Lula diz que tentará negociar com os EUA, mas sinaliza ‘plano B’ se não conseguir

Presidente brasileiro não descartou recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC), como a China fez no passado em guerra com os EUA, e também buscar novos parceiros, segundo declarações em entrevista à TV Record nesta quinta (10)

O presidente Luiz Inacio Lula da Silva deu entrevista à Record nesta quinta-feira (10) sobre a disputa com os EUA (Foto: Andressa Anholete/Bloomberg)
10 de Julho, 2025 | 08:29 PM

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Bloomberg Línea — O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva disse que tentará negociar com os Estados Unidos as tarifas de 50% anunciadas por Donald Trump antes de tomar medidas recíprocas. Ele disse que tem um trunfo na manga, caso não se chegue a um consenso.

“Talvez haja todo um processo que possamos seguir”, disse Lula em entrevista à TV Record nesta quinta-feira (10). “Se nada disso funcionar, teremos que usar a lei da reciprocidade.”

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Parte do “processo” que o Brasil poderia seguir depois que Trump anunciou uma tarifa de 50% é levar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC), como a China também fez quando a chamada “guerra comercial” com os Estados Unidos começou.

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“O que ele [Donald Trump] não pode fazer é achar que ele foi eleito para ser o xerife do mundo, ele foi eleito para ser presidente dos Estados Unidos (...) Aqui, no Brasil, quem manda somos nós, os brasileiros", acrescentou Lula.

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A disputa entre os dois líderes começou quando Trump pediu ao Brasil que “deixasse em paz” o ex-presidente Jair Bolsonaro, indiciado pela Justiça por uma suposta tentativa de golpe contra o estado em janeiro de 2023.

Mas há outro precedente relacionado às taxas de 50%: Trump ameaçou impor uma tarifa de 10% sobre os países que se alinhassem com as políticas dos Brics, bloco econômico e político do qual o Brasil faz parte, junto com emergentes como China - principal rival geopolítico e econômico dos EUA -, Rússia e Índia.

Nesse caso, Lula rejeitou a “interferência” dos EUA e disse: “Não queremos um imperador”, ao que Trump reagiu um dia depois com a ameaça de tarifas que não é apenas objeto de debate público no Brasil mas também na América Latina.

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Ásia: o trunfo de Lula na manga

Caso a tentativa de negociação com os Estados Unidos não seja bem-sucedida, Lula da Silva disse que tem um ás na manga: procurar novos parceiros comerciais na Ásia, além da China.

“Não abriremos mão da reciprocidade e, enquanto isso, buscaremos novos parceiros”, disse Lula na entrevista à Record.

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“Por exemplo, em outubro fui convidado para participar da reunião dos países asiáticos, a ASEAN, que é muito importante do ponto de vista econômico. Estou indo para lá para estabelecer alianças estratégicas“, acrescentou.

O convite a que Lula se referiu foi feito pela Malásia, embora essa não seja a primeira ponte recente que ele construiu com a Ásia. Na quarta-feira, por exemplo, ele teve uma reunião com o presidente da Indonésia, Prabowo Subianto.

Em 2024, o Brasil importou cerca de US$ 44 bilhões em produtos americanos, enquanto as importações americanas do Brasil foram de cerca de US$ 42 bilhões, de acordo com o Census Bureau. Entre as maiores economias do mundo, o Brasil é um dos poucos que têm déficit nas transações com os EUA.

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Carlos Cuevas

Comunicador social, jornalista e mestre em escrita criativa com mais de oito anos de experiência profissional. Ex-repórter no El Tiempo, ex-editor de fim de semana no Infobae Colômbia e ex-editor de notícias de última hora na Revista Semana.