Bloomberg Línea — Uma empresa brasileira especializada em produtos para preparo de drinks faturou quase R$ 25 milhões no último ano sem precisar vender nem uma gota de álcool.
Para chegar a esse feito, a Easy Drinks focou no complemento para bebidas alcoólicas na hora de preparar coquetéis: de frutas a especiarias, xaropes, temperos, espumas e tudo o que for preciso para transformar uma dose de vodka em um cosmopolitan ou um moscow mule, ou uma de uísque em um penicillin, ou ainda uma medida de gim em um fitzgerald.
“Desde o começo o nosso negócio é baseado em preparados de frutas. O diferencial é que lançamos o primeiro produto de frutas para drinks que usa fruta em pedaços. É feito com qualidade e potencial de preparar uma ótima bebida”, disse Bruno Lot, sócio e cofundador da Easy Drinks, em entrevista à Bloomberg Línea.
Agora a empresa se prepara para ir além: passou a colocar máquinas capazes de preparar coquetéis de forma automática e em segundos em grandes festas e tenta tornar essa tecnologia um novo padrão em eventos de grande público.
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O sistema Drinks on Tap, desenvolvido em parceria com a Pernod Ricard, começou a ser testado em 2023 e ganhou escala no ano seguinte, quando serviu todos os coquetéis do Tomorrowland Brasil, exceto as misturas com energético.
“É como se fosse uma chopeira, com quatro torneiras. Dentro do equipamento, de um lado entra o destilado, e, do outro, uma bag de Easy Drinks com fruta. A máquina mistura, gaseifica quando precisa e dispensa na torneira”, disse Lot.
O modelo nasceu para atender operações de alto volume, em que a velocidade de preparo faz diferença no resultado do evento. “A máquina serve drinks em 30 segundos. O gargalo da máquina é servir gelo, e não mais fazer o drink”.
Segundo Lot, o sistema já foi usado em dezenas de grandes eventos desde o início do projeto, com 481 mil coquetéis servidos em festivais como o Tomorrowland e o Primavera Sound, além de rodeios e camarotes de carnaval.
“Não vemos quem usa os equipamentos voltando para um padrão anterior, em que precisa de uma brigada de bartenders em eventos de grande volume”, avaliou.
A tecnologia se tornou uma vitrine para a marca e passou a fazer parte da estratégia de crescimento.
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A empresa tem realizado pesquisas para comparar a experiência do consumidor com o drink feito à mão por um bartender e o drink da máquina.
“No começo do evento, a percepção do consumidor é muito parecida com a do drink servido pelo bartender. O grande diferencial da máquina começa a partir de duas horas de evento”, afirmou.
“A partir desse momento, há um fluxo maior de pessoas em busca de bebidas, enquanto os bartenders já estão cansados. A máquina entrega a mesma experiência do começo ao fim. A essa hora da festa ou do evento, a percepção do consumidor em relação ao drink servido na máquina é muito superior”, disse.
Essa mudança de padrão acontece em paralelo a uma relação ambígua com os profissionais de bar - seria esperado que especialistas em preparar coquetéis se sentissem ameaçados pela inovação.
“Há certa aversão do mixologista e do bartender ao uso dos produtos da Easy Drinks nos bares. Eles têm a percepção de que o nosso produto é para um consumidor amador e que estamos facilitando demais o processo”, disse.
Lot argumentou, entretanto, que o objetivo é complementar, e não substituir, o trabalho de criação. “Não é para competir com o bartender. Somos matéria-prima. Só estamos facilitando uma parte do processo dele”, afirmou.
Segundo ele, visitas de bartenders à fábrica ajudam a reduzir a resistência.
“Quando eles conhecem a nossa fábrica e veem o cuidado que temos para desenvolver e a preocupação em ter similaridade com o produto lá na ponta ao consumidor, isso acaba encantando”, disse.
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Crescimento de 20%
A Easy Drinks trabalha com ano fiscal no padrão europeu e fechou 2024/2025 com faturamento de R$ 25 milhões, com expansão de 16%, segundo o empresário.
“A projeção para este ano fiscal é faturar R$ 30 milhões, um crescimento de mais ou menos 20%”, disse.
A história da Easy Drinks começou em 2008, a partir da experiência da família com processamento de frutas. Fabrício Lot, irmão de Bruno, é engenheiro de alimentos e já havia trabalhado nessa frente.
A ideia de abrir uma empresa dedicada começou a tomar forma enquanto Fabrício estudava na França. “Ele estava um dia na maior fábrica de processamento de fruta do mundo, em Biars, quando viu um tacho gigante para produzir geleia e falou: ‘Isso parece uma caipirinha gigante’”, contou Bruno.
Daí veio o conceito de uma base pronta para caipirinha com pedaços de fruta brasileira para exportação. De volta ao Brasil, os irmãos começaram com atendimento a bares, casas noturnas e eventos.
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O Espaço das Américas, em São Paulo, tornou-se cliente em 2013, e a primeira tentativa de entrar no varejo ocorreu naquele ano, mas uma mudança na legislação passou a exigir registro no Ministério da Agricultura. A obtenção dessa permissão levou quatro anos, segundo o empresário.
No fim, a marca foi para o varejo em 2019. Na mesma época, a empresa lançou uma linha de espumas, com destaque para a de gengibre. Um vídeo sobre o produto nas redes sociais, às vésperas da pandemia, teve milhares de comentários e ajudou a impulsionar as vendas de outros itens da linha.
A pandemia acelerou o consumo doméstico de coquetéis e teve impacto direto sobre o resultado, principalmente por meio do e-commerce.
Bruno Lot contou que, nos primeiros 30 dias da operação digital, o faturamento chegou a R$ 375 mil; e, em dezembro de 2020, atingiu R$ 750 mil. “Desde então, em faturamento e volume de produto, só crescemos”, disse.
O portfólio hoje inclui mixers com pedaços de fruta, espumas e xaropes, todos não alcoólicos.
“Os principais produtos hoje são os preparados de frutas e as espumas. Nós processamos 500 toneladas de produto por ano”, disse. A fábrica fica em São Caetano do Sul, na região metropolitana de São Paulo.
Na visão do empreendedor, o mercado de bebidas passa por uma mudança estrutural que tende a impulsionar produtos como os da Easy Drinks, que são quase prontos para o consumo.
“O mercado de destilado tem caído de 2% a 3% no mundo, mas, quando contamos as bebidas ready to drink (RTD), ele cresce 1,1%”, disse.
Fora do Brasil, a Easy Drinks já exporta para o Paraguai e recebeu propostas para entrar em países como Equador, Argentina e Chile. Além do Brasil, o foco está nos Estados Unidos, onde a empresa abriu uma subsidiária.
“Não temos competidor para o nosso tipo de produto nos EUA”, disse.
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