Aliança de valores do Ocidente ‘não existe mais’, diz chanceler da Alemanha

Friedrich Merz disse que nova estratégia de segurança nacional dos EUA, divulgada na semana passada é inaceitável para a Europa; aliança ocidental ‘deixou de ser um vínculo normativo que nos mantém unidos’

Friedrich Merz
Por Michael Nienaber - Kamil Kowalcze
09 de Dezembro, 2025 | 05:25 PM

Bloomberg — O chanceler alemão Friedrich Merz afirmou que a aliança de valores normativos baseada em regras, que antes unia os Estados Unidos e a Europa, chegou ao fim, criando desafios inéditos para seu país.

“O que antes chamávamos de Ocidente normativo não existe mais nessa forma”, disse Merz em um evento com empregadores em Berlim nesta terça-feira (9). “No máximo, continua sendo uma designação geográfica, mas deixou de ser um vínculo normativo que nos mantém unidos.”

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A nova estratégia de segurança nacional dos Estados Unidos, divulgada na semana passada, deixou claro que o discurso do vice-presidente JD Vance em fevereiro, no qual ele atacou a Europa durante a Conferência de Segurança de Munique, não foi um deslize, mas o início de um realinhamento estratégico dos Estados Unidos, disse Merz.

“Isso afeta a política externa, a política de segurança e também a política europeia — na medida em que ela existe”, afirmou.

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Em conversa com repórteres mais cedo nesta terça-feira, o líder de centro-direita classificou parte da nova estratégia americana como inaceitável para a Europa e aconselhou o presidente Donald Trump a evitar agir sozinho.

O líder alemão afirmou não ter se surpreendido com o documento, já que Vance havia defendido pontos semelhantes em fevereiro, ao promover uma agenda de “América em Primeiro Lugar”.

Trechos da nova estratégia são “compreensíveis, alguns são assimiláveis, e outros são inaceitáveis para nós sob uma perspectiva europeia”, disse Merz durante uma visita a Mainz, cidade a cerca de 80 quilômetros da base aérea americana de Ramstein.

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O texto, publicado em 5 de dezembro e assinado por Trump, alerta que a Europa enfrenta uma “aniquilação civilizacional” após décadas de declínio econômico e de falhas políticas e culturais.

O documento foi amplamente visto como mais uma confirmação de que os Estados Unidos voltaram seu foco para sua própria vizinhança e identificam um desalinhamento entre a doutrina “América em Primeiro Lugar” de Trump e países europeus como a Alemanha, que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Merz disse esperar que o governo Trump “reconheça que somos parceiros e que temos um objetivo comum: a preservação da liberdade, da segurança e da paz em nosso continente”.

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“Isso confirma minha avaliação de que nós, na Europa — e, portanto, também na Alemanha —, precisamos nos tornar muito mais independentes dos Estados Unidos no campo da segurança”, acrescentou, afirmando que o slogan “América em Primeiro Lugar” é legítimo, mas que “América Sozinha” não pode estar no interesse dos Estados Unidos.

“Os Estados Unidos também precisam de parceiros no mundo, e um desses parceiros pode ser a Europa”, disse Merz. “Se não conseguem lidar com a Europa, então ao menos façam da Alemanha sua parceira. É isso que estou tentando construir.”

“Espero que os americanos nos acompanhem nesse caminho, que considerem isso correto e necessário também para seus próprios interesses”, afirmou.

Merz sugeriu que o discurso de Vance em Munique ajudou a impulsionar a Alemanha em direção a uma grande expansão militar.

“Aquele discurso realmente provocou algo em mim, e os resultados disso podem ser vistos hoje em nossos gastos com defesa”, disse.

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-- Com a colaboração de Jenni Thier.

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