COP30: Governo lança plataforma para rastrear materiais reciclados da indústria

Ferramenta expande sistema que já certificou cerca de 50.000 toneladas de plástico para incluir alumínio, vidro, papel e tecidos; anúncio será realizado durante a cúpula do clima em Belém

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Bloomberg Línea — O governo brasileiro vai anunciar durante a COP30, que começa nesta segunda-feira (10) em Belém, uma plataforma nacional de rastreamento e certificação de materiais reciclados.

A iniciativa expande um sistema já utilizado para plásticos para abranger outros materiais, como alumínio, vidro, papel e tecidos.

Liderada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), a plataforma faz o rastreio por meio de notas fiscais eletrônicas, além de verificação independente.

E leva em conta a experiência do Recircula Brasil, programa desenvolvido pela ABDI em parceria com a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast).

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Em um ano e meio de operação, o sistema rastreou e certificou cerca de 50.000 toneladas de plástico reciclado de mais de 300 fornecedores, destinadas aos setores alimentício e de bebidas, construção civil e eletroeletrônicos.

“Para a empresa, comprar material reciclado e certificado é transformar compliance em vantagem competitiva”, afirmou Ricardo Cappelli, presidente da ABDI, em entrevista à Bloomberg Línea.

“Primeiro, porque antecipa exigências regulatórias. Um exemplo é o decreto do Plásticos, publicado pelo governo no mês passado, que estabelece metas de recuperação e de conteúdo reciclado; e também porque a comprovação por NF-e, rastreabilidade e verificação independente reduz o risco de passivos e de greenwashing e facilita a prestação de contas ESG.”

O presidente da ABDI apontou que os produtos feitos com conteúdo reciclado geralmente têm uma pegada de carbono menor do que os materiais “virgens”. Isso porque eles já incorporam custos ambientais, como emissões, poluição e descarte, que muitas vezes ficam invisíveis no preço final.

Além da Abiplast, há conversas avançadas com organizações como Abividro (vidro), Abal (alumínio) e Abit (têxteis). As tratativas estão na fase final de ajustes com a Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel) e a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).

O anúncio oficial será feito durante a COP30 pelo vice-presidente do Brasil e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, e por Cappelli.

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Potencial de 27 milhões de toneladas

A expectativa da ABDI é ampliar rapidamente o alcance da plataforma com a inclusão de novas indústrias. Segundo dados da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), a geração anual de resíduos sólidos urbanos no Brasil é de cerca de 80 milhões de toneladas.

Considerando a fração de 33,6% de recicláveis secos prevista no Plano Nacional de Resíduos Sólidos, isso representa um potencial de cerca de 27 milhões de toneladas por ano aptas à verificação na plataforma.

“A demanda já aparece com força nas cadeias exportadoras, em que o conteúdo reciclado e a intensidade carbônica certificada abrem portas em mercados com barreiras ambientais”, disse Cappelli.

“No alumínio, por exemplo, a certificação de intensidade carbônica e circularidade tem sido decisiva para atender critérios do CBAM [Mecanismo de Ajuste de Fronteira de Carbono, na sigla em inglês]”, apontou.

A ABDI calcula que, na primeira fase do Recircula, as metodologias e as tecnologias usadas já permitiram verificar e auditar cerca de 5 milhões de toneladas, de 300 fornecedores, de 11 estados diferentes, incluindo mais de 1 milhão de toneladas de plásticos.

Atualmente, mais de 1.500 empresas participam do programa.

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