Bloomberg Línea — O Brasil reúne três características que o tornam uma potência para startups climáticas. O país tem uma matriz elétrica 88,2% renovável, alto grau de biodiversidade e é o destino principal para o capital de venture capital na América Latina. Ainda assim, tanto o país quanto a região estão aquém das expectativas na atração de capital para as climatechs.
A América Latina como um todo captou apenas 0,8% dos US$ 92 bilhões investidos globalmente em climatechs em 2024, o equivalente a US$ 743 milhões para a região.
O diagnóstico consta do relatório “Unlocking Brazil’s Climate Tech Potential”, lançado durante a COP 30 pelo Fórum Brasileiro das Climatechs e Climate Ventures, com apoio da agência alemã GIZ.
“Ainda não temos a granularidade de estimar os investimentos em climatechs no Brasil, mas podemos dizer que é um potencial grande. Por outro lado, estamos atrás de México, por exemplo. Estamos atrasados no fortalecimento do ecossistema, que segue muito fragmentado”, afirmou Zé Gustavo, diretor executivo do Fórum Brasileiro das Climatechs, em entrevista à Bloomberg Línea.
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Das 18.000 startups mapeadas pelo Sebrae, cerca de 14% atuam em segmentos ligados à transição verde, de agronegócio sustentável à gestão de resíduos. No entanto, a avaliação do fórum é que o país ainda carece de financiamento adequado e de políticas que tratem a inovação climática como estratégia de desenvolvimento.
Segundo o estudo, um dos principais gargalos está no financiamento. Enquanto os fundos de venture capital tradicionais buscam um pipeline de resultados relativamente mais rápidos, as climatechs do país, em sua maioria, ainda estão em estado de financiamento early stage e precisam de financiamento com um maior horizonte de tempo.
“São negócios que precisam de um ecossistema muito forte para ser capaz de alcançar um estado de maturidade para acessar financiamento via venture capital ou private equity”, defendeu Ana Himmelstein, diretora executiva do Fórum, no evento de lançamento do estudo realizado na segunda-feira (18), durante a COP30.
Propostas para destravar o setor
O estudo propõe a criação de hubs que conectem startups a capital filantrópico e de mercado para negócios de diferentes estágios de maturidade. A ideia é ampliar mecanismos de blended finance, combinando recursos públicos e privados para reduzir o risco que afasta os investidores tradicionais de soluções com ciclos mais longos de validação.
O governo avançou com programas como o Nova Indústria Brasil, que prevê R$ 300 bilhões até 2026 em investimentos para eixos que incluem agricultura sustentável, transformação digital e bioeconomia. O relatório aponta, no entanto, que faltam mecanismos que aproximem essas políticas do ecossistema de startups.
O relatório aponta a necessidade de ambientes de teste regulatório e compras públicas que acelerem a adoção de tecnologias desenvolvidas por empreendedores locais.
Uma das saídas possíveis seria a criação de sandboxes regulatórios em setores críticos, como energia, saneamento e agricultura, para acelerar testes de novas tecnologias.
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