Bloomberg Línea — O mercado de relógios de luxo no Brasil passa por uma fase de expansão, que pode se beneficiar ainda mais do recém-aprovado acordo entre Mercosul e EFTA (European Free Trade Association), bloco econômico que inclui a Suíça.
Nesse contexto, não são apenas marcas suíças que definem planos mais ambiciosos de crescimento: é também o caso da japonesa Seiko.
Após consolidar sua presença no Brasil com modelos acessíveis e de entrada, a marca de 144 anos de existência agora aposta em produtos de maior valor agregado para disputar espaço com suíças como Omega, Longines e Tag Heuer.
A decisão de apostar em produtos de mais alta gama reflete uma mudança no próprio papel do relógio. O acessório é consumido cada vez mais como símbolo de status e identidade, disse Fumio Tanaka, presidente da Seiko à frente da operação para a América Latina, em entrevista à Bloomberg Línea .
“Questionamos por que as pessoas, com smartphones, ainda compram relógios. Descobrimos a oportunidade no segmento premium, porque esse consumidor busca um relógio real, não apenas uma ferramenta para ver as horas”, afirmou Tanaka, que tem como base o Panamá.
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A percepção de luxo associada ao acessório ganha relevância em um país como o Brasil, onde o relógio é um dos bens mais exibidos como marcador social, ao lado de bens de consumo como carros e roupas de grife, entre outros.
A estratégia tem surtido efeito: as vendas da Seiko no Brasil cresceram em ritmo de três dígitos nos últimos 12 meses, segundo o executivo. Ou seja, pelo menos dobraram.
“Nos últimos dez anos, especialmente nos últimos cinco, a Seiko vem acelerando para conquistar posição no mercado premium. No Brasil, a mudança de percepção foi muito mais rápida do que em outras regiões”, disse Tanaka.
Segundo Tanaka, a operação brasileira é hoje uma das mais dinâmicas da Seiko, que tem presença global. “E é também um dos crescimentos mais rápidos entre todas as marcas com as quais competimos”, afirmou.
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A expansão, disse o executivo, não se deve ao aumento do número de pontos de venda mas à maior produtividade por loja.
“Trabalhamos muito para qualificar os pontos de venda, oferecer uma gama mais ampla de produtos e melhorar o serviço. Esse ganho de produtividade explica o crescimento”, completou.
No segmento premium, a Seiko se vê em disputa direta com marcas suíças tradicionais.
“O smartwatch não é o foco de nossa competição”, disse Tanaka.

Diferencial produtivo
“Um grande diferencial da Seiko em relação à concorrência é a manufatura própria. Todos os componentes são fabricados dentro da empresa, desde a montagem até o controle de qualidade”, disse o executivo.
Além disso, parte da montagem é feita na Zona Franca de Manaus, com componentes enviados do Japão, o que garante competitividade tributária. “Isso nos ajuda a oferecer preços mais adequados em determinados momentos”, explicou Tanaka.
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A trajetória da Seiko no Brasil começou com modelos de entrada como o Seiko 5, conhecidos pela durabilidade e pelo preço acessível - no Brasil, no varejo especializado, na faixa de R$ 2.000 a R$ 3.000, em geral.
Essa imagem de confiabilidade ajudou a popularizar a marca, mas criou também um desafio: reposicioná-la como premium em um mercado dominado por suíças.
“Continuamos oferecendo o Seiko 5 de entrada, mas nosso esforço está voltado para o segmento premium. Não estamos desenvolvendo novos produtos nessa faixa, apenas mantendo a demanda existente”, disse Tanaka.
Segundo ele, a receptividade do consumidor brasileiro surpreendeu a matriz. “No Brasil, a mudança de percepção para a Seiko como marca de luxo aconteceu muito mais rápido do que em outros mercados”, afirmou.
A estratégia atual da empresa combina a manutenção de linhas de entrada com um avanço consistente no posicionamento de alto valor. O tíquete médio das peças vendidas no país subiu nos últimos anos e deve continuar crescendo.
A amplitude do portfólio, que vai de esportivos acessíveis até peças sofisticadas de colecionador, permite que a Seiko se coloque como uma marca “democrática” em preços.
“Nossa média de preço tem aumentado gradualmente. Hoje dominamos a faixa entre R$ 3.000 e R$ 7.000, mas já lançamos um modelo em torno de R$ 30.000. Estamos nos posicionando cada vez mais no segmento de alto valor”, afirmou Tanaka.
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As vendas da marca no Brasil se dividem de maneira equilibrada entre três linhas principais
Prospex, com relógios esportivos; Presage, de peças tradicionais e elegantes, inspiradas em temas da cultura japonesa; e Sports, com coleção voltada a atrair novos consumidores para o universo da relojoaria mecânica.
Reputação como capital
A origem japonesa também pesa a favor da marca no Brasil, segundo o executivo.
“A identidade japonesa é muito importante. No Brasil, os produtos japoneses têm muito mais credibilidade do que os produtos de outros países”, disse Tanaka em referência a uma fama construída ao longo de décadas com a própria Seiko e outras marcas como Sony, Panasonic, Honda, Toyota e outras.
Esse capital simbólico, construído em torno da precisão e da confiabilidade associadas à indústria japonesa em geral, ajuda ainda nos dias de hoje a Seiko a se diferenciar em um mercado historicamente dominado pelos suíços.
Embora a Seiko não divulgue participação global do país em suas vendas, Tanaka reiterou que o Brasil é estratégico dentro da América Latina e um dos que mais crescem no mundo.
“O mercado brasileiro está em expansão acelerada e tem mostrado grande aceitação para o posicionamento premium da marca”, afirmou.
A meta, segundo ele, é seguir avançando em diferentes regiões do país, além de fortalecer a presença no eixo Sul-Sudeste, onde a demanda é mais concentrada. “Vemos o crescimento em todas as capitais, mas São Paulo e o Sul continuam sendo os principais mercados”, disse.
“Estamos em um momento muito positivo no Brasil, mas temos muito espaço para crescer. Acreditamos que, com a qualificação da carteira de clientes e lançamentos assertivos, vamos manter o crescimento acelerado”, disse Tanaka.
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