Bloomberg Línea — A Lockton, maior corretora de seguros de capital fechado do mundo, enxerga o Brasil como uma das principais alavancas de crescimento global nos próximos anos, depois de registrar resultados recordes no país e crescer 600% em cinco anos, de acordo com executivos que lideram a operação local.
A subsidiária brasileira ultrapassou R$ 4 bilhões em prêmios administrados no ano fiscal encerrado em abril de 2025, um avanço de 23,4% em relação ao período anterior, mesmo diante de um cenário de desaceleração econômica e taxas de juros elevadas.
Com crescimento de receita de cerca de 10% e desempenho acima da média global, o Brasil se consolidou como a terceira maior operação da Lockton fora dos Estados Unidos, seu país-sede, atrás de Reino Unido e México.
Segundo José Otávio Sampaio, co-CEO da Lockton Brasil ao lado de Eduardo Lucena, a operação brasileira tem mantido um histórico de expansão orgânica superior a dois dígitos ao ano, impulsionado pela demanda de clientes corporativos e pela capacidade de atrair talentos.
“Nosso direcionamento é ter o cliente como foco, apoiado por boas pessoas, por talentos. Dessa forma, acreditamos que conseguimos atingir dois dígitos como a missão de crescimento dos próximos dez anos”, disse Sampaio, em entrevista à Bloomberg Línea na sede da empresa em São Paulo.
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Com uma equipe com cerca de 600 pessoas no país, a Lockton tem foco principalmente em clientes corporativos e atende 51 das 100 maiores companhias listadas no Ibovespa, segundo o executivo.
A empresa atua fortemente em empresas dos setores de mineração, energia, infraestrutura – incluindo rodovias e portos –, além de alimentos e bebidas.
As receitas são divididas entre a área de seguros de vida e saúde, chamada de People Solutions, e o segmento de riscos corporativos (Risk Solution), que envolve seguros de propriedade, linhas financeiras, transporte, garantias, cibersegurança, entre outros.
Segundo os executivos, 37% do faturamento vem da área de People Solution, e o restante, 63%, tem origem nos negócios de Risk Solution e resseguros.
“Gostamos realmente dos riscos grandes e complexos. Porque é nessa frente que a Lockton aporta conhecimento”, disse o co-CEO Eduardo Lucena. “É o risco difícil de colocar no mercado, em que a empresa vai precisar de estruturas lá de fora, resseguro.”
Expansão no Brasil e na América Latina
A estratégia da Lockton para a América Latina começou a ganhar corpo em 2020, quando a empresa montou um time baseado em Miami dedicado para liderar a expansão na região.
Em 2023, a empresa comprou a THB Brasil, uma empresa do grupo americano Amwins. A equipe local, incluindo Eduardo Lucena, que comandava a THB Brasil, se juntou à Lockton para acelerar a expansão.
“A posição do Brasil, se você for comparar com o que era há cinco anos, é seis vezes maior”, disse Sampaio.
Além do Brasil e do México, a empresa também tem presença em outros países da região, como Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Uruguai. No mundo, a empresa atua em 125 países, com 10.000 funcionários, e tem uma receita anual de US$ 4 bilhões.
Para crescer no Brasil, a empresa se apoia em uma estratégia que combina o aumento da equipe, a adoção de soluções de inteligência artificial para aprimorar a análise de risco nos serviços para os cliente e também a oferta de novos produtos.
Seguro para riscos climáticos
Um dos novos produtos em que a empresa vê potencial são seguros paramétricos, que são aqueles que podem ser acionados quando um aspecto da operação ou do entorno da empresa atinge determinado parâmetro, como alterações do clima, cada vez mais frequentes diante do aquecimento global.
Um exemplo é uma rodovia afetada quando o calor ou a chuva excedem certas condições, uma operação do agronegócio sob impacto de uma condição extrema de geada ou uma barragem quando atinge um nível considerado de maior risco.
“Para esse seguro paramétrico, é preciso fazer toda a modelagem, com sistemas, utilização de satélites, para conseguir trabalhar com mais bases de dados. É realmente um trabalho de aportar inteligência”, disse Lucena.
Segundo Sampaio, esse é um tipo de seguro que já é disseminado em outras regiões, incluindo como proteção contra catástrofes, e que começa a ganhar mais espaço no Brasil, influenciado também pelos efeitos das mudanças climáticas.
“Ele ainda é uma parte pequena do nosso faturamento, mas vemos que tem um futuro muito grande. É uma das apostas na América Latina toda, não só no Brasil. E do grupo também”, afirmou o executivo.
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Os líderes da operação brasileira veem espaço para crescer também no segmento de infraestrutura, apoiados pelo número crescente de projetos no país com leilões nas áreas de saneamento e transporte.
Um dos projetos recentes apoiados pela Lockton foi o Trem Intercidades (TIC), do governo de São Paulo, para ligar a capital paulista e Campinas por uma nova linha de trem de passageiros, cujo leilão foi vencido por um consórcio entre a brasileira Comporte e a chinesa CRRC.
Impacto de custos médicos
Na área de saúde, a empresa vê potencial para crescimento oferecendo serviços aos clientes para reduzir os impactos do aumento dos custos médicos. No total, a base de pessoas seguradas de clientes da empresa é de 1,6 milhão.
Segundo Sampaio e Lucena, esse esforço, que envolve também as seguradoras, passa pela adoção de programas de prevenção e orientação do uso do seguro e também por investimentos em tecnologia.
Isso tem permitido avaliar a utilização do seguro e desenvolver modelos preditivos para mudar o comportamento das pessoas, além de evitar abusos ou mesmo fraudes.
Segundo Lucena, as iniciativas geraram uma redução de até 30% na sinistralidade para os clientes que fazem parte de programas da empresa.
Olhando para frente, a prioridade é seguir o crescimento orgânico, apoiado pela atração de talentos, e manter o ritmo de expansão dos últimos anos.
Recentemente, a operação brasileira ganhou o reforço de novos executivos para liderar áreas estratégicas. Gisele Christo passou a comandar a diretoria comercial, enquanto Laura Laragnoit assumiu a diretoria de garantia e Willians Carlos da Cruz se tornou líder da diretoria executiva de sinistros.
José Sampaio, co-CEO, disse descartar no momento outras fusões e aquisições no Brasil, mas que a empresa está sempre atenta a oportunidades.
Nesse aspecto, ele afirmou que o fato de a empresa ter capital fechado é uma vantagem, pois permite tomar decisões rápidas e fazer investimentos em pessoas e em tecnologia, sem a pressão de curto prazo para alcançar as metas trimestrais.
“Nossa ambição não é só o crescimento. É criar uma base de clientes através de nossos canais, dos nossos funcionários, e poder crescer a partir disso e trazer as melhores práticas globais”, disse.
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