Bloomberg — A ameaça de Donald Trump de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros derrubou a moeda do país, enquanto o líder dos EUA intensificava drasticamente uma disputa com a maior nação da América Latina e o líder de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva.
Em uma carta publicada em sua conta de mídia social, Trump disse que estava fazendo a alteração “devido em parte aos ataques insidiosos do Brasil às Eleições Livres e aos direitos fundamentais de Livre Expressão dos americanos.”
O real brasileiro caiu até 2,9% em relação ao dólar americano após o anúncio, enquanto o ETF iShares MSCI Brazil com US$ 5,35 bilhões em patrimônio — o maior fundo negociado em bolsa dos EUA que acompanha as ações do país — recuou até 1,9% no after market.
O Brasil estava prestes a enfrentar a alíquota mínima de 10% sob as chamadas tarifas “recíprocas” que Trump havia anunciado originalmente em abril.
Leia mais: Trump diz que vai impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir de agosto
A carta foi a mais recente de mais de 20 notificações publicadas por Trump nos últimos dias, a primeira revisão significativa para cima das taxas já anunciadas anteriormente, e a primeira enviada a um país que ainda não havia sido alvo de aumento — sugerindo frustração particular por parte de Trump.
Uma tarifa tão alta poderia causar danos significativos a algumas indústrias brasileiras.
“Produtos de aço, equipamentos de transporte (principalmente aeronaves e peças de aeronaves), máquinas especializadas (como equipamento de engenharia civil) e minerais não metálicos correspondem a uma parte significativa das exportações brasileiras para os EUA”, disse Felipe Arslan, CEO da Morada Capital.
Os ADRs da fabricante de aviões Embraer caíram até 9% no after hours com a notícia.
Em um evento mais cedo na Casa Branca, Trump reclamou que o Brasil “não tem sido bom para nós.”
Sua decisão em relação ao Brasil, disse Trump, foi “baseada em fatos muito, muito substanciais, e também no histórico anterior.”
O anúncio veio apenas dias depois de Trump ameaçar impor tarifas adicionais a membros do bloco BRICS de países emergentes, por causa de suas supostas “políticas antiamericanas”, durante a cúpula dos líderes do grupo no Rio de Janeiro.
Leia mais: Ativos brasileiros caem no exterior em reação a tarifas de 50% anunciadas por Trump
Já na declaração oficial, os líderes dos BRICS recebidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticaram políticas tarifárias “distorcivas” e ataques militares ao Irã, movimentos que os colocaram em atrito com Trump, mesmo à distância de desafios diretos aos EUA.
Após mencionar pouco o Brasil durante os meses iniciais de seu mandato, Trump também saiu em defesa de Jair Bolsonaro na segunda-feira (7), acusando a nação sul-americana de perseguir politicamente o ex-presidente de direita, que enfrenta julgamento iminente por acusações de tentativa de golpe.
Na carta, Trump reiterou seu pedido às autoridades para que retirem as acusações contra Bolsonaro pela suposta tentativa de golpe.
“Esse julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça de bruxas que deveria terminar IMEDIATAMENTE!”, escreveu Trump.
Lula contra-atacou ao final da cúpula do BRICS na segunda-feira, dizendo a Trump para cuidar da vida dele em relação aos assuntos brasileiros e chamando o líder americano de “irresponsável por ameaçar tarifas nas redes sociais.”
Ele também instou os líderes mundiais a encontrar formas de reduzir a dependência do comércio internacional em relação ao dólar.
Um porta-voz do Supremo Tribunal Federal (STF), que supervisiona o julgamento de Bolsonaro, se recusou a comentar.
Nesta quarta-feira mais cedo, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil convocou o principal representante dos EUA no país para uma reunião para explicar as declarações de Trump sobre Bolsonaro.
O Brasil se destaca entre os alvos tarifários mais recentes de Trump porque, diferentemente da maioria, opera com déficit comercial em relação aos EUA, enquanto quase todos os outros registram grandes superávits.
Em 2024, o Brasil importou cerca de US$ 44 bilhões em produtos americanos, enquanto as compras dos EUA de mercadorias brasileiras ficaram em torno de US$ 42 bilhões, segundo o Census Bureau.
O Brasil está entre os 20 maiores parceiros comerciais dos EUA.
Dos outros sete países mencionados nos anúncios de Trump nesta quarta-feira, apenas as Filipinas — que enviaram cerca de US$ 14,1 bilhões em produtos para os EUA no ano passado — figuram entre os 50 maiores.
As importações dos outros seis países totalizaram menos de US$ 15 bilhões no ano passado, com o Iraque — exportador de petróleo bruto — respondendo por cerca de metade dessa soma.
Antes do anúncio, o vice-presidente Geraldo Alckmin disse que não via razão para aumento de tarifas devido ao superávit dos EUA.
“Qualquer medida desse tipo voltada ao Brasil seria injusta e na verdade prejudicaria a economia dos EUA”, disse Alckmin, que também exerce o cargo de ministro da Indústria e Comércio.
Ele acrescentou que o Brasil não “mudar[á] nosso tom” enquanto continuar as negociações sobre tarifas do aço e outros impostos.
Mais cedo nesta semana, Trump manteve a tarifa inicial sobre a África do Sul, outro membro do bloco BRICS.
O bloco também inclui os membros originais Rússia, Índia e China, junto com novos Etiópia, Egito, Irã, Indonésia e Emirados Árabes Unidos.
Veja mais em Bloomberg.com