumento das vendas de carne e soja e pelos preços mais altos de minerais como o cobre

Carguero
24 de Novembro, 2025 | 01:11 PM

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Bloomberg Línea — A China deverá ser o destino de maior crescimento para as exportações de produtos da América Latina e do Caribe este ano, em meio a tensões comerciais e guerras tarifárias, de acordo com projeções da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

O Panorama do Comércio Internacional para a América Latina e o Caribe 2025, publicado pela Cepal esta semana, sugere que as exportações regionais de mercadorias para a China aumentariam em 7% em valor neste ano.

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Essa dinâmica seria influenciada pelo aumento das vendas de carne e soja e pelos preços mais altos de minerais como o cobre.

“No médio prazo, a questão das iniciativas voltadas para a diversificação das relações comerciais, do portfólio de mercados de destino e dos parceiros comerciais é fundamental”, disse José Manuel Salazar-Xirinachs, secretário executivo da Cepal, na apresentação do relatório.

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“A lista depende de cada país, mas em geral, obviamente, os maiores mercados são a União Europeia, a China, vários países asiáticos, a Índia, o grupo da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), os países do Golfo Pérsico e a Arábia Saudita”, disse Salazar-Xirinachs. “Há vários mercados extremamente dinâmicos no mundo” com os quais a América Latina já está fazendo negócios.

Em termos de importação de bens, a Cepal também destaca o desempenho esperado para este ano das compras da China (aumento esperado de 13%) e do restante da Ásia (18%).

De acordo com os números fornecidos pela Embaixada da China na Colômbia à Bloomberg Línea, o gigante asiático considera a região como seu segundo maior destino de investimentos estrangeiros.

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Até o final de 2023, o investimento direto acumulado da China na região atingiu US$ 600,8 bilhões e , em 2024, o comércio bilateral ultrapassou US$ 518,4 bilhões.

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A Cepal projeta que o valor das exportações regionais de bens da América Latina e do Caribe crescerá 5% em 2025, semelhante à dinâmica de 2024 (4,5%).

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Essa dinâmica será sustentada por um aumento de 4% nos volumes de exportação e um aumento de 1% nos preços.

Com relação à Guiana e ao Panamá, a Cepal destacou que eles liderarão o crescimento das exportações em 2025 devido ao boom do petróleo e do cobre, respectivamente, enquanto Cuba e Venezuela serão os únicos países com declínio.

Novo cenário tarifário

A nova estratégia tarifária dos EUA sob a administração Trump está alterando a dinâmica do comércio global e esfriando as perspectivas para 2026 .

A América Latina, apesar dos desafios, está mais bem posicionada do que outras regiões do mundo em termos de tarifas.

De acordo com o relatório da Cepal, os países da América Latina e do Caribe enfrentam uma tarifa média efetiva de cerca de 10% nos EUA.

A maior tarifa média é enfrentada pelo Brasil (33%), seguido pelo Uruguai (20%) e pela Nicarágua (18%).

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Enquanto isso, o México “enfrenta uma tarifa média efetiva de 8%, o que se explica pelo fato de que a maioria de suas exportações entra sem tarifas, seja porque estão cobertas pelo Tratado entre México, Estados Unidos e Canadá (T-MEC) ou porque não estão incluídas nos aumentos”, de acordo com a CEPAL.

Linha de ação

Com relação às recomendações para o novo cenário tarifário, a Cepal propôs três linhas de ação.

A primeira é justamente avançar em direção a essa diversificação de mercado.

Ele também prevê evitar respostas que aumentem as tensões e favorecer a negociação, além de promover a integração regional.

“Já vimos que os EUA estão dispostos a negociar até mesmo para reduzir (as tarifas), para introduzir exceções, portanto, essa é a estratégia que consideramos mais inteligente nessa situação”, disse Salazar-Xirinachs.

Também reconheceu que as tarifas poderiam ter efeitos adversos para os EUA, como pressões inflacionárias e um impacto sobre cadeias de produção estratégicas, especialmente aquelas ligadas ao México e ao Canadá, o que explica o tom mais pragmático que Washington adotou em suas negociações.