Empresas podem reduzir aquecimento global em 0,5°C, aponta estudo do B Lab

Em entrevista à Bloomberg Línea, Cinthia Gherardi, co-CEO do Sistema B Brasil, responsável pela certificação B Corp, diz que líderes e empresas precisam colocar impacto ambiental positivo no centro da estratégia e dos indicadores de performance

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Bloomberg Línea — O B Lab, organização global de certificação de negócios de impacto socioambiental que criou o respeitado selo Empresas B (B Corp), calculou o potencial de redução da temperatura global caso empresas de todo o mundo adotassem e aprofundassem suas práticas sustentáveis.

Segundo estudo que será divulgado nesta segunda-feira (10), ao qual a Bloomberg Línea teve acesso em primeira mão, se todas as empresas do mundo adotassem critérios semelhantes aos das Empresas B, seria possível reduzir o aquecimento global em 0,5°C até o final deste século.

Isso evitaria cerca de 600 mil mortes por calor extremo e diminuiria o risco de extinção de espécies terrestres em 4%, e das espécies marinhas, em 2%.

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O estudo é divulgado no primeiro dia da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP30), com o objetivo de conscientizar as empresas sobre seu impacto na emergência ambiental, além de inspirar seus líderes a repensarem os modelos de negócio.

“Acreditamos que a crise climática é, antes de tudo, uma crise de governança. E é justamente aí que queremos atuar: convocando líderes empresariais a repensarem seus modelos de decisão”, afirmou Cinthia Gherardi, co-CEO do Sistema B Brasil, em entrevista à Bloomberg Línea.

Segundo o estudo, a maior contribuição para a queda de temperatura viria do aumento da eficiência energética dos prédios corporativos, que diminuiria o aquecimento global em 0,3°C até 2100 – 92% das Empresas B adotam estratégias de eficiência, contra apenas 27% dos negócios em geral.

Outro 0,1°C viria de melhor manejo de resíduos, seguido de 0,05°C de uso de transportes menos poluentes e outros 0,05°C do uso de energias renováveis.

As empresas com a certificação B Corp têm 2,1 vezes mais probabilidade de usar energia 100% renovável, segundo o estudo.

A estimativa foi feita com base no simulador de soluções climáticas En-ROADs, desenvolvida pela empresa de tecnologia Climate Interactive em parceria com a escola de administração do MIT e a companhia de dados Ventana System.

O simulador permite cruzar dados de impacto que dezenas de iniciativas sustentáveis – como a eletrificação do transporte, a precificação do carbono e a melhoria das práticas agrícolas – têm sobre centenas de fatores de risco, como preços da energia, temperatura do planeta, qualidade do ar e elevação do nível do mar.

O estudo mostra, segundo Gherardi, que qualquer empresa pode avançar em direção a um modelo de negócios mais responsável e regenerativo.

“O mais urgente é inserir o impacto positivo no centro da estratégia, não como uma área isolada mas como parte da tomada de decisão e dos indicadores de performance”, afirmou.

Esta é a primeira edição do estudo com abordagem global. Os planos do B Lab envolvem transformá-lo em uma análise recorrente, com atualização anual, para acompanhar a evolução do impacto das Empresas B e o avanço da agenda de sustentabilidade corporativa no mundo.

Desafios de certificação

O selo de Empresas B - B Corp - se tornou uma das certificações mais reconhecidas do mundo em sustentabilidade.

O número global de “membros” subiu 27% entre 2024 e 2025, somando 10.253 empresas certificadas globalmente, das quais 345 no Brasil.

A brasileira mais conhecida do grupo é a Natura, que, em 2014, foi a primeira companhia aberta do mundo a conseguir a certificação.

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No começo deste ano, o B Lab enfrentou acusações de que algumas grandes corporações teriam conseguido obter o selo sem transformações estruturais reais, o que elevou preocupações com um suposto greenwashing.

Em resposta, o B Lab anunciou uma nova versão da certificação que entrará em vigor em 2026.

Uma das mudanças introduz a obrigatoriedade de requisitos mínimos obrigatórios em sete áreas de impacto como direitos humanos e meio ambiente – antes era possível obter uma pontuação mínima agregando todos os indicadores.

A certificação também passa a exigir verificação por auditoria independente de uma terceira parte, além de uma evolução contínua, dado que uma das principais críticas à certificação dizia respeito a uma possível estagnação das empresas certificadas na adoção de suas práticas ambientais.

Empresas maiores também serão submetidas a critérios mais rigorosos, especialmente nas cadeias de fornecimento e na transparência fiscal.

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