Diante de seca, países africanos ampliam gastos para extrair água potável do mar

Argélia planeja gastar US$ 5,4 bilhões para ampliar maiores instalações de dessalinização da África, à medida que as mudanças climáticas pressionam os suprimentos de água

Instalações de dessalinização da Argélia, que planeja gastar US$ 5,4 bilhões para aumentar a capacidade de gerar água potável
Por Salah Slimani - Verity Ratcliffe
14 de Outubro, 2024 | 05:45 PM

Bloomberg — A Argélia planeja gastar US$ 5,4 bilhões para aumentar o que já são as maiores instalações de dessalinização da África, à medida que as mudanças climáticas pressionam o abastecimento de água do país membro da Opep, a organização dos países exportadores de petróleo.

Cinco novas usinas, que devem entrar em operação neste ano, aumentarão a quantidade de água potável que o país terá capacidade de produzir a partir do Mediterrâneo de 2,2 milhões para 3,7 milhões de metros cúbicos por dia, de acordo com Lotfi Zennadi, diretor executivo da estatal Algerian Energy. Mais seis instalações estão planejadas até 2030, disse ele.

A iniciativa ocorre no momento em que a nação norte-africana de 47 milhões de habitantes enfrenta uma queda drástica nas chuvas nas últimas duas décadas, que tem reduzido periodicamente os reservatórios e contribuído para incêndios florestais.

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Raros protestos eclodiram em uma cidade desértica atingida pela seca em junho, depois que as autoridades introduziram o racionamento de água.

A iniciativa da Argélia coloca o país na vanguarda de uma tendência crescente na África, onde o aumento da população e a escassez de água induzida pelo clima com mais frequência estão forçando os países a aumentar o investimento em dessalinização, apesar dos altos custos.

É um processo já favorecido por países ricos da Península Arábica, onde quase toda a água potável vem do mar e uma das maiores usinas do mundo está localizada em Jebel Ali, em Dubai.

A AEC, uma subsidiária da empresa estatal de petróleo Sonatrach, será proprietária e operará as usinas que usarão o processo de osmose reversa, que consome muita energia, disse Zennadi em uma entrevista à Bloomberg News na capital argelina, Argel.

Não ficou claro quanto gás natural será necessário para produzir eletricidade para as usinas. A exploração das vastas reservas nacionais do recurso pode afetar as quantidades excedentes para exportação cobiçadas pelos principais mercados europeus.

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Maior país da África em área territorial, a Argélia agora tem como meta obter 60% de sua água potável por meio de dessalinização até a virada da década, em comparação com os 42% atuais.

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As autoridades investem US$ 2,4 bilhões na primeira fase e US$ 3 bilhões na segunda, e cada uma das 11 instalações será capaz de produzir até 300 mil metros cúbicos de água potável por dia, de acordo com o CEO.

Isso culminará em uma capacidade total de cerca de 5,8 milhões de metros cúbicos até 2030.

A AEC cobrará da distribuidora estatal Algérienne Des Eaux de 52 a 100 dinares (o equivalente a US$ 0,39 a 0,76) por metro cúbico pela água, disse Zennadi. Os consumidores, no entanto, pagarão apenas uma fração desse valor, pois o governo vai subsidiar cerca de 95% do custo.

O desembolso multibilionário é significativo para a Argélia, mesmo que aconteça no momento em que ela se beneficia de uma recente receita inesperada de energia decorrente de seu status de fornecedor alternativo vital de gás para a Europa, em vez da Rússia.

Em outra parte do continente, o Marrocos espera gastar US$ 3,1 bilhões em instalações de dessalinização. A África do Sul, por sua vez, recorre à tecnologia para ajudar a abastecer a Cidade do Cabo, que chegou perigosamente perto de ficar totalmente sem água em 2018.

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