Para a Natura, COP30 é também oportunidade para expressar seu modelo de negócio

Presença de stakeholders como investidores em Belém será chance rara de reforçar tese de sustentabilidade como fonte de inovação, disseram Angela Pinhati, diretora de Sustentabilidade, e Paulo Dallari, diretor de Reputação e Governo da Natura

Por

Bloomberg Línea — A Natura tem ampliado seu laboratório de pesquisa na Amazônia a pouco mais de dois meses da COP30. O centro de inovação do Ecoparque – polo industrial da companhia localizado a 35 km de Belém, no Pará – vai terá um aumento de área e alcançar 2 mil metros quadrados.

O espaço é um dos ambientes em que a empresa pretende receber investidores, executivos e demais stakeholders durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que ocorre em novembro na capital paraense.

O plano é montar uma espécie de roteiro turístico da bioeconomia e apresentar diversos elos da cadeia produtiva da empresa: das comunidades parceiras, que cultivam e beneficiam os ingredientes amazônicos presentes nos produtos, até a fábrica, focada na produção de sabonetes em barra e na pesquisa dos benefícios dos ativos da região.

Leia mais: ‘Vale do Silício da biodiversidade’: o sonho grande da Votorantim no Vale do Ribeira

“É difícil explicar para as pessoas que, para nós, a sustentabilidade é o próprio negócio. Portanto, uma das ações que faremos na COP é trazê-las para visitar [a cadeira de negócios na Amazônia]”, afirmou Angela Pinhati, diretora de Sustentabilidade da Natura.

“[O objetivo é] deixar o mais claro possível para investidores e outras empresas que isso é fonte de inovação e diferenciação para nós”, disse.

A Natura iniciou sua trajetória na Amazônia há 25 anos com foco, inicialmente, em produtos com castanha do Pará. Atualmente a empresa utiliza 46 ingredientes amazônicos, que estão presentes em 50% do portfólio da marca.

Insumos como açaí, jambu, tucumã, murumuru, e priprioca são adquiridos de 45 comunidades e cooperativas parceiras, envolvendo 10.000 famílias.

A parceria comercial incentiva o extrativismo sustentável, em que árvores antes vendidas para o comércio madeireiro passam a gerar mais renda para as comunidades quando são mantidas de pé para fornecer insumos à empresa de cosméticos.

A Natura estima que sua rede de fornecimento contribui para a conservação de 2,2 milhões de hectares na Amazônia.

A empresa defende que as iniciativas de conservação da floresta e geração de renda para as comunidades locais não são vistas internamente como uma atitude filantrópica ou meta sustentável mas como parte do modelo logístico e comercial de compra de insumos.

“O modelo não só funciona como é escalável e traz resultados”, disse Paulo Dallari, diretor de Reputação e Governo da Natura.

O executivo reconheceu os desafios em nivelar as expectativas de curto prazo do mercado com o modelo da Natura, que buscar alinhar os resultados a compromissos com impacto socioambiental positivo.

Leia mais: Empresas buscam visibilidade a soluções climáticas do Brasil às vésperas da COP30

“A cada três meses, nós temos que explicar para os investidores por que tomamos decisões que talvez não sejam as decisões mais comuns no mercado – são ousadas, inovadoras, difíceis. Não tomamos, necessariamente, o caminho mais rápido", completou.

A COP30, por sua vez, serviria como palco para reforçar a estratégia da Natura, em uma oportunidade de mostrar o que tem sido feito aproveitando os holofotes para a economia sustentável.

“É um momento que catalisa, que pode potencializar a evolução e o desenvolvimento desse modelo de negócio. Nosso papel é mostrar para as pessoas como nós fazemos, e mostrar que é absolutamente possível replicar e escalar”, disse Dallari.

O objetivo é que a COP30 também possa servir como uma espécie de provocação para que outras empresas pensem em como incluir a floresta amazônica de forma sustentável em sua cadeia de negócios.

O executivo citou como exemplo a resina do breu branco, que, além de aromática, é utilizada pelas comunidades locais para a calafetação do fundo de barcos. Suas propriedades poderiam ser utilizadas em verniz pela indústria química.

É um paralelo com o que a Natura fez, por exemplo, com o tucumã. O laboratório da empresa estudou a fruta amazônica e constatou que ela estimula a produção de ácido hialurônico, que ajuda na elasticidade e firmeza da pele. Foi possível, assim, substituir o ingrediente sintético pelo natural em cremes e outros produtos.

Existe ainda a ambição de atrair outras companhias para iniciativas lideradas pela Natura, como o Mecanismo de Financiamento Amazônia Viva, que une crédito para safras e fundo filantrópico.

Leia mais: Brasil se tornou país chave em inovação na L’Oréal, diz presidente global em consumo

“Hoje, ele é um mecanismo muito dependente da Natura em termos de garantias. Poderia ser muito maior se tivesse outros fornecedores, como, por exemplo, bancos de desenvolvimento.”

A COP30 deve ser ainda um espaço de debate no setor privado. A Natura faz parte da iniciativa C.A.S.E. (Climate Action Solutions & Engagement) lançada em agosto junto com Bradesco, Itaúsa, Itaú Unibanco, Nestlé e Vale de olho na conferência.

O objetivo é ampliar o protagonismo do Brasil na agenda climática global. Na COP30, a C.A.S.E terá um espaço dedicado a painéis, workshops e apresentações de casos concretos.

“A mudança de que o mundo precisa, em termos de crise climática, não é alcançada individualmente. Queremos fortalecer a causa nos unindo a outras empresas”, resumiu Dallari.

Leia também

Natura sobe ambição de metas ESG até 2050 e quer gerar mais valor com seu negócio

T. Rowe Price lança fundo de ‘blue bonds’ com apoio de herdeiro do Walmart

FS, de biocombustíveis, avança com plano de captura de carbono do etanol do Brasil