Empresas dos EUA estão pouco vulneráveis às tarifas, diz gestor do BNP Paribas

Em entrevista à Bloomberg Línea, Christian Fay, portfolio manager da BNP Paribas Asset, destaca resiliência das companhias americanas, especialmente em tecnologia e IA, mas com ressalvas dentro das chamadas ‘Mag Seven’

S&P 500 Hits All-Time Highs As Earnings Roll In
25 de Julho, 2025 | 05:30 AM

Bloomberg Línea — As empresas dos Estados Unidos estão pouco vulneráveis à guerra comercial perpetrada pelo presidente americano Donald Trump, na avaliação de Christian Fay, portfolio manager da gestora do BNP Paribas nos EUA.

“Para as ações de nossa cobertura, vemos um impacto bem pequeno das tarifas. Os investidores estão mais construtivos no mercado americano agora do que estiveram no início do ano”, afirmou Fay em entrevista à Bloomberg Línea.

PUBLICIDADE

A percepção é que o chamado “excepcionalismo americano” continua válido para o universo das ações.

Amplamente difundido no mercado para justificar a prevalência dos mercados dos EUA sobre outras opções geográficas de investimento, o conceito tem sido colocado em xeque nos últimos meses diante dos efeitos de médio e longo prazo esperados das políticas de Trump, o que levou a uma procura por diversificação.

Leia também: Dilema em Wall Street: resultados sólidos, mas ações ‘indiferentes’ aos ganhos

PUBLICIDADE

O mais afetado tem sido o dólar: a moeda americana acumula queda de 10,5% neste ano segundo o índice DYX, que mede a força da divisa frente a uma cesta de moedas fortes.

As ações, no entanto, seguem fortes: os índices S&P 500 e Nasdaq, este último voltado a empresas de tecnologia, estão navegando em máximas históricas neste mês de julho – bem longe das mínimas do ano em abril quando Trump anunciou sua primeira onda de tarifas unilaterais.

O gestor destaca três fatores macroeconômicos que ajudam a explicar esse movimento.

PUBLICIDADE

O primeiro é a aprovação da lei tributária de Trump há duas semanas – havia a preocupação de que o projeto não passaria por aumentar os gastos públicos.

O segundo ponto é que há uma expectativa de redução dos juros nos EUA, apesar de sinais iniciais de pressão sobre os preços por causa das tarifas.

A projeção do mercado é a de que haverá pelo menos dois cortes ainda neste ano, segundo ferramenta de monitoramento do CME Group – novo estímulo para as empresas americanas.

PUBLICIDADE

As tarifas ainda não parecem ter impactado a inflação a ponto de prejudicar os negócios e os resultados das companhias americanas, segundo o divulgado até aqui na temporada relativa ao segundo trimestre.

Fay reforçou que a abordagem da BNP Paribas Asset é bottom-up, focada mais nos fundamentos de cada companhia do que no cenário econômico. “Tivemos uma small cap que caiu 50% por causa das tarifas da China, e dissemos: vamos mantê-la. E ela subiu 105% no último mês”, afirmou.

Leia mais: Tarifas e ruídos não tiram brilho dos EUA entre investimentos no exterior, avalia BTG

“Portanto, tentamos não ser muito reativos ao que está acontecendo fora do nosso universo e das nossas ações”, completou.

As apostas da BNP Paribas Asset

Tecnologia é o setor principal dentro dos portfólios da gestora nos EUA: representa perto de 53% do fundo de growth e, um pouco menos, 30% no produto de small caps, que não conta com o peso das “Sete Magníficas” (Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla).

Apesar dos recordes sucessivos no preço das ações e dos valuations elevados, Fay disse não ver indícios de bolha ou saturação nesse mercado.

“A questão vai além do valuation atual e [importa] mais para onde ele pode ir. Há três anos já se questionava o potencial da Nvidia de dobrar de tamanho e a empresa quadruplicou desde então”, afirmou.

Ainda assim, nem todas as gigantes do seleto grupo estão no mesmo patamar, segundo ressaltou. A gestora tem posição vendida na Apple contra outras empresas do grupo das “Sete Magníficas”.

“É uma companhia que não tem o mesmo potencial de crescimento das demais, tanto por não ser protagonista da corrida da inteligência artificial quanto por ter o foco no consumo. Você não precisa comprar um novo iPhone todo ano”, argumentou.

A Amazon, por outro lado, é uma das favoritas justamente por não ser apenas uma empresa de consumo. “É uma companhia híbrida magnífica, com margens excelentes, especialmente com a AWS, que a torna muito mais do que uma empresa de varejo.”

Outra aposta é a Meta, que tem investido pesado em inteligência artificial, “pagando salários dignos do futebol europeu para atrair talentos” e que conta com uma larga vantagem por ser uma gigante em dados pessoais, com capacidade incomparável de aproveitar essa base.

O foco, segundo Fay, é buscar tendências disruptivas.

Entre as small caps, o gestor destacou os cases da Toast, fintech que desenvolve uma plataforma de gestão integrada para restaurantes, e a iRhythm, healthtech que fornece diagnóstico cardíaco remoto.

“Para que a ação entre no portfólio, é preciso que ela se encaixe na nossa filosofia: fluxos de caixa resilientes, bom balanço patrimonial e atuação inovadora e disruptiva”, explicou.

Leia também

Nubank prepara novo salto para engajar cliente para além do serviço financeiro

Banco do Brasil mira liderança no mercado de carbono com oferta ‘one-stop-shop’

Vantagem dos EUA sobre o mundo vai se ampliar, diz head de estratégia do J.P. Morgan

Beatriz Quesada

Jornalista especializada na cobertura econômica. Formada pela USP, escreve sobre mercados, negócios e setor imobiliário. Tem passagens por Exame, Capital Aberto e BandNews FM.