Bloomberg Línea — A imposição de uma tarifa de 50% sobre importações do Brasil pelo presidente americano Donald Trump poderia ter um impacto de 0,3 a 0,4 ponto no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, de acordo com os cálculos iniciais do Goldman Sachs.
A estimativa, que não leva em conta nenhuma grande retaliação por parte do Brasil, indica que a atividade econômica brasileira pode ser prejudicada em um momento em que já se espera uma desaceleração do PIB.
“Nossas estimativas sugerem que, caso sejam duradouras e não enfrentem retaliações significativas, esses tarifas podem ter um impacto negativo de 0,3 a 0,4 ponto percentual do PIB (dos quais cerca de 0,1 ponto já estava incluído em nosso cenário base)”, diz o diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina, Alberto Ramos, em relatório divulgado na noite de quarta-feira (9).
“Retaliações gerariam um impacto negativo maior sobre a atividade econômica brasileira e sobre a inflação”, completou o economista, ressaltando que ainda não estava claro como e se o Brasil adotaria tais medidas.
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Ramos diz ainda que espera que os exportadores brasileiros pressionem o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a evitar uma escalada das tensões e buscar uma negociação.
O presidente brasileiro reagiu à carta de Trump e ao anúncio das tarifas de 50% com uma nota em rede social - na X (ex-Twitter) - em que reafirma a soberania do Brasil e diz que, se as medidas forem confirmadas, o governo vai responder com base na lei de reciprocidade aprovada pelo Congresso e sancionada por ele em abril.
Segundo o cálculo do banco de Wall Street, a medida do governo Trump, se de fato for colocada em prática, pode levar a um aumento de 35,5 pontos percentuais na tarifa de importação efetiva cobrada de produtos brasileiros.
A cifra leva em conta as tarifas já anunciadas e a imposição de novas tarifas setoriais, que o banco espera que entrem em vigor, como a tarifa de 50% sobre cobre e de 25% sobre produtos farmacêuticos, semicondutores, minerais críticos e produtos de madeira, previstas para o terceiro trimestre de 2025.
Trata-se do maior aumento de tarifas entre as grandes economias da América Latina afetadas pelas medidas de Trump.
Considerando tarifas já em vigor e anunciadas, o banco estima que o Chile deve ter um aumento de 26,3 pontos percentuais, seguido do Peru (14,4 p.p.), da Argentina (10,8 p.p.), do México (9,7 p.p.), da Colômbia (6,7 p.p.) e do Equador (5,7 p.p.).
O economista do Goldman Sachs ressalta que as exportações do Brasil para os Estados Unidos sujeitas às tarifas equivalem a US$ 42,7 bilhões, o que representa cerca de 2% do PIB brasileiro e 12,6% do total das vendas ao exterior.
Variação na Tarifa Efetiva por País, por Pacote Tarifário (em pontos percentuais)
Aço e Alumínio (50%) | 3,9 | 4,1 | 0,2 | 2,3 | 0,4 | 2,9 | 0,1 |
Veículos e Peças (25%) | 0,1 | 0,7 | 0,7 | 0,2 | 0,1 | 3,8 | 0,2 |
Reciprocidade (10%; Brasil 50%) | 3,9 | 29,1 | 4,8 | 4,2 | 5,0 | - | 7,1 |
Setorial (25%) | 2,9 | 1,6 | 20,7 | 0,1 | 0,3 | 0,9 | 7,1 |
México-Canadá (25%) | - | - | - | - | - | 2,2 | - |
Total | 10,8 | 35,5 | 26,3 | 6,7 | 5,7 | 9,7 | 14,4 |
Fonte: Goldman Sachs Global Investment Research (com dados de USITC, Federal Register e Casa Branca)
Ameaça ao governo brasileiro
A imposição da tarifa de 50% foi anunciada pelo presidente americano na quarta-feira (9) por meio de post em sua rede, a Truth Social, que incluiu informações sobre tarifas a outros países. O aumento entraria em vigor a partir de 1º de agosto de 2025.
Trump também enviou uma carta aberta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em que comunica as tarifas de 50% e expõe as razões que o levaram a essa decisão.
Ele começa a carta citando o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de estado.
“A maneira como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma desgraça internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo”, escreve Trump, que usou o termo “caça às bruxas”.
Trump cita também medidas do Supremo Tribunal Federal (STF) que restringiu ou derrubou posts com conteúdo considerado ataque à democracia.
Segundo Alberto Ramos, do Goldman Sachs, a carta enviada ao Brasil “é a mais singular entre as que foram recentemente remetidas a diversos países”, justamente por não começar com uma caracterização geral das queixas comerciais bilaterais, mas com a menção ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
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