Brasil e México tentam avançar em acordo comercial diante de impasse com Trump

Lula e Sheinbaum articulam cooperação que pode abranger o comércio bilateral de produtos farmacêuticos, de energia, agrícolas e aeroespaciais; tarifas de Trump entram em vigor em 1º de agosto

Rio de Janeiro (RJ), 18/11/2024 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva recebe a presidente do México Claudia Sheinbaum, durante cumprimentos aos líderes do G20. Foto: Ricardo Stuckert/PR
Por Simone Iglesias - Maya Averbuch
24 de Julho, 2025 | 07:37 AM

Bloomberg — Os líderes do Brasil e do México estão buscando ampliar os laços comerciais, à medida que as preocupações com as tarifas dos EUA se aprofundam para ambas as economias voltadas para a exportação, antes do prazo final estabelecido pelo presidente Donald Trump, que se aproxima rapidamente.

Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e a presidente do México, Claudia Sheinbaum, conversaram por telefone na quarta-feira, de acordo com um comunicado do gabinete do líder brasileiro, já que ambos os governos se preparam para novas e onerosas taxas de exportação de produtos enviados aos EUA, caso Trump leve adiante suas últimas ameaças tarifárias.

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Os dois líderes de esquerda concordaram que o vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, viajará para o México em agosto a fim de elaborar um possível acordo.

Esse pacto poderia abranger o comércio bilateral de produtos farmacêuticos, energia, agricultura e aeroespacial.

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Lula está procurando firmar acordos com seus aliados enquanto seu governo também tenta chegar a um acordo com os EUA antes que a tarifa de 50% anunciada por Trump sobre as importações do Brasil entre em vigor em 1º de agosto.

Alckmin viajará ao México junto com uma delegação de líderes empresariais brasileiros nos dias 27 e 28 de agosto.

Lula “enfatizou a importância de aprofundar as relações econômicas e comerciais entre os dois países, especialmente diante do atual momento de incerteza”, segundo o comunicado.

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O escritório de Sheinbaum não respondeu imediatamente a um pedido de comentário, mas em uma breve postagem no X confirmou a ligação e a visita, dizendo que o objetivo seria “aprofundar nossa colaboração” sem entrar em mais detalhes.

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Em novembro passado, Sheinbaum conversou com Lula quando ele viajou ao Brasil para a reunião de cúpula do G20 no Rio de Janeiro.

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Os dois se encontraram novamente em junho durante a reunião do G7 no Canadá. No âmbito do setor, as duas maiores economias da América Latina também procuraram maneiras de colaborar, inclusive em um evento aeroespacial mexicano este ano, no qual o Brasil foi o convidado de honra.

Os governos brasileiro e mexicano têm se envolvido discretamente em discussões de bastidores desde antes da posse de Trump em janeiro, antecipando uma mudança em direção a políticas comerciais e de imigração mais severas nos EUA.

Mas as negociações comerciais assumiram uma urgência renovada nos últimos meses, de acordo com uma fonte com conhecimento do assunto.

As ameaças de Trump aos exportadores brasileiros decorrem, em parte, da defesa que o líder norte-americano fez do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que está sendo julgado sob a acusação de tentativa de golpe.

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, revogou recentemente o visto americano do juiz da Suprema Corte brasileira que supervisiona o julgamento, depois que o tribunal superior ordenou que a polícia invadisse a casa de Bolsonaro. Lula reagiu à postura de Trump como uma interferência estrangeira injustificada.

Há anos, o México procura diversificar seus parceiros comerciais, pois está especialmente vulnerável, já que cerca de 80% de suas exportações são enviadas para compradores dos EUA. Em uma ação recente, o governo de Sheinbaum finalizou um acordo comercial com a União Europeia no início deste ano.

Jimena Zuniga, analista da Bloomberg Economics, observou que a aproximação do Brasil com o México se encaixa em um “ímpeto mais amplo de diversificação de mercados”.

Ela apontou para um recente impulso do bloco comercial Mercosul da América do Sul, onde o Brasil tem influência, para aprofundar o envolvimento com a Associação Europeia de Livre Comércio, conhecida como EFTA.

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“Sheinbaum vai lidar com isso com cuidado”, acrescentou Zuniga, argumentando que ela provavelmente evitará dar a impressão de que está se aliando ao Brasil em detrimento dos EUA.

Depois de concretizar algumas ameaças tarifárias no início deste ano, Trump ameaçou impor uma tarifa de 30% sobre a parcela relativamente pequena das exportações mexicanas que não são comercializadas no âmbito do acordo comercial norte-americano USMCA, apesar da cooperação do México em questões de segurança e migração.

--Com a ajuda de Alex Vasquez.

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