IPCA de fevereiro indica processo desafiador de queda da inflação, dizem economistas

Para economistas, o resultado do indicador não deve alterar perspectivas de cortes de juros e o Banco Central (BC) deve continuar a reduzir a Selic em 0,5 ponto percentual

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13 de Março, 2024 | 12:39 PM

Bloomberg Línea — Para analistas e economistas, os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgados na terça-feira (12), não devem alterar a perspectiva de cortes de juros na Selic pelo Banco Central (BC).

Segundo Alexandre Maluf, economista do time de Macro da XP (XP), “a leitura do IPCA de fevereiro foi desfavorável”, mas o dado já estava dentro do esperado pelo mercado.

“Apesar da surpresa negativa nos serviços subjacentes (em função dos descontos em ‘cinema’), os principais indicadores aceleraram no indicador 3MSAAR, indicando um processo de desinflação desafiador em direção à meta. Nossa projeção para o IPCA de 2024 permanece em 3,5%, apoiada pela desinflação em componentes não cíclicos, relacionados a commodities. Por fim, consideramos esta leitura neutra para a política monetária”, disse. A XP espera que a taxa Selic atinja 9% este ano.

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O Itaú Unibanco (ITUB3; ITUB4) também acredita que a estratégia de corte de juros de 0,5 ponto percentual deve ser mantida nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

“No entanto, a evolução do cenário internacional (com redução do tamanho esperado do ciclo de corte de juros nos EUA), bem como a piora da dinâmica inflacionária doméstica na margem (com maior pressão em itens de serviços ligados ao desempenho do mercado de trabalho) devem limitar a queda de juros no Brasil”, afirmaram os analistas do banco.

Para o final deste ano, o banco espera que a Selic termine o ano em 9,25% ano a ano, ante previsão anterior de 9%.

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O UBS BB (UBS) afirma que o dado de fevereiro sobre a inflação veio acima da estimativa da instituição, que era de 0,77%, e do consenso, de 0,78%. No mês passado, o IPCA acelerou para 0,83%, de 0,42% em janeiro.

“A leitura mensal foi impulsionada pelo grupo sazonal de educação e pelo efeito dos impostos sobre combustíveis reintegrados. Em 12 meses, a inflação permaneceu estável, em 4,5% ao ano. As principais variações em relação à nossa previsão vieram dos preços regulados e das proteínas dentro do grupo de alimentos em casa. A inflação core, medida pela média dos 5 núcleos do BCB, estava de acordo com a nossa previsão, ambos em 0,50%, e desacelerou para 4,0% ao ano, de 4,2%. Mantemos nossa previsão de 3% para o final do ano, abaixo do consenso de 3,8%, com grandes surpresas negativas previstas para o 2T24″, disse o relatório.

Igor Cadilhac, economista do PicPay, mantém a projeção de inflação para 2024 em 3,7%. “Eventuais riscos de baixa seguem vindo principalmente (1) do bom contágio dos preços de bens sobre os demais, (2) do comportamento dos núcleos e sua inércia, e (3) do combate à inflação de forma sincronizada mundo afora. Do outro lado, temos monitorado (1) os aumentos salariais dado o baixo desemprego, os ganhos reais recentes e a regra do salário mínimo e (2) uma maior resiliência na inflação de serviços em função de um hiato do produto mais apertado”, afirmou.

Segundo relatório do Mitsubishi UFJ Financial Group (MUFG), “o principal fator de risco específico para a inflação é um cenário de condições climáticas mais extremas, aumentando a pressão sobre as culturas agrícolas e, especialmente, uma estação seca prolongada que reduza os níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas, aumentando assim a pressão sobre as tarifas de energia”.

“E de um risco mais amplo é uma política fiscal expansionista acentuada, com perda de sua credibilidade, levando a um Real muito mais fraco e a um impacto sobre a inflação”, disseram os economistas.

Na terça, o Boletim Focus do Banco Central (BC) atualizou a projeção do IPCA para 3,77%, ante 3,76% na semana anterior. A expectativa para a Selic, por sua vez, se manteve em 9%.

Tamires Vitorio

Jornalista formada pela FAPCOM, com experiência em mercados, economia, negócios e tecnologia. Foi repórter da EXAME e CNN e editora no Money Times.