Bloomberg — A adoção de estímulos pelo governo, combinada à desaceleração insuficiente da economia brasileira e aos acordos comerciais que reduzem o risco de recessão nos Estados Unidos, sugere que o Banco Central deverá promover um novo aumento da taxa Selic em junho, segundo Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Asset Management do Brasil.
“No cenário daqui à próxima reunião do Copom, não vejo elementos para o BC parar de subir o juro”, disse Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Asset, que tem R$ 7,9 bilhões sob gestão no país e US$ 718 bilhões globalmente.
Ela prevê que o BC deverá promover em junho um último aumento de 0,25 ponto percentual, para 15%, com a possível novidade de um dissenso no placar da decisão, que mostraria uma maioria em favor da alta e uma minoria pró-estabilidade.
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Marcela cita as notícias sobre possíveis novas medidas de estímulo do governo, como o crédito para entregadores de aplicativos, e medidas já adotadas, como as novas regras que facilitam o acesso ao crédito consignado para os trabalhadores do setor privado, que vão contra a direção da política monetária, que seria de desacelerar a economia.
As medidas “reforçam que o governo vai usar todos as ferramentas para estimular a demanda”, afirma ela.
Em meio à queda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo estuda medidas como a ampliação do Vale Gás e uma linha de crédito mais barato para motoristas que trabalham em aplicativos de entrega, de acordo com várias pessoas com conhecimento da situação que pediram anonimato para discutir assuntos internos.
Os analistas do mercado consideram que estas medidas podem estimular o consumo e dificultar a queda da inflação. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou que o governo esteja trabalhando em medidas com o objetivo de melhorar a popularidade de Lula.
Além de nova alta da Selic, Marcela conta com um “comunicado forte” do Copom em junho, com sinalização de juro inalterado por período prolongado.
Atualmente, a curva de juros futuros projeta alta de pouco menos de 10 pontos básicos da taxa em junho.
A fala de segunda-feira (19) do presidente do BC, Gabriel Galípolo, embora tenha focado em juros altos por mais tempo, ainda não fechou a porta para outro ajuste de 0,25pp, segundo a economista.
Marcela observa que as expectativas de inflação continuam desancoradas e a atividade econômica segue forte, com o efeito dos juros altos contrabalançado pelos estímulos.
O IBC-Br, índice de atividade considerado uma prévia mensal do PIB, mostrou crescimento de 0,80% em março sobre fevereiro, o dobro do esperado.
Menor risco nos EUA
O recente acordo comercial entre os EUA e a China levou a uma forte recuperação das bolsas globais, enquanto a moeda americana voltou a ganhar força, o que é um complicador adicional para o BC brasileiro reduzir as expectativas inflacionárias e encerrar o aperto dos juros. A Principal Asset prevê um dólar a R$ 5,90 no fim do ano.
“Com a trégua entre EUA e China, o risco de recessão diminuiu”, disse a economista.
Marcela afirmou que está propensa a revisar o PIB brasileiro deste ano, de 2,1% para 2,3%, diante da melhora externa, embora ainda vá esperar a divulgação do PIB brasileiro do primeiro trimestre para bater o martelo.
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