Meta fiscal tinha viés de mudar, agora é de manter por ora, diz Eurasia

Christopher Garman, diretor para as Américas da consultoria, diz à Bloomberg News que a hipótese de que a decisão poderá ser adiada para 2024 parece ganhar tração

Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas do Eurasia Group
Por Josue Leonel
13 de Novembro, 2023 | 04:23 PM

Bloomberg — A perspectiva sobre a meta fiscal do Brasil mudou recentemente e cresceu a chance de que seja mantida, segundo o Eurasia Group, uma das mais respeitadas consultorias de risco político do mundo.

“A meta tinha um viés de mudar. Agora, é de não mudar”, disse Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da consultoria, à Bloomberg News. A Eurasia vê como pouco acima de 50% a probabilidade de que o objetivo de zerar o déficit fiscal em 2024 seja mantido.

A hipótese de que a decisão poderá ser adiada para o ano que vem parece estar “ganhando mais tração”, diante da visão de que alterar a meta neste momento ampliaria a pressão por gastos, segundo Garman.

Postergar a solução daria tempo ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para aguardar que o Congresso aprove medidas que elevem a receita e para monitorar o desempenho da arrecadação de impostos. “A receita ainda pode salvar o dia”, afirmou.

PUBLICIDADE

Os aliados políticos do governo pressionam por uma mudança desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez reparos publicamente ao objetivo de zerar o déficit, no final de outubro. Investidores, mesmo já céticos sobre a viabilidade da meta, temem que uma mudança agora possa piorar ainda mais as expectativas sobre o resultado fiscal.

Se o governo alterar a meta haverá perda de credibilidade fiscal, disse Evandro Buccini, sócio e diretor de gestão de Crédito e Multimercado da Rio Bravo Investimentos. “As previsões de mercado já são as de um resultado pior do que a meta. Isso não quer dizer que não haverá reação caso o governo altere o objetivo.”

A economista-chefe da Principal Claritas, Marcela Rocha, disse que já espera uma mudança da meta para um déficit de 0,50% do PIB no próximo ano, um número que “ainda seria ambicioso”.

“O presidente tem baixa tolerância a restrições fiscais e isso é um sinal ruim para a equipe econômica”, disse Garman.

  

O diretor da Eurasia disse considerar que, caso a meta seja alterada em 2024, o governo poderá fazer uma “contenção de danos” ao optar por um déficit menor do que o resultado negativo já projetado pelo mercado na pesquisa Focus, equivalente a 0,8% do PIB.

Mesmo com os danos contidos, restará ao investidor a maior dúvida, que seria como Lula reagirá caso se confirme a queda de sua popularidade, que a Eurasia projeta para 2024, quando a economia deve crescer menos e não haverá mais o efeito benéfico da queda dos preços dos alimentos que ajudou o petista neste ano.

“A questão que ficará é como Lula irá reagir frente às dificuldades.”

PUBLICIDADE

Veja mais em bloomberg.com

Leia também

Brasil lança sua primeira oferta de títulos verdes para apoiar agenda ambiental

Verde Asset, de Luis Stuhlberger, amplia a aposta em juros no Brasil