Bloomberg Línea — A economia brasileira entrou em um novo regime caracterizado por inflação em alta e juros em queda, com a precificação de cortes mais adiante pelo mercado.
Nesse quadro, abre-se uma janela mais fértil para valorização de ativos de risco, o que torna “inevitável” a realocação em renda variável, segundo análise de Raphael Figueredo, o Rafi, estrategista de ações da XP.
“Em tempos de mudanças estruturais nos ciclos econômicos, ignorar a renda variável é mais do que um erro tático — é uma omissão estratégica", sustenta Rafi em relatório distribuído a clientes neste fim de tarde de terça-feira (24), ao qual a Bloomberg Línea obteve acesso.
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Segundo o relatório, a recente mudança no regime de juros e inflação no Brasil, identificada pelo modelo quantitativo da XP em 7 de maio, abre uma nova fase de “ambiente historicamente mais favorável a bolsa, com 62,5% de probabilidade de retornos positivos para o Ibovespa, segundo os ciclos anteriores”.
São regimes que, na média das duas últimas décadas, duraram 164 dias e geraram retorno anualizado para o Ibovespa de 7,6%. Essa conjunção de inflação subindo e juros em queda aconteceu pela última vez no começo de 2020, período marcado pelo início da pandemia de covid no mundo e no Brasil.
Rafi, como é conhecido no mercado, ex-CEO e ex-estrategista-chefe da Eleven Financial, destacou que não se trata de buscar acertar o “timing perfeito” de reentrada na bolsa mas de “alinhar probabilidade e tendência”.
“Estar posicionado neste momento significa aumentar as chances de estar do lado certo da assimetria”, disse o estrategista de ações da XP.
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“Todo investidor experiente sabe: os ciclos de política monetária antecedem os impactos reais nos ativos de risco.”
Ele argumenta no relatório que, “quando a política monetária começa a afrouxar em meio a uma inflação resiliente, a simetria do retorno muda de lado. O risco de errar ao se posicionar cedo demais passa a ser menor do que o custo de perder o movimento”.
“O mais interessante é que, historicamente, esse regime não concentra desempenho em um único setor — pelo contrário, bancos, varejo e até ações de baixo risco brilham."
Nesse tipo de ambiente, segundo o relatório com base em dados históricos, “ações de baixo risco superaram o Ibovespa em 85,7% das vezes; e ações de valor superaram o índice em 71,4% das ocorrências.
“Mas não se trata apenas de olhar para trás”, esclarece Rafi no relatório intitulado “O mercado de ações se tornou inevitável”.
Reprecificação dos fluxos de caixa
“Com a queda dos juros, o custo de capital das empresas diminui, permitindo a expansão dos múltiplos de valuation, como P/L e EV/EBITDA. É um movimento técnico: a reprecificação dos fluxos de caixa futuros acontece antes da melhora visível nos resultados", aponta o estrategista.
Segundo ele, setores ligados à atividade interna e companhias com ativos descontados são os primeiros a capturar esse efeito.
Diante desse quadro, Rafi diz que é momento de adicionar o componente de risco de maneira disciplinada, aderente ao orçamento de risco de cada investidor e conectado ao ciclo vigente.
O estrategista também faz a ponderação da mudança da composição do portfólio à luz do predomínio de ativos de renda fixa nos últimos anos, na esteira de juros reais em patamares mais elevados.
“O novo regime convida — ou melhor, sugere — uma revisão estratégica. Manter uma superexposição à renda fixa em um momento de inflexão de juros é o equivalente a remar contra a corrente. O prêmio que ontem parecia seguro pode representar a oportunidade perdida de amanhã“, escreve.
O relatório que apontou a mudança de regimes, distribuído em 7 de maio, é assinado por Júlia Aquino e Lucas Rosa, ambos estrategistas quantitativos, além de Fernando Ferreira, estrategista-chefe e Head de Research da XP; e o próprio Rafi e Felipe Veiga, ambos como estrategistas de ações.
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