Bloomberg — A menos de três meses de sediar a cúpula do clima COP30 das Nações Unidas, o Brasil está acelerando seus esforços para criar um fundo de US$ 125 bilhões para financiar a conservação florestal em todo o mundo.
Na sexta-feira (22), o Brasil obteve o apoio formal de outros países amazônicos, após o anúncio de mudanças na estrutura do fundo.
A iniciativa, conhecida como Tropical Forest Forever Facility (TFFF), visa financiar a proteção das florestas tropicais por meio de retornos de investimentos em ativos de renda fixa de alto rendimento.
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A iniciativa busca garantir financiamento de longo prazo para até 74 países em desenvolvimento para conter o desmatamento, além dos tradicionais subsídios e programas de crédito de carbono, que até agora se mostraram insuficientes.
O fundo garantiu o apoio da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) durante sua cúpula, realizada em Bogotá na sexta-feira. Além do Brasil, o bloco inclui outros sete membros: Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.
Em uma declaração conjunta, os países anunciaram que apoiam o lançamento do fundo durante a COP30, a ser realizada em Belém, e incentivaram “países investidores em potencial, organizações multilaterais, bancos de desenvolvimento, fundos climáticos, agências de cooperação internacional, filantropia e o setor privado a anunciarem contribuições ambiciosas e concretas para a capitalização do TFFF”.
Uma proposta atualizada, divulgada na quinta-feira, nomeia o Banco Mundial como a instituição “prospectiva” que forneceria serviços administrativos e de gestão.
O banco já está prestando assistência técnica ao projeto. Para que assuma funções mais específicas, será necessária uma revisão interna, inclusive pelo conselho do banco.
Um funcionário envolvido no planejamento do TFFF disse a um jornal brasileiro que a crise diplomática entre o Brasil e os EUA poderia levar o governo Trump a se opor à participação do Banco Mundial.
Outra mudança inclui a criação de um conselho consultivo com representantes de comunidades indígenas e locais, que deve receber pelo menos 20% dos recursos, de acordo com as regras do TFFF.
As novas regras propostas também abordam o risco de aumento da perda de vegetação em áreas não florestadas, como savanas.
Agora, os países participantes enfrentarão a suspensão dos pagamentos caso o desmatamento não seja abordado em todos os tipos de vegetação primária.
De acordo com Carlos Rittl, diretor de políticas públicas, florestas e mudanças climáticas da World Conservation Society, as linhas gerais do projeto não mudaram.
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Ele disse que os principais avanços são o maior papel das comunidades indígenas e locais, mais detalhes sobre governança e um veto claro ao investimento do fundo em combustíveis fósseis.
Rittl, que colaborou na sua concepção, afirmou que a expectativa é que o fundo desembolse os primeiros pagamentos em 2027.
“O fundo não é uma panaceia. Os custos para financiar o desenvolvimento com redução de emissões, adaptação e proteção da biodiversidade chegam a trilhões de dólares por ano”, afirmou.
Mas o fundo será um recurso importante, acrescentou: “Imagine o impacto na bacia do Congo, que recebe hoje menos de 10% do financiamento mundial para a proteção florestal.”
O Brasil está solicitando aos países desenvolvidos que ofereçam empréstimos de baixo custo, com prazo de 40 anos, e garantias de US$ 25 bilhões para a criação do fundo.
Nenhum país comprometeu recursos até o momento, mas França, Alemanha, Noruega, Reino Unido, Emirados Árabes Unidos e, até recentemente, os EUA estiveram envolvidos na sua concepção.
O plano tem sido criticado por vincular a conservação florestal a mercados financeiros imprevisíveis e por aplicar uma abordagem orientada ao lucro, o que contribuiu para colocar esses ecossistemas em risco.
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As florestas são sumidouros de carbono cruciais para desacelerar as mudanças climáticas. Cerca de 30% das emissões de carbono acabam em plantas, árvores e solo.
A Floresta Amazônica, que ocupa uma área aproximadamente duas vezes maior que a Índia, armazena o equivalente a quase dois anos de emissões globais de carbono, de acordo com um estudo. Esse papel, no entanto, está cada vez mais ameaçado devido ao desmatamento e ao aumento de incêndios florestais, alimentados em parte pelo aquecimento global.
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