Mineração tem condições de reduzir emissões em 90% até 2050, diz diretor da Vale

Em entrevista à Bloomberg Línea, o diretor de Mudanças Climáticas, Rodrigo Lauria, fala da importância de grupos privados como a Coalizão Minerais Essenciais, para apontar caminhos para que o setor possa reduzir o seu impacto

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Bloomberg Línea — As edições anuais da COP, encontro da Organização das Nações Unidas (ONU) para tratar das mudanças climáticas, costumam seguir uma agenda de Estado, na qual as principais conversas e negociações acontecem entre nações e autoridades.

A COP30, que acontece em Belém até 22 de novembro, no entanto, abriu espaço para uma nova camada de protagonismo para o setor privado, segundo o diretor de Mudanças Climáticas e Descarbonização da Vale, Rodrigo Lauria.

“O setor privado sempre esteve presente, mas não como agora. A diferença é de proporção: nessa COP30, as empresas entenderam qual o seu papel e agora têm mais voz”, afirmou o executivo em entrevista à Bloomberg Línea.

Lauria disse que a agenda estimulada pela presidência da COP30, sob a liderança do embaixador e economista André Corrêa do Lago, motivou boa parte da mobilização corporativa em torno do evento.

A presidência brasileira da COP sugeriu com antecedência que seis setores chaves da economia do país – agricultura, energia, florestas, mineração, pecuária e transportes – se mobilizassem para propor caminhos de descarbonização até a realização do evento em Belém.

A Vale (VALE3) é uma das líderes na iniciativa da mineração, batizada de Coalizão Minerais Essenciais, que reúne 14 entidades e empresas do setor.

A coalização apresentou no início de outubro um estudo com alternativas para reduzir em até 90% as emissões de carbono do setor até 2050.

A redução viria com investimentos em cinco grandes frentes: eficiência energética, uso de biocombustíveis, expansão do uso de eletricidade de fontes renováveis, eletrificação da frota e recuperação de áreas degradadas. Não houve, no entanto, a fixação de prazos ou metas individuais para alcançar os objetivos.

No caso da Vale, a meta prevê a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) de escopo 1 e 2 (diretas e indiretas) em 33% até 2030 (com ano-base de 2017). O objetivo é zerar as emissões líquidas até 2050.

O maior desafio vem do escopo 3, que engloba a cadeia de valor, o que inclui fornecedores. É nessa cadeia que estão concentradas o equivalente a 98% das emissões da Vale. Nesse escopo, a meta é mais conservadora: reduzir as emissões em 15% até 2035 em relação ao ano-base de 2018.

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“A emissão da mineração em relação ao total das emissões brasileiras não é tão relevante, mas há um grande potencial no setor para descarbonizar outras cadeias”, afirmou o executivo da Vale.

A grande aposta da companhia reside na necessidade crescente de minerais críticos para viabilizar a transição energética. “Nossa capacidade de descarbonização afeta notadamente a siderurgia mas também toda a cadeia de eletrificação, englobando veículos elétricos, baterias, canais solares e afins”, disse.

Articulação no setor privado

Lauria reforçou que a movimentação empresarial em torno da COP30 não se restringe às companhias brasileiras e faz parte de um movimento internacional.

Uma das principais iniciativas nesse sentido é a articulação por meio do Sustainable Business COP (SB COP), inspirada no B20, grupo que representa o setor corporativo no G20.

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A expectativa é que o modelo seja incorporado nas demais conferências do clima e marque um ponto de virada nas COPs, na direção da implementação das discussões da conferência.

A Vale participa também da coalizão Carbon Measures, lançada em outubro. O objetivo é criar padrões de contabilidade de carbono mais precisos e estimular soluções de redução de emissões ao menor custo possível.

“Ficou claro o entendimento de que ninguém vai resolver o problema sozinho. É nesse contexto que as empresas se juntam em coalizões. No caso da Carbon Measures, houve uma apresentação formal pré-COP e a implementação começa após a conferência”, disse o executivo.

A coalizão, que conta ainda com empresas globais como ExxonMobil, Santander, Air Liquide e Nucor, ainda não divulgou cronograma para implementar as mudanças discutidas entre os membros.

A Vale também integra a iniciativa C.A.S.E. (Climate Action Solutions & Engagement), lançada em agosto para colocar holofotes sobre soluções sustentáveis já implementadas por empresas brasileiras e que mostrem potencial de serem replicadas internacionalmente. Além da Vale, participam Bradesco, Itaúsa, Itaú Unibanco, Marcopolo, Natura e Nestlé.

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