Bloomberg Línea — O mercado náutico nordestino emerge como próxima fronteira de crescimento para fabricantes e revendas de embarcações, impulsionado pela cultura náutica consolidada e pelo poder aquisitivo regional.
Três estados figuram no radar de expansão: Pernambuco, Ceará e Sergipe, que abrigam estaleiros estabelecidos e vias navegáveis com demanda crescente.
“São três estados navegáveis e são os três estados de pessoas que têm cultura pelo barco. O poder aquisitivo, todos os estados do Brasil têm”, disse Mychel Reis, diretor da UltraBoats Náutica e representante oficial da Triton Yachts no Rio de Janeiro, em entrevista à Bloomberg Línea.
A empresa, especializada em venda, aluguel e reforma de lanchas sediada em Angra dos Reis, mantém operação em Salvador e estrutura estratégia de crescimento regional a partir da Bahia.
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A escolha dos três estados considera a presença de indústria náutica local. Pernambuco abriga estaleiros como a NX Boats, enquanto o Ceará conta com a Inace (Indústria Naval do Ceará). A infraestrutura existente indica mercados com demanda consolidada e conhecimento técnico para suporte e manutenção de embarcações.
Essa base industrial, no entanto, convive com desafios estruturais que limitam o crescimento mais acelerado do setor. Salvador possui três grandes marinas e um clube náutico para atender mais de 40 mil embarcações registradas na Bahia, segundo dados da Marinha do Brasil. A capacidade contrasta com Angra dos Reis, que conta com 40 marinas e ainda apresenta déficit de vagas.
“Quando há menos barcos, há menos marina, há menos infraestrutura”, observa Reis, que atua há 20 anos no setor náutico.
A diferença reflete-se na oferta de serviços especializados.
“Aqui em Angra há uma marina com 20 a 30 galpões de reforma. Você consegue fazer absolutamente tudo o que você precisa do seu barco na região. Lá você tem mais dificuldades. Tem que importar mão de obra”, complementa.
Além da infraestrutura, a geografia determina padrões distintos de consumo entre as regiões. Em Angra dos Reis, embarcações acessam 50 praias em 15 minutos de navegação. Em Salvador, a praia mais próxima fica a uma hora de distância, e destinos como Morro de São Paulo demandam até uma hora e meia de trajeto.
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“Em Angra, você está a 15 minutos, você está dentro de outro ponto para aproveitar seu dia. Lá não tem essa facilidade que nós temos aqui”, compara o executivo.
A diferença geográfica molda o perfil de uso: no Sudeste predomina o day-use, com passeios curtos e múltiplos destinos; na Bahia, a navegação privilegia deslocamentos longos e permanência em pontos específicos.

Diferenças regionais
As distâncias maiores influenciam diretamente as especificações técnicas demandadas pelo mercado nordestino.
“Lá você precisa ter mais motor. O mar lá é mais batido do que aqui. Então você precisa ter mais desempenho”, destaca Reis.
Embarcações vendidas para Salvador utilizam majoritariamente motores de popa, configuração que oferece maior velocidade e eficiência em trajetos longos.
O movimento representa mudança cultural no mercado brasileiro.
“Aqui no Brasil você tem uma cultura muito grande de barcos com motores de centro, que você tem uma popa maior. Principalmente na Bahia, a grande maioria dos barcos que vão são com motor de popa”, explica o executivo.
A preferência no Sudeste por motores de centro relaciona-se à priorização de áreas de lazer ampliadas, adequadas ao uso prolongado da embarcação.
“Aqui você pega o barco e passa o dia no seu barco. Você faz um churrasco, você passeia, você às vezes até pernoita no barco”, detalha Reis sobre o padrão de consumo no Sudeste.
A diferença de uso justifica as variações técnicas entre as regiões. A limitação de destinos próximos, por sua vez, restringe o turismo náutico inter-regional.
“Você não vai ter uma migração de pessoas das outras regiões indo para passear em Salvador. Lá sempre vai ser regional”, projeta o representante.
O padrão repete-se em outros mercados com características geográficas similares, como Guarujá, litoral paulista, que possui apenas dois destinos para navegação, e Rio de Janeiro.
“Navegar no Rio também é similar ao que acontece em Salvador. Poucos pontos, poucos locais para ir, muito mar aberto, o mar muito mais mexido”, compara o executivo.
A característica mantém esses mercados predominantemente locais, apesar da proximidade entre estados, e reforça a necessidade de infraestrutura para atender cada área.
Portfólio de R$ 400 mil a R$ 7 milhões
As diferenças regionais refletem-se diretamente na estratégia comercial da fabricante. A Triton 38 Flyer, lancha de 38 pés, figura como modelo mais vendido e exportado pela marca, com preços entre R$ 1,6 milhão e R$ 2,3 milhões dependendo da configuração de motores e equipamentos.
“Como é um produto artesanal, o cliente vai montar do jeito que for melhor para ele”, explica Reis.
A Triton 34 Flyer, embarcação de 34 pés, complementa os carros-chefes de vendas, enquanto a Triton 300 Sport, modelo de 30 pés, representa um modelo consolidado no portfólio.
O modelo de entrada, Triton 25, uma lancha de 25 pés, inicia em R$ 400 mil e atende compradores do primeiro barco ou operadores de charter.
No topo da linha, a Triton 52 Flyer, embarcação de 52 pés, alcança entre R$ 6,5 milhões e R$ 7 milhões, seguida pela Triton 44 Flyer, de 44 pés, que varia de R$ 4 milhões a R$ 6 milhões conforme as especificações.
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